All Things End

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   Andrew Hoizer era um dos poucos amigos do Crowley na atualidade. A serpente do Edem sempre pensava com um ar afetado sobre sua contribuição em Take me to Church, composta em uma noite de bebedeiras e corações partidos no camarim do Anúna após Hoizer performar "La Chanson de Mardi Gras" e Crowley pensar sobre como o jovem cantor o lembrava do Fredie.

    Era irônico, na verdade, porque Crowley tinha ingressos vip e havia convidado Aziraphale para ir assistir com ele, mas o anjo recusara, alegando que em um ano estariam morando juntos pra balancear a criação do anticristo e que os lá de cima não gostariam nada se soubessem que ele fica pra cima e pra baixo com um inimigo.

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    "Então, eu estava lá, queimando meus pés naquele solo sagrado pra falar com ele." O demônio sacodia os pés em cima do braço da cadeira

    "Uh, não! Não, não, não. Ainda assim ele falou que você ia rápido de mais?" Hoizer embolou em um voz acelerada e melancólica, levantando do chão. "E eu achando que o meu término tinha sido uma merda"

    "Nós nascemos doentes, acho que é o que dizem." Crowley alisou os fios soltos do cabelo prendendo-o novamente com um ar blasé e se esticando no sofá pra alcançar a garrafa na mesa ao lado

    "Amém." Hoizer ergueu o copo de Wisky como quem brinda e virou a última dose.

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   "O que você acha de: o céu não vai acolher um amor como o nosso?" O demônio sugeriu após um longo período calado.

   Ele sabia que o compositor estava trabalhando em um novo album, Unreal Unearth, e, bem, após a partida de Aziraphale, Crowley precisava se envolver em algum projeto pra externalizar a dor que sentia.

    Então ele dirigiu até a Irlanda, em um absoluto silêncio, tentando pescar no universo de sua mente onde ele havia errado pra, mesmo após 6 mil anos, Aziraphale ainda preferir o Céu a ele.

    "Anthony, eu estive pensando, é, sei lá, a milésima vez que vocês discutem, o que te faz achar que ele não vai voltar depois de um tempo" Hoizer estava intrigado, não que não fosse ótimo ter o amigo auxiliando-o, mas bem, da última vez que tinham se visto, em um show intimista num teatro, Crowley estava acompanhado de Aziraphale, que olhava pra ele como se ele fosse a coisa mais preciosa do mundo, simplesmente não fazia sentido. "Afinal, ele definitivamente voltou pro seminário?"

    Crowley faz um sequência de barulhos confusos com a garganta enquanto procura as palavras certas. "Então, não exatamente, quer dizer, um velho imbecil ofereceu a ele a oportunidade de voltar pro Céu, com um emprego novo e um cargo melhor e ele aceitou"

    "Uau, isso não parece o tipo de coisa que o senhor Fell que não queria soltar sua mão três anos atrás faria." O músico segurou o lápis entre os dentes e mudou a página de De Selby para Frist time no caderninho de músicas e acrescentou o verso:

Alguma parte de mim deve ter morrido
Na última vez que você me chamou de bebê

   E saltando mais algumas paginas escreveu a sugestão de Crowley.

Heaven is not fit to house a love like you and I

    "Eu beijei aquele idiota" admitiu em um suspiro bebiricando a garrafa de vinho do Porto, tão antiga e amarga quanto o tratado de Methuen

    "Bem, vocês são bem velhos, já estava mais que na hora de um primeiro beijo" Hozier brincou e conseguiu arrancar um pequeno e breve sorriso do amigo.

    "Acha que fiz bem?" Crowley o encara por de traz dos óculos, testa franzida, feição derrotada.

    "Eu achei que você não se desistira" ele respondeu riscando algo no caderno. "Quero dizer, 10 anos atrás você estava chateado porque ele se recusou a vir num concerto com você. E ele se redimiu em 2019, não?" Hoizer sorri quando Crowley assente suavemente com a cabeça, recostando-se mais na cadeira. "Bem, então tudo me leva a crer que vocês estão juntos a tempo de mais pra que isso seja um término definitivo"

    "É... hm... Eu suponho que você esteja certo" Crowley passa a mão pelo topete, antes impecável. "Mas antes de eu, você sabe..." Andrew ergueu as sobrancelhas como quem pergunta o que. " Antes de eu... agarrar ele... ele disse que nada dura pra sempre."

    All things end, Hozier risca no caderno, acionando um PS: colocar um verso de coral "And all things end, knowing we can always start again" Hoizer cantarola com um pequeno sorriso. "Aposto seus óculos que vocês vão se resolver e antes que você perceba estarão morando em uma casinha de campo no sul da Inglaterra como um casal de aposentados"

    "Se isso não acontecer eu venho pessoalmente te levar pro inferno." Crowley brinca, com uma voz profunda e sombria e Hoizer ri

   "Agora, eu estava pensando em algo com um coral, o que você acha?" O cantor questinou, trazendo o album novo de volta ao centro da discussão.

  "Pff... Acho que, se você não fosse de 90 eu teria certeza que o Fredie reencarnou em você"

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