O investigador Williams é enviado até o vilarejo de Pestana, investigar o paradeiro de uma família. Um local afastado de outras cidades, um mistério pairava no ar. Não setinha muitas notícias sobre aquele lugar, a não ser suposições de que fosse amaldiçoado e não aceitasse pessoas de fora.
A verdade é que aquele lugar era desconexo do mundo, como se tivesse parado no tempo. A tecnologia se comparava com o início dos anos 50, quem os visse se confundiria com camponeses. A principal informação que o detetive teria, seria o fato de que o vilarejo é controlado pelos irmãos Pestana. Apesar disso, não sabia muito sobre eles, nem mesmo como eram fisicamente.
Como qualquer um, notou que havia algo diferente naquele lugar. As pessoas pareciam se esconder de algo, mas que não fosse sua presença. O aspecto daquele lugar lhe causava arrepios, como se tentasse lhe expulsar de qualquer jeito. Os cantos de corvos criavam um peso no ambiente e em contraste com o silêncio dos moradores.
Sua primeira tentativa não foi nada satisfatório, tentava mostrar a foto da família, ganhando apenas uma fechada de porta na cara. As únicas palavras que escutara, foram "Cuidado, cuidado com os irmãos Pestana". O experiente investigador não entendia o motivo de ter tanto cuidado, mesmo que eles fossem 'responsáveis' pelo lugar.
Sua intuição gritava, suplicando para que fosse até a catedral no centro do vilarejo. Pela primeira vez, sentia vontade de abandonar a missão. O ar a sua volta ficava gélido, suas narinas captavam o cheiro de carne podre aumentando.
O badalar dos sinos tocou, um único som alto e agudo ecoou pela vila. Os corvos voltaram a aparecer, lotando os céus e emitindo seus cantos nada prazerosos. Todos os moradores jogaram um pedaço de carne para fora, como se fizessem um tributo. Vindo do milharal ao fundo das casas, os olhos do detetive quase saltaram para fora quando viu a criatura que parecia flutuar com passes tão leves.
As pernas de Williams travaram, sem saber o que fazer. O ar a sua volta ficara ainda mais gélido, trazendo um ar forte de pessimismo. A sua volta, tudo parecia desistir de viver. Os corvos pairavam acima de sua cabeça, como se fossem velhos amigos. Quando o homem parou, estático enquanto observava o "visitante" do vilarejo, estendeu a mão como se esperasse por algo.
Tomado pelo medo, sofreu um tropeço e foi de cara contra o chão. Sentiu trepidações e despencou tão rápido que sua voz sumira. Batendo contra madeiras que retardaram sua queda, até atingir o concreto. Sentiu uma dor latejante e aguda na coxa direita causada por uma adaga, seguido de uma forte ardência.
Sem entender, Williams remove a adaga e observa sua composição. Um objeto que aparentava ter centenas de anos e feito a partir de ossos.
O cheiro de carniça lhe fazia ter vontade de vomitar. Havia ossos para todos os lados, seu coração acelerava cada vez mais, sua ansiedade disparava. O local tinha inúmeras celas, uma em especial chamara sua atenção... havia o corpo de uma jovem estirado no chão, sem ambos os braços. Não tive como não reconhecer, era a filha única do casal. Ela parecia viva, mas inconsciente.
- Olá, forasteiro. – Uma voz surgiu atrás do detetive, lhe fazendo entrar na cela para ganhar distância.
Três criaturas lhe observavam, cada um mais bizarro que o outro. Irmãos Pestana... pensou relembrando as palavras do camponês. Um era pequeno e gordinho, o do meio era o mais alto e o terceiro tão magro que era possível ver as deformidades do seu esqueleto. Ambos tinham olhos negros, bocas com dentes faltando, mas afiados. Estava completamente estático e a ponto de ter um troço.
Agindo sem pensar, disparou rapidamente a arma contra os irmãos. Indo o mais rápido que suas pernas podiam. Tão decidido, não havia percebido que suas balas não fizeram efeito. Correndo pelas escadas, tentando sair dali com a garota nos braços. Seu coração batia tão rápido, que parecia estar prestes a sofrer um enfarto.
Os pulsos de adrenalina lhe fizeram esquecer até mesmo do ferimento na coxa, desconsiderando qualquer dor. Uma porta no fim das escadas lhe fez sorrir, que logo sumiu ao notar que estava trancada.
O ar ficou novamente frio, do teto saiu o mais magro através de uma gosma. Seus membros adormeceram, completamente indefeso. Em segundos, a cabeça da menina fora espetada pela criatura, que ganhava sua forma aos poucos. As mãos de Williams tremiam, ainda segurando corpo sem vida da garota.
Sem pensar duas vezes, cravou a adaga em sua cabeça. Em segundos, a pele descascava e virava pó. Por algum motivo desconhecido, a adaga foi suficiente paramatá-lo. Os outros irmãos alcançaram o detetive, a tempo de ver seu irmão ser desintegrando e soltando um forte urro.
Quando os olhos de Williams se encontra com o do irmão maior, tudo o que vira fora um olhar sádico e um sorriso insano.
- Bem-vindo a família, irmão... – O detetive parou, completamente confuso e tomado pelo medo crescente.
A adaga queimou em suas mãos, lhe obrigando que soltasse. Sua pele parecia entrar em combustão, adotando uma aparência desfigurada. Gritava o mais alto que podia, sentindo uma dor absurda em sua cabeça, como se estivesse se transformando em um dos irmãos. Tendo um destino ainda pior que a morte, observando suas mãos se transformarem em garras.
- Nossa que história mais bizarra... – Disse a moça que achara o livro escondido na biblioteca, ainda no primeiro capítulo, um prólogo do que teria no decorrer da história. – Contos de Pestana... escrito por Jhonatan Williams segundo. – Refletiu ao sentir um arrepio, tomada pela curiosidade de seguir com a leitura.
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Contos de Terror - Halloween I
Short StoryII Dinâmica de Contos do Grupo Ártemis. Aqui está uma coletânea de contos do desafio de Halloween proposto no Ártemis em 31/10/2021.