Capítulo 85

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A rotina era sempre a mesma. Enid ia para o trabalho, verificava todas as pendências pela manhã e depois voltava para o hospital. A família de Wednesday nada sabia ainda e também não tinham ligado. Perrie havia dado um sumiço, Enid achou melhor dada a situação no momento. Numa manhã de sábado Demetria a chamou no quarto. Olhou para Enid e se manteve séria.
 
- O quadro dela é estável, mas acreditamos que é irreversível.
 
Os olhos de Enid estavam parados.
 
- Está com os batimentos normais, pressão normal, mas não reage. Tentamos todo tipo de medicação e nada.
 
- Ela vai morrer? - perguntou em tom sério.
 
- Wednesday não tem qualquer sintoma que a leve a óbito, mas ela não tem estímulo pra acordar. É como se não quisesse viver, é essa a impressão que me passa. Você quer entrar no quarto?
 
- Eu posso?
 
- Claro.
 
Enid entrou com Demetria e logo a médica saiu para deixá-las a sós.
 
- Meu amor. - falou baixinho. - Estou aqui, desde a semana passada. Estou cuidando de você e dos nossos filhos. Eles agora têm nome sabia? Luna e Henrique. Mamãe quem escolheu, na verdade sorteou da sua caixinha. - sorriu. - Henrique é a sua cara e dizem que Luna se parece comigo. Estou com saudades, queria tanto que estivesse do meu lado. Por favor, não me deixe sozinha, não sei viver sem você. - começou a chorar. - Reaja Wednesday, por nossos filhos, pela nossa vida.
 
Abaixou a cabeça e beijou a mão da mais nova. Suas lágrimas agora eram incontroláveis. Não pode ficar muito tempo na UTI, mas Demetria prometeu que ela poderia ir lá todos os dias. Ao sair do hospital um pouco para espairecer, Enid sentou numa pequena praça onde havia um chafariz em uma fonte. O tempo estava gostoso, ventando um pouco e um sol bem fraco. Olhava a tudo como se estivesse em preto e branco. Pensou em quando conheceu Wednesday, em como ela era quando mais nova, estudiosa, disciplinada e linda. Sempre fora linda. Lembrou das viagens, dos passeios pelo Rio, de quando sentavam pra conversar na varanda e ficavam horas namorando. Não ligava para essas coisas até conhecê-la. Era por Wednesday ser simples que havia conquistado seu coração. Achou graça quando se lembrou das férias com a família dela e de como era dedicada a eles.
 
- É isso! Família!
 
Pegou o telefone e ligou para Yoko pediu o endereço certo dos pais dela e foi pra casa. Voou no primeiro avião pra São Paulo e de lá foi pra Jaú, bateu na porta dos Addams às nove da noite.
 
- Boa noite. - falou olhando para Gomez.
 
- O que faz aqui essa hora?
 
- Estou aqui pra falar de Wednesday.
 
- Wednesday! O que houve com ela?
 
- Primeiro eu vou entrar. - falou imponente.
 
Mortícia ouviu umas vozes e foi até eles.
 
- Quem é? - parou quando viu Enid. - O que você quer?
 
- O que eu quero? Primeiro eu quero todo mundo sentado aqui nessa sala agora! - falou com autoridade.
 
- Mas o que é isso? O que pensa que está fazendo?
 
- Já, já eu te falo. Chame a todos.
 
Mortícia não ia chamar, mas Pugsley e Perrie apareceram na sala em seguida.
 
- Pronto, agora eu vou dizer o que eu quero. - olhou um por um. - Eu quero minha vida de volta, quero minha esposa rindo e feliz ao meu lado. Quero ouvir a voz dela todas as manhãs me desejando bom dia, quero andar com ela na praia e sentir o seu perfume trazido pelo vento. Quero vê-la criando nossos dois filhos. Talvez vocês não se importem com ela, mas eu sim e é por isso que estou aqui. - manteve a posição firme.
 
Como ninguém se mexeu, Enid retomou a fala.
 
- Há quase um mês Wednesday deu a luz a gêmeos, duas crianças lindas, mas teve complicações no parto por conta de um cisto no útero. Ela sabia que teria esse risco, mas resolveu ter filhos assim mesmo. Hoje está em coma, num estado que os médicos consideram irreversível. Sabem por quê? Wednesday não quer mais viver, perdeu o sentido pra ela não ter mais a família perto. Desde a última vez em que estivemos aqui eu senti isso nela. Nunca reclamou, pois não é característico dela. Mas é incrível saber que alguém trabalha e se empenha por uma família que não dá a mínima.
 
Mortícia caiu sentada no sofá chorando.
 
- Minha filha...
 
- Pois é, sua filha. A mesma que te ajudou sempre e que nunca deixou que passassem dificuldade. Que mesmo sabendo que não aceitavam sua condição, continuava ajudando e amando vocês. Agora é ela quem precisa de atenção e carinho.
 
- Eu não sabia que ela estava grávida. - Gomez falou.
 
- Só Perrie sabia e ainda assim foi proibida de dizer qualquer coisa pela própria Wednesday.
 
- Ela não queria que soubesse e que se preocupassem com ela só por conta da gravidez. - Perrie se justificou.
 
- Eu quero vê-la. - Mortícia se levantou.
 
- Vim aqui justamente para buscar vocês, mas hoje é impossível pegarmos um avião. Só amanhã de manhã.
 
- Eu arrumo as coisas imediatamente, amanhã bem cedo nós saímos.
 
Enid achou que teria mais trabalho para convencê-los, mas graças a Deus não.
 
- Você quer dormir aqui? - Mortícia perguntou, deixando Enid surpresa. - Dorme, melhor que ficar num hotel e aí amanhã de manhã saímos todos juntos.
 
