Sexta-feira. Munido de um maço de papéis xerografados e uma branca e sem graça caneca cheia de café preto, Levi retira-se da minúscula salinha nos fundos do escritório coletivo da delegacia. Cruzando o hall repleto de escrivaninhas, ele sobe a escadaria em direção ao próximo andar do prédio, sem fazer contato visual com os novatos que agora se coçam de curiosidade para saber qual foi o caso que Erwin e ele atenderam ao anoitecer de quinta-feira.
– Lexie Halpert – Levi declara ao entrar no escritório de Erwin, atirando à mesa do superior as fotocópias da identificação da moça que antes autodenominara-se Barbara. – E Eren Jaeger, o garoto que tiraram do incêndio.
– São maiores de idade? Conseguiu contatar os responsáveis? – Erwin recosta-se em sua mais nova cadeira estofada de major.
– O garoto tem dezenove, ela vai fazer dezoito amanhã e tem um irmão mais velho perguntando por ela – Levi dá-se a permissão e senta-se na cadeira em frente a Erwin, do outro lado da escrivaninha.
– Algum antecedente criminal? – Erwin pega as copias xerografadas e analisa-as.
– Dela não. Mas o garoto tem passagem por vandalismo – Levi responde. – Acha que pode se tratar de um crime passional? Ele parecia conhece-la muito bem.
– Não teremos ideia até ouvir o que ela tem a dizer sóbria – o loiro alinha a papelada e a deixa de lado, focando agora no colega. – O que ela te disse na cena do possível crime?
Levi revira os olhos.
– Tsk, nada que valha a pena repetir – Levi recorda as falas inapropriadas de Lexie no local do incêndio. – Escute, Erwin...
– Major? – os colegas são interrompidos de repente com o click metálico do trinco velho da porta. Uma jovem de longos cabelos castanhos entra no escritório, Levi olha por cima de seu ombro, fitando a mulher com desprezo.
– As normas da delegacia prezam pela educação básica entre os funcionários e eu nunca meti a fuça no seu balcão sem pedir licença. Espero que seja recíproca a educação – ele declara secamente, apagando a luz no semblante radiante da jovem, que coberta de humilhação se empertiga junto ao batente da porta.
– Sasha – Erwin a cumprimenta com um ar paternal em seus olhos cerúleos, ignorando completamente o comentário cortante de Levi. – Fique à vontade. O que houve?
– A testemunha, quer dizer... a suspeita, er... – Sasha se perde nas próprias palavras, parando de falar por um momento. – A mulher que estava drogada está pronta para o interrogatório – a jovem prende a respiração, esperando ser acertada por um segundo comentário severo de Levi em decorrência da confusão que fez na própria fala.
Há uma sugestão de riso nos lábios de Erwin enquanto ele a escuta com condescendência. Levi olha para o parceiro, um tanto incrédulo com sua tolerância para com a garota estabanada.
– Perfeito. Diga a eles que já vamos descer – o loiro responde calmamente.
Sasha está pronta para retirar-se do escritório tão rápido quanto um relâmpago quando o Major Smith a surpreende.
– Sasha, como está a adaptação da sua nova irmã na família? – ele pergunta inesperadamente. Seu colega faz questão de manter-se ausente da conversa, como se nem estivesse ali. Erguendo a xícara de café preto diante da boca, Levi olha fixamente para a papelada sobre a mesa de Erwin enquanto espera que o papo furado se encerre para que possam descer.
– Ah – o cenho de Sasha ilumina-se surpreso e seus ombros relaxam conforme ela adentra o escritório novamente. – Bem, muito bem. Ela ainda não chama meus pais de pai ou mãe, mas me chama de mana – ela sorri. – Obrigada por perguntar, Erw- quer dizer, Major Smith.