As chamas que mastigam ardentes as paredes e vigas da casa não permitem com que vizinhos curiosos se aproximem demais da residência número 54 do pacato condomínio Paradis, sul de São Francisco. A pequena casa verde-musgo se curva e rui diante do calor das chamas, desmanchando-se ao som da trilha sonora de sirenes se aproximando.
– Quer apostar quantos dólares no motivo desse incêndio? – Levi Ackerman pergunta secamente ao seu parceiro dentro da viatura conforme ela aproxima-se do local. – A julgar pelo bairro, eu digo que algum pirralho e bêbado mexeu com os fogos de artifício do papai.
– É quase quatro de julho, seu palpite é inteligente – Erwin responde do banco do motorista, desacelerando o veículo conforme manobra-o a uma distância segura do incêndio. – Mas guarde suas apostas para Hange, não estou em condições de participar dessas coisas. – Erwin puxa o freio de mão e alcança o walkie talkie policial no painel. – Viatura 7 chegou no local do incêndio. Câmbio.
– Tsk – Levi estala a língua e revira os olhos. O primeiro reflexo de suas mãos foi pegar o maço de cigarro no bolso, mas foi interrompido pela percepção de que estava em trabalho. – Não se ache tanto porque acabou de ser promovido, a única diferença entre agora e semana passada é que você tem mais um prefixo idiota no seu cargo, Erwin.
– Major Smith, por favor – o colega corrige, lançando à carranca de Levi um sorriso suave e inabalável antes de escancarar a porta da viatura e retirar-se.
– Só nos seus sonhos, Major cabelo de vaca lambida – Levi retruca rouco ao firmar os coturnos no pavimento e também retirar-se da viatura. A verdade é que está tentando esconder em sua voz o orgulho que no fundo sente pelo colega, que recentemente ascendeu de capitão para major.
Idosas de roupão, mulheres com toalhas na cabeça, crianças curiosas cujos pais se esforçam para afastar da cena e adolescentes dando risadinhas como se não existisse a possiblidade de haver vítimas; cerca de trinta pessoas encontram-se no perímetro da casa em chamas. A concentração de pessoas abre alas por onde Erwin e Levi passam, atraindo olhares dos curiosos e também dos fofoqueiros.
– Vou falar com as possíveis testemunhas para nos ambientar do que pode ter ocorrido – Erwin cochicha sobre o ombro de Levi, sem muita dificuldade visto que o colega tem estatura consideravelmente mais baixa que Erwin. – Consegue falar com o líder do corpo de bombeiros?
– Como se algo pudesse me impedir – o parceiro responde com firmeza, sem tirar os olhos da direção para a qual caminha. – Nos vemos depois.
Os policiais separam-se. Erwin permanece próximo aos civis, tentando buscar por alguém que possa conhecer os envolvidos com o incêndio enquanto Levi dirige-se ao caminhão de bombeiros.
– Tenente Ackerman! – o bombeiro mais próximo, muito jovem, bate continência imediatamente ao ver o homem de escorridos cabelos negros aproximar-se.
– Pelo amor de deus, abaixe essa mão, Moblit – Levi faz um gesto com a mão para o rapaz. – Já falei que não quero esse tipo de tratamento.
– Meus superiores me esculacham caso eu não o faça – o garoto sardento dá um sorriso amarelo a Levi. – Está procurando por Mike, não é? Ele está lá dentro com Petra. – Moblit relata, apontando para a casa com um meneio de cabeça. – Parece que tem uma vítima lá dentro.
– Alguma evidência do que pode ter começado isso? – o policial averigua, inalando com profundidade o ar diante de uma ligeira impressão de ter sentindo cheiro de gás.
– Está tudo uma história bem estranha – Moblit apoia-se na porta do caminhão como quem vai ficar horas conversando. – Esta garota ali ligou para o 911 para relatar o incêndio, diz que só estava de passagem por aqui para ver uma amiga, mas os vizinhos parecem conhece-la. – o aspirante conta, apontando para uma jovem de medianos cabelos louros, sentada no meio fio.