Novamente no escritório de Erwin, Levi e o loiro sentam-se um diante do outro. A paciência de Levi com a demora de Erwin em dizer o que ouviu, esgotando-se. E sua xícara, reabastecida sobre a escrivaninha de canela.
– Devo me preocupar com toda essa cautela para você dizer o que ouviu? – ele por fim pergunta. Erwin está olhando pela janela, os olhos marítimos muito distantes quando é interrompido por Levi.
– Você lembra do Grisha? – ele volta-se para Levi, girando sua cadeira e apoiando os cotovelos na mesa.
– O cara do caso das drogas injetáveis de anos atrás? Está preso. – Levi responde, dando uma golada no café preto.
– Esse Eren, vítima do incêndio, é filho dele – o loiro conta com o semblante sombrio. – E a garota aparentemente é a ex-namorada.
– Está insinuando que temos uma adolescente envolvida com traficante? – Levi cruza as pernas, recostando-se na cadeira.
– Bom, – Erwin levanta-se e contorna a escrivaninha. – Se ele é traficante, eu não posso dizer. Mas seu pai não só distribuía como produzia as drogas. E você sabe muito bem qual tem sido a nossa maior dor de cabeça nos últimos meses – o loiro fita com veemência o semblante estoico de Levi.
– O porte de drogas injetáveis aumentando de novo – o parceiro completa o raciocínio. – Mas o moleque foi vítima do incêndio, não temos motivo nenhum para levantar uma investigação contra ele – Levi gira sobre o assento da cadeira para acompanhar a caminhada de Erwin dentro do escritório.
– E não vamos – o major retruca. – Mas acho que estamos diante de uma tentativa de homicídio sob efeito de entorpecentes. O laudo do corpo de bombeiros já saiu, e o motivo do fogo foi vazamento de gás.
– E?
– E não há indício algum de que o gás vazou por acidente. O laudo aponta que o escape de gás foi aberto intencionalmente.
– E ela confessou?! – Levi arregala os olhos, surpreso com a possibilidade de uma rápida resolução do incidente.
Já do outro lado do antigo escritório, Erwin coloca-se de costas para uma cômoda de madeira e nela espalmas as mãos, como se juntasse forças para dizer algo difícil.
– Confessou. Mas eu adulterei o relatório para não constar a confissão – Erwin revela, olhando nos olhos do melhor amigo. O queixo de Levi cai e seu cenho se arreganha em descrença.
– O que você está fazendo?! – Levi levanta-se. – A confissão foi feita. Você só precisa encaminhá-la ao ministério e eles dão sequência na acusação e na prisão!
– Você está olhando para as montanhas, e eu vejo o campo atrás delas – Erwin olha o tenente com severidade. – Não lembra que Eren a ameaçou de morte na cena do crime? Ela pode estar confessando um crime que não cometeu para escapar de um destino que talvez seja pior.
– E se for ela a verdadeira responsável pelo gás? – Levi indaga, pondo-se ao lado do amigo.
– Isso não vem ao caso. Ela pode ser a nossa ponte para chegar na origem do aumento do porte de drogas em São Francisco. É interessante custear sua permanência ao nosso redor.
– Vai mantê-la pendurada num anzol feito isca? – Levi choca-se com o plano, frio demais para a índole calorosa de Erwin.
– Não – Erwin torna a fazer contato visual com Levi enquanto caminha em direção à saída do escritório, abrindo a porta e prestes a, de novo, deixar Levi sozinho com seus pensamentos. – Vou transformá-la em uma de nós. E já que você está tão incomodado com a ficha dela, eu agora nomeio você como responsável por vigiá-la enquanto ela trabalhar aqui.
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