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O sol começava a se por e com isso somente um caminho sobrava na mente de Cellbit: a ruela até as Casualonas. Havia se tornado parte da rotina conturbada do homem, a única parcela que sempre cumpria independente de qualquer imprevisto. Tudo isso porque ela o esperava.

Ela. Melissa, a mulher mais bonita da boate inteira. Seu vestido vermelho de cetim contrastava perfeitamente com o longo cabelo castanho, trazendo um ar elegante aos olhos igualmente castanho-mocha. Cellbit se tornou cliente assíduo do local desde que Melissa aceitou sua gorjeta, trazendo o show particular especialmente ao canto em que Cellbit e seus capangas residiam. Desde então, qualquer pessoa que adentrasse a boate sabia que Melissa era propriedade de Cellbit. Um ou outro não respeitava isso, e terminava a noite enfiado em uma cova rasa qualquer.

Naquela noite Melissa estava inigualavelmente deslumbrante, balançando o cabelo aos lados enquanto adentrava o palco. Seu olhar correu de imediato a Cellbit, que se encontrava à postos em sua poltrona habitual. O show envolvia quatro ou cinco canções, o pole dance central e o esquerdo, de frente para o cliente fiel. A mulher fazia questão de trazer seu espetáculo até aquela área, tendo certeza de que garantiria a grana do próximo final de semana. De vez em quando descia do palanque, fornecendo a Cellbit uma dança pessoal em seu colo.

Melissa deslizou as mãos pelos próprios quadris e se virou de frente para o de terno, engenhosamente encontrando lugar nos braços de outrem. Sussurrou as últimas palavras da música, encarando os olhos vidrados de Cellbit.

— Assim você acaba comigo, Lis — Confessou o homem, segurando com força descomunal a cintura alheia. A dançarina sorriu de canto e tocou o queixo do cliente com três dedos, aproximando-se o máximo possível.

— ¿Yo? — Perguntou de maneira retórica, descendo lentamente o olhar para os lábios de Cellbit antes de pular de seu colo, traçando o caminho de volta para seu camarim.

Em poucos minutos a boate fechou, mas Cellbit ainda não estava satisfeito. Precisava de mais para se sentir bem, para poder dormir tranquilamente depois de tudo que causou pela cidade durante o dia. Mandou todos os seguranças pessoais para casa e se escondeu no beco, esperando até que sua estrela desse sinal de ir embora. Era tarde e Melissa vestia roupas mais casuais, ainda assim chamativas ao ver do admirador. Cellbit a seguiu em silêncio com maestria até o apartamento em que morava, uma expressão de desgosto tomando conta de sua face. O condomínio era simples, relativamente sujo e enxuto. Melissa merecia algo bem melhor, e Cellbit estava disposto a proporcionar.

Horas se passaram e algo aconteceu para mudar a perspectiva do admirador: um homem saiu do apartamento. Um homem bonito, vestindo jeans escuros e moletom vermelho. Cell queria explodir ali mesmo, mas não era o momento certo. Precisava aguentar um pouco mais, aguardar a hora de acabar com a alma que ousara chegar perto de sua mulher. Decidiu seguir o moreno.

O tal homem caminhava despreocupadamente pelas tortuosas ruas do bairro, não fazendo a mínima idéia de que estava sendo seguido. Cell era cauteloso, tinha anos de experiência na arte da espionagem e os colocava em ação naquele momento, visando proteger a honra de sua mulher.

O jogo de gato e rato, entretanto, não lhe era nada agradável perto da energia favorável que a parte mais agitada transmitia. Se tornar o chefe da facção mais poderosa da região tinha seu preço, e este era nunca estar envolvido nas operações arriscadas — estas que, se ainda não ficou óbvio, eram as preferidas do loiro. Aproveitou então a rara oportunidade de finalmente colocar as mãos na massa e se aproximou sorrateiramente do alvo, procurando nos bolsos o lenço e o frasco de sonífero pela metade. Encharcou o tecido e, em movimentos ágeis e outrora familiares, aplicou uma chave de braço no pescoço do moreno e pressionou o pano embebido do líquido em suas vias nasais, arrastando o corpo relutante para um beco escuro e vazio. Uma van branca os esperava do outro lado, dois capangas de confiança do mandante prontos para levá-los ao salão geralmente utilizado para obtenção de informações — ou, em outras palavras, o local de tortura.

Call Me What You Like » guapoduoOnde histórias criam vida. Descubra agora