Enid aceitou e dormiu no quarto de Wednesday. Ficou observando os detalhes dos móveis, tudo ali tinha a carinha dela. Acabou sonhando com ela a noite toda. Acordou se sentindo mais cansada que no dia anterior. Saíram bem cedo no dia seguinte, Enid pagou as passagens para todo mundo. No caminho foi explicando melhor a situação de Wednesday para a mãe e a cunhada.
 
- Eu não sabia da existência desse cisto. - Perrie falou.
 
- A principio não era nada grave, depois a médica sugeriu uma cirurgia para retirar o útero, a fim de evitar maiores problemas. Só que tudo aconteceu ao mesmo tempo, por isso o estado dela agora é delicado.
 
- Tive uma irmã que morreu de câncer. - Ticy falou. - Nunca contei a Wednesday para não preocupá-la. Ela morreu porque foi displicente com a saúde e no desleixo de não ir ao médico, adoeceu. Quando descobriu já estava tarde.
 
Assim que o avião pousou no Santos Dumont, foram todos para o hospital. Esther estava à espera.
 
- Bom dia queridos! Como vão?
 
- Ansiosos. - Mortícia respondeu.
 
Demetria veio para conversar com eles e explicou em termos médicos o estado de Wednesday. Falou dos bebês e primeiro passaram pelo berçário.
 
- São aqueles dois ali ó. - Esther apontou.
 
- Que lindos! Ele é a cara da mãe. - Mortícia sorriu. - Como se chamam?
 
- Henrique e Luna.
 
Sofia ficou empolgada com os primos, como não alcançava a vidraça pedia toda hora pra alguém levantá-la. Ficaram observando um tempo até que Gomez quis ver a filha.
 
- Agora podemos vê-la? - Gomez perguntou sobre Wednesday.
 
- No máximo duas pessoas. - Demetria falou.
 
- Os pais então. - Enid respondeu.
 
Gomez entrou com Mortícia e puderam ver de perto o estado da filha. Parecia dormir tranquila, o rosto delicado de traços meigos. Mantinha a mesma carinha de quando era menina. Mortícia chorou ao vê-la daquele jeito.
 
- A médica disse que é bom conversar com ela. - Gomez falou segurando a mão da filha.
 
Mortícia alisou os cabelos dela e o rosto.
 
- Minha menina, tão forte, tão decidida, agora está aqui indefesa. Mamãe está aqui pra te proteger viu? E seu pai também. Viemos conhecer nossos netinhos. São lindos e Henrique é a sua cara. - ainda ficaram um bom tempo conversando com ela, até dar a hora de saírem da UTI.
 
E assim foi por vários dias. Todos se instalaram no apartamento de Enid e somente ela ficou no hospital. Sua rotina era trabalho e hospital, olhava os filhos toda manhã e conversava com eles pelo vidro do berçário. Visitava Wednesday e ficava um bom tempo falando com ela, contando sua rotina, assim como Gomez e Mortícia. Achavam que isso ajudaria na recuperação dela. Quando Henrique e Luna completaram um mês de nascidos Demetria disse que eles poderiam sair da incubadora. Enid ainda quis permanecer no hospital mesmo com os dois tendo alta.
 
- Enid não pode ficar aqui com essas crianças, apesar do ambiente limpo, hospital é sempre um risco. - Demetria falou.
 
- Quero ficar com ela.
 
- Pode vir visitá-la todos os dias, assim como os pais estão fazendo.
 
- Não, quero que ela saiba que estou me dedicando totalmente.
 
Demetria ponderou e acabou deixando.
 
- Vou colocar você num outro quarto então, mas só por uns dias, depois preciso liberar.
 
- Tudo bem.
 
Enid se instalou num quarto maior, com uma antessala e um banheiro mais confortável. Era arejado e bem grande. Ficou por lá um bom tempo. Uma enfermeira vinha pra cuidar dos bebês e Enid sempre atenta e aprendendo. Tudo com ajuda de Sofia que insistia em ficar com ela. Esther sempre ia ao hospital levar a menina e também passava um período do dia com a filha. E ficava impressionada com o jeito dela com as crianças, parecia ser mãe há mais tempo. Levava jeito e os bebês só paravam de chorar quando ela os pegava.
 
- Viu mãe, como sou jeitosa.
 
- Estou impressionada. - Esther olhava sorrindo.
 
- Tia Enid ta aprendendo rápido. É bom que quando tia Wednesday acordar ela ensina tudo sobre os bebês. - Sofia falou animada.
 
Esther olhou para a filha e falou:
 
- Incrível como é a esperança de uma criança. Eles têm mais fé que nós adultos. Devíamos seguir o exemplo.
 
Enid olhou para Sofia e para a mãe. Sentiu o coração ficar apertado. Cuidava dos filhos, mas com a cabeça sempre pensando em Wednesday. Quando estava no escritório chegava a parar no meio de uma leitura e voltava seus pensamentos para o estado de saúde da esposa. Às vezes começava a comer e nem terminava, se perdia em lembranças e com isso o apetite ia embora. Acabou emagrecendo por conta de tantas atribulações.
 
No dia de receber alta, Demetria chamou Enid e pediu pra falar a sós.
 
- Enid, por favor, me acompanhe.
 
- Aconteceu alguma coisa?
 
- Me acompanhe. - seu rosto era sério e totalmente imparcial.

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Infelizmente, estamos na reta final da fanfic amores, eu espero que estejam aproveitando e gostando. Comentem o que estão achando. Até os últimos capítulos😘❤

Melodia | Wenclair [Versão Atualizada]Onde histórias criam vida. Descubra agora