A Luz Tênue de Esperança

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Evan caminhava pelo vilarejo adormecido sob a luz cadavérica da lua sangrenta, com um sorriso inocente em seu rosto. Depois de anos distante, ele retornara para visitar seus pais, que não via há tempos. O céu parecia ainda mais estranho naquela noite, carregado de um pressentimento de terror e vazio. A medida que avançava, os passos de Evan eram acompanhados pelas sombras da noite.

Aproximando-se devagar das janelas que emitiam uma luz amarela, um calafrio enorme tomou conta do corpo de Evan ao testemunhar uma cena que seus olhos custavam a acreditar. Seu pai trajava uma roupa de plástico e segurava um machado, com sangue manchando suas mãos e roupas. Aos pés dele estava sua mãe, gravemente ferida, com um olhar triste que se despediu de Evan derramando sua última lágrima. O pai de Evan fitou-o com um olhar frio e desumano, já não era a mesma pessoa. Naquele momento, Evan soube que nunca mais os veria novamente da mesma forma. A culpa o consumiu por não ter chegado a tempo para evitar o pior.

Após o ocorrido, Evan perdeu-se pelas ruas da cidade, questionando-se sobre a existência de vida dentro de si e se tudo aquilo valia a pena. Ele sentia-se vazio, estranhamente alegre, mas ansiava por encontrar uma vida além daquele castigo. Nas noites vazias, ele buscava uma esperança, uma escuridão que o permitisse escapar do sofrimento de seu corpo e mente, que aos poucos se consumiam. Como um cadáver, ele não possuía força, cor ou aparência de vida. Tudo o que Evan possuía era um apreço pela dor, desejava senti-la e ansiava por encontrar um fim a esse desejo disfarçado de prazer.

Evan tornou-se um inimigo de tudo, perdido em um caminho sem felicidade. Suas fases oscilavam entre a depressão e o desconforto com o mundo ao seu redor. Ele possuía objetos cortantes com os quais produzia uma música em seu próprio corpo. O som dessas feridas era amargo, trazendo um conforto momentâneo que ele desejaria que durasse dias e noites.

Gostava de sair à noite, arriscar-se e sentir o vento frio em seu rosto, testemunhando o caos da escuridão e a perdição humana. Todos com almas solitárias aproveitavam esse momento para encontrar abrigo na solidão. Os bares estavam sempre cheios, e Evan tinha um favorito que frequentava eventualmente. Ele apreciava as luzes dos letreiros e o whisky barato que queimava em sua garganta.

No entanto, não era o lugar em si, mas a forma como toda a dor de Evan passou a fazer sentido ao longo do tempo, transformando-o em alguém sádico e sentimental. Ele entregou-se à vida de uma maneira simples, sem impulsos ou influências. Aprendera a encontrar conforto em seu próprio mundo, um mundo triste, e seguiu adiante sem perder a essência do sofrimento. Evan aprendeu a lidar com a fraqueza, transformando-a em sua maior aliada. Nos momentos em que a escuridão tomava conta, ele caminhava pelas ruas vazias com um cigarro queimando entre os dedos, o olhar pálido e a esperança de se encontrar novamente.

A vida nunca fora tão singular para Evan. Sentir a agonia da estranheza e do sofrimento parecia um momento eterno, o maior tesouro, a maior riqueza. Ao longo dos séculos, a sociedade procurou a vontade de viver além da vida, além de tudo o que era bom e novo. Sentir era o maior presente nessa terra sangrenta, nesse solo miserável, nesse povo desumano. Um mundo reprimido e detestado por todos, assim pensava.

Evan sentou-se ao lado de Ellen com seu copo na mão. Ficaram em silêncio por um tempo, até que ela disse calmamente: "Sinto sua dor, Evan. Sei que nada pode trazer de volta o que se perdeu. Mas ainda há vida dentro de ti, como nos velhos tempos em que brincávamos juntos".

Evan sentiu lágrimas surgirem em seus olhos, mas não de tristeza. Havia um leve conforto naquelas palavras simples. Pela primeira vez em muito tempo, uma luz tênue de esperança acendeu em seu coração somente pela presença reconfortante de quem conhecia seu verdadeiro eu. Será que havia espaço ainda para cura e renascimento em meio à escuridão?

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