Às vezes o tempo parece não passar, como se a espera fosse a chave pra tornar o mundo mais lento, por consequência, mais irritante. Para o estado do Rio de Janeiro, a espera se tornava cada vez mais insuportável.
O dia quente nordestino no território da Bahia se arrastou cruelmente, especialmente após todos estarem de barriga cheia e o clima de fim de festa tomar conta, como se uma nuvem cinza cobrisse o que antes foi um ambiente animadíssimo. Queria ir embora, tomar um banho e se sentir menos suado, ao menos um pouco, mas não era essa a razão do seu nervosismo... Seu motivo tinha nome e endereço.
São Paulo estava a apenas alguns metros de distância, conversando tranquilo na beira do palco com Minas. Os dois se davam incrivelmente bem — Não que fosse grande coisa, afinal o mineiro era bom em se dar bem com todo mundo. Observou-os de longe em seu poço entediado de pensamentos, evitando lembrar das cenas de horas mais cedo na esperança de que aquele formigamento ansioso desaparecesse. Odiava a sensação de não correspondência, de ter o paulista sempre escapando por entre os dedos toda vez que investia, ao mesmo tempo que, se fizesse pressão demais, se sentiria mal, como se estivesse obrigando o cara de quem estava afim a ficar consigo. Oh, dilema filho da puta!
Enquanto perdido em seus pensamentos, o carioca não notou quando o olhar de São Paulo cruzou com o seu, menos ainda quando se despediu de Minas e foi diminuindo gradualmente a distância entre eles com passos calmos e as mãos nos bolsos do casaco, o qual usava com as mangas arregaçadas até os cotovelos pelo calor.
— Ei.
Precisou de um momento pra se localizar, processar quem estava na sua frente.
— Ah...! E ai, Tchutchuca? — Ofereceu um sorriso torto. — Tá com calor não?
— Já te disse pra não me chamar assim!
O de cabelo escuro deu um soco no ombro do maior, mais fraco do que o que recebera mais cedo pelo mesmo exato motivo. Ainda assim, não pretendia parar. Ficaria com quantas marcas de anéis precisasse pra continuar provocando ele assim.
— E não. Vim aqui pra te dizer que pare de me olhar como um vira-lata com fome... E perguntar se já quer ir embora.
Levou um segundo para conseguir processar, afinal eles não vieram juntos para a festa, por que diabos essa pergunta viria agora? Antes que conseguisse formular seu muito válido questionamento, porém, Sampa se adiantou:
— Pode parar de me olhar como se eu fosse um alien? Se cê não me quer junto fala, mano...
E virou pra sair, mas o alto de dreads o parou, agarrando seu braço de leve.
— Ei ei ei... Calmou ai, princesa. Você me evitou esse tempo todo, me deu foras o dia inteirinho pra chegar assim, absolutamente do nada, me oferecer o céu e fugir??
Foi quando pegou o mais magro e jogou sobre o ombro, se despedindo de todos com um aceno e simples "Falou galera, tamo junto" enquanto sentia o espernear e os socos de São Paulo contra os músculos de suas costas. Caminhou com ele pra fora e o soltou ao lado de sua moto, cruzando os braços e encarando aquela figura de casaco vermelho por um momento.
— É sua chance de pular fora.
— Meu, você tem uma forma péssima de se comunicar... — Desamassava as próprias roupas
— E mesmo assim acho que já deixei claro minhas intenções, não?
Agora os dois se encararam. O mais baixo deles parecendo ganhar aquele rubor na pele que sempre o denunciava ao ficar ansioso. Rio suspirou alto.
— Olha, eu não gosto de ficar te pressionando. Não mesmo. Mas eu quero... Não. Eu PRECISO de uma resposta definitiva sua! Coé, o que a gente tem? Vamos ficar nesse rola-não rola o resto da vida? Eu não quero isso, tá me deixando maluco. Então, se você quiser pelo menos tentar... Sobe na moto. Se não, eu te deixo em paz e a gente age como se nunca tivesse rolado.
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Pós Festa | SP×RJ
Fiksi PenggemarConto curto sobre os acontecimentos entre São Paulo e Rio de Janeiro após a feijoada dos estados (Apaziguar - Nikkiyan)