CAPÍTULO VI - As atitudes vieram da dor, eu nem sempre fui assim

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❝Não é estranho?
Como as pessoas podem mudar
De estranhos a amigos
Amigos para apaixonados
E estranhos de novo❞

Strange, Celeste.

Praia Vagalume
Terça-feira — 05:35 a.m.
14.03.2022

MELISSA MCCARTNEY

MELISSA MCCARTNEY

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ALERTA GATILHO!

Sinto as pedras pontiagudas onde estou sentada tentarem penetrar minha pele. Ou provavelmente penetraram, não sei mais. Eu estou há tanto tempo sentada aqui que a dor não me afeta mais. Eu mereço isso. Por toda a merda que fiz e provavelmente continuo fazendo.

Por ter sido uma péssima filha e uma péssima amiga.

Por ter sido uma péssima pessoa no geral.

Eu tentei. Todos os dias. Eu juro que tentei todos os dias ser alguém melhor e deixar o que aconteceu para trás. Mas eu não consigo. É minha responsabilidade e eu sinto que ainda não arquei o suficiente com as consequências. Jamais vai ser suficiente. Eu vou envelhecer e eu vou continuar vindo no mesmo lugar todas as vezes que sentir que a culpa é minha, ou seja, sempre.

Eu acordei suada essa manhã. Tremia como se um terremoto tivesse se apossado do meu corpo e estava balançando toda a minha estrutura. Meu corpo estava arrepiado e meu coração batia mais rápido do que meus pulmões que tentavam capturar o oxigênio que eu tinha perdido sem perceber.

Foi aterrorizante.

Depois de anos conseguindo dormir o mais próximo de tranquila possível, essa é a primeira vez que tenho um sonho relacionado ao meu pai e o dia do acidente.

Sonho não, pesadelo.

Não teve nada de agradável para ter sido um sonho.

Foi bem ao contrário da sensação de agradável. Foi horrível. Péssimo.

Eu estava lutando pela minha própria vida de novo, me agarrando no último fio de esperança que ainda mantinha meu corpo vivo. Lutando com todas as forças para sair da água. As ondas me empurravam para todos os lados com toda a sua brutalidade, me impedindo de tentar nadar para qualquer direção. Me surpreende que no pesadelo eu ainda sei nadar. Faz tanto tempo que não entro na água que é uma boa questão se eu ainda tenho essa habilidade ou não.

Não tinha dó nem piedade nenhuma naqueles corpos de água enormes.

Eu não mereço nenhuma dó nem piedade.

É por isso que estou aqui agora.

Para me lembrar disso.

Não há dor física nesse mundo que se compare a dor que tomou conta do meu coração, intoxicando-o, me tornando incapaz de ter empatia por mim mesma ao ponto de decidir quando eu devo parar de me torturar.

Os Olhos do OceanoOnde histórias criam vida. Descubra agora