...eu pudesse voltar atrás?

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Domingo definitivamente é o meu dia favorito da semana, posso dormir até mais tarde, me levanto apenas para pegar o prato de comida e fico a tarde toda jogando videogame, simplesmente é um dia que me desligo do mundo, mas depois que a Amanda ligou pela quinta vez eu tive que atender, mesmo sabendo que ela iria só se queixar do namorado e que eu ainda teria que escutar ela falando a mesma coisa na segunda durante o intervalo das aulas.

_ Oi gata – atendi no viva-voz, porque estava quase concluindo a missão do GTA e o Franklin precisava matar uma gangue.

_ Amigo como você tá? – ouço a voz dela meio preocupada.

_ Tô bem, por quê? – respondi enquanto batia em uma velhinha pra roubar seu carro e fugir da gangue que atirava no Franklin.

_ Você não viu o vídeo ainda? – ela perguntou e senti de longe uma pontada de embaraço, como se ela não quisesse falar o que estava falando.

_ Que vídeo amiga? – falei meio impaciente – você sabe que domingo eu quase nunca olho rede social.

Senti o silêncio do outro lado da linha, atropelei uma garota de programa no jogo por puro prazer e só depois de um tempo que tornei a ouvir a voz dela.

_ Eu não sei bem como falar... – a hesitação dela já estava me deixando apreensivo – acho melhor você ver... te enviei...

Dei um clique na tela e me assustei com a quantidade de notificações que tinha, eu não era tão popular assim nas redes sociais, usava o twitter pra falar mal da vida e o instagram pra ver vídeo de rapazes bonitos fazendo dancinhas, ignorei as várias notificações no whatsapp e fui direto na conversa com a Amanda clicando no vídeo esperando ver algum meme ridículo que tenha viralizado.

Larguei na hora o controle do Playstation e levei a mão na boca incrédulo com o que estava vendo, enquanto na tela da televisão meu personagem batia com o carro e era rodeado por membros da gangue atirando com suas armas e aos poucos minha vida ia acabando até aparecer a frase game over, na tela do celular não era nenhum personagem e sim eu mesmo que estava rodeado de rapazes que usavam outro tipo de pistola e não iria demorar muito para aparecer o game over na minha testa.

_ Amigo eu não sei quem foi que mandou...

Ouvi a voz da Amanda no fundo, claro que ela sabia quem tinha mandado, só não iria falar para não se comprometer, peguei o celular e olhei atentamente com uma pequena esperança de que no vídeo não desse de me reconhecer.

Mas claramente era eu ali, deitado de costas com uma perna levantada e um cara me comendo, que poderia ser o José ou o Antônio eu não tinha decorado o nome de todos eles, enquanto outros seis revezavam com o pinto na minha boca, um acabou gozando na minha cara que já estava toda melada de porra, mas eu continuava chupando e engolindo gala.

_ Amigo...

Não esperei para ouvir o que ela iria falar, pulei da cama dei três passos até o guarda-roupa e joguei o celular dentro de uma gaveta, fiquei andando de um lado para o outro do quarto sem saber o que iria fazer enquanto sentia as lágrimas escorrendo pelo rosto.

Eu fechava os olhos e revia mentalmente os 26 segundos de vídeo que tinha acabado de assistir e me recordando das loucuras que fiz naquele dia.

_ Filho vai querer... – minha mãe falou abrindo a porta, e quando me viu chorando parou espantada – o que foi que aconteceu meu amor?

_ Nada... – gaguejei me virando de costas para ela e tentando disfarçar – nada não mãe...

Mas ela já estava me abraçando como ela sempre fazia toda vez que eu me machucava, aquele abraço fez eu chorar ainda mais a ponto de ficar soluçando e sem conseguir formar nenhuma palavra para as perguntas dela, quando ela percebeu que apenas o abraço dela não me acalmaria resolveu fazer um dos seus chás, minha mãe tinha chá pra todo tipo de situação, mas o único chá que eu queria tomar era um que apagasse a memória, e acho que esse ela não tinha.

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