...sonharmos juntos?

54 11 0
                                    

O castigo durou o resto da semana, o que na verdade era um alívio, o único lado ruim era não conseguir ver o Eloy, por mais que morássemos a poucos metros de distância ele não costumava ficar perambulando pela rua e eu estava proibido até de passear com o Golias na calçada.

_ Hoje tem estudo bíblico – falei olhando para a minha avó tomando café, senti minha barriga roncando, ainda não tinha me acostumado com o jejum imposto – ou contínuo de castigo?

Ela me olhou por um instante e tentei disfarçar meu sorriso de contentamento, mas não fui muito convincente.

_ Você vai sim – ela respondeu triunfante – e depois quero uma resenha com tudo o que foi estudado.

Fiz o trajeto costumeiro até a casa do Adriano que estava na frente fechando o portão enquanto o pastor manobrava o carro na rua.

_ Rafael? – ele falou espantado quando me viu – achei que você não fosse vir.

_ Minha avó me obrigou a vir – confessei inclinando o ombro – está de saída?

O pastor voltou com o carro de ré e baixou o vidro para me cumprimentar, apenas balancei a cabeça em resposta sem dar muita confiança.

_ Vamos fazer uma visita no Eloy – o Adriano respondeu.

_ Está tudo bem com ele? – perguntei preocupado com um sinal de alerta ligando no meu inconsciente.

Antes que ele pudesse abrir a boca para responder o pai deu uma buzinada e ele apenas levantou os braços como quem diz "não sei" e entrou no carro.

O carro do pastor estava na frente da casa do Eloy quando voltei pra livraria, passei boa parte da manhã indo até a porta e o carro continuava lá, a Carina tentou puxar conversar perguntando o que estava havendo, mas eu não consegui formar nenhuma frase e por fim acabei sendo deixado quieto.

Fui autorizado a ir para a célula e só fiz questão de ir para poder ver o Eloy, assim que cheguei todos os presentes se viraram me encarando, a Rute se levantou apressada e me puxou para conversar do lado de fora, sentou-se na calçada e me olhou esperando que eu a imitasse.

_ Olha Rafael, eu quero que você saiba que eu não te julgo – ela começou falando e me pegando de surpresa, fazendo minhas armas caírem – eu tenho a minha fé, mas não quero que ela passe por cima da sua escolha.

_ Obrigado – respondi quase rouco.

_ Eu quero que esse espaço seja um espaço de acolhimento – ela passou a mão no meu ombro e aquele gesto me desarmou por completo e senti uma lágrima escorrendo pelo meu rosto – independente de qual for a opção sexual da pessoa.

_ Orientação – corrigia-a com um meio sorriso.

_ Orientação – ela sorriu de volta – você me perdoa por não ter conseguido lidar com a situação semana passada?

_ Sim – respondi enxugando as lágrimas – eu preciso pedir perdão também por ter me excedido.

_ Está tudo certo – ela falou balançando a cabeça – mas você precisa pedir perdão da Jessica e da Geovana, se bem que aquela sobrancelha da Geovana é feia mesmo.

Ela sorriu com a piada e me arrancou uma gargalhada, voltei para dentro da casa bem mais leve depois daquela conversa, e por algum motivo não senti mais a hostilidade que tinha sentido antes.

Nem as duas moças e nem o Eloy foram para a célula, em compensação fomos agraciados com o próprio pastor que comandou a reunião, mas eu passei a noite toda alheio ao que era dito, só conseguia pensar no Eloy.

_ Adriano – falei encurralando o líder no canto assim que a célula encerrou, a maioria dos jovens ainda permanecia conversando – o Eloy está bem?

E SE...Onde histórias criam vida. Descubra agora