Prólogo

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Matis era uma criança indígena do Amazonas, perto de Ipixuna, Ubirajara era a vila em que vivia, com seus pais, irmãos e habitantes, tinham uma vida boa.

Caçavam, pescavam, plantavam, colhiam, dançavam até o anoitecer, a vila ficava em perfeita paz todos os dias.

Em uma noite, enquanto todos dormiam, Matis acordou com uma claridade batendo em seus olhos, era fogo, saiu correndo para fora de casa gritando fogo para todos levantarem.

Já havia se alastrado por todas as ocas, pessoas gritando, correndo para pegar água, seu pai disse para correr para longe, porque tinham sido invadidos por garimpeiros.

Não entendia o que significava quem havia chegado, mas como teu pai disse, saiu correndo para o sul, não parou por um segundo, escutava até um certo lugar da floresta gritos de seus familiares, de seus amigos lutando contra aqueles que invadiram.

Corria enquanto sentia em seu rosto lágrimas, talvez não veria mais seu pai, nem ninguém, talvez ficasse sozinho para sempre, ou morreria naquela mata onde habitava onças.

Depois de uns quatro dias, chegou em uma estrada, havia uma placa escrita Bom Jesus, passou um automóvel alto e grande, assustou-se com aquilo, nunca tinha saído das redondezas da vila, agora estava sozinho, com fome, sede, frio e cansado, mas ainda continuou seu caminho .

Passou mais uns cinco dias, viu uma estrutura amarela, com cerca e um canteiro de flores.

Se aproximou para ver o que era aquilo, enquanto observava não percebeu uma mulher com aparência de uns 40 anos.

   - O que você está fazendo sozinho aqui criança?
   - Quem é você?- foi a última coisa que conseguiu pronunciar.

A mulher percebeu que a criança estava nervosa e desnutrida.

   - Eu me chamo Lúcia, você está com fome? Vem aqui, parece machucado.

Matis estava assustado, mas acompanhou a mulher pois estava mesmo com fome e machucado. Ela deu um pão com mussarela e presunto, um pedaço de bolo de aipim e um copo de suco de goiaba para a criança. Enquanto ele comia, ela ligava para a polícia para informá-los que tinha uma criança que, para ela, estava perdida e provavelmente era um índio de alguma reserva.

Enquanto as autoridades não chegavam em Lagoinha, Lúcia limpava e coloca um curativo em seus machucados, pareciam ser feitos pelos galhos de árvores enquanto corria.

A polícia chegou, observou se não havia um corte profundo, e o levou até o centro de polícia em Rio Branco.

Chegando lá, eles perguntaram a Matis seu nome, idade e o porquê dele estar ali.

Matis contou tudo, mas os policiais acharam que ele estava mentindo por não receberem nenhuma informação de fogo ou invasão de alguma reserva, uma criança de 6 anos poderia mentir para fugir dos pais.

As autoridades o enviaram para o orfanato onde já havia pessoas  na lista de espera de uma criança, ele foi enviado para uma família de Xapuri.

Dois dias depois, Matis chegou em uma casa azul escura, com cerca de madeira, e um grande quintal, mais a frente havia uma mulher alta de longos cabelos cacheados castanhos, olhos azuis, usava um vestido amarelo e sapatos pretos, um homem um pouco maior que a mulher, cabelos pretos curto, olhos castanhos, um terno e um sapato social.

Também havia duas crianças que eram seus filhos biológicos, um menino médio, para sua idade, cabelo curto e olhos castanho, tinha um conjunto todo verde com o tênis vermelho, e uma menina, menor que seu irmão, cabelos cacheados e longos pretos, olhos azuis iguais o de sua mãe, usava um vestido roxo claro.

Todos estavam com um sorriso no rosto e arrumados para a ocasião, enquanto Matis, usava a roupa que o orfanato tinha te dado, porque ele havia chegado só com um pano cobrindo suas intimidades. Deram-lhe um conjunto vermelho e um chinelo.

A primeira impressão que passou para os adultos que aquele menino, de cabelos e olhos pretos, com pele avermelhada, pinturas em seu rosto e com uma pena como brinco, iria passar um pouco de trabalho para se acostumar com a cultura daquela família composta de brancos.

A mulher foi a primeira a se aproximar do garoto, mesmo sendo agora seu filho, não iria deixá-lo perder sua cultura original.

   - Oi garotinho! Tudo bem? Eu me chamo Amanda, você vai ficar comigo, não precisa ficar assustado, se os policiais acharem seus pais você vai voltar a morar com eles- pronunciou a última fala com receio- mas se não, você ficará com a gente, tudo bem para você?
   - Sim moça, mas eu vou ver meus pais de novo?
   - Se as autoridades os acharem sim, mas não se preocupe, eu vou cuidar de você muito bem, vamos entrar?

Matis a acompanhou para dentro da casa, entrou em uma cozinha bonita com uma mesa grande de madeira para seis pessoas, se sentaram ali todos com Amanda ao seu lado, e começou a apresentar a todos.

   - Esse é meu marido, Jeferson, meu filho mais velho, Manoel, e minha filha, Ana. E esse é o Matis crianças!

...

Se passou três meses, não encontraram os pais de Matis, estava triste com isso, mas estava feliz, estava bem próximo de Manoel e de Amanda, conversava um pouco com Ana e sentia um pressentimento ruim sobre Jeferson, ele sempre saia de noite e voltava tarde com o cheiro de alguma coisa.

Estava de noite, Manoel compartilhava seu quarto com Matis, os dois sentiam cheiro de queimado, então acharam que sua mãe estava cozinhando e acabou queimando a comida, então se levantaram para ir até ela.

Chegando na cozinha, viram o fogo intenso dominando o ambiente, em desespero, começaram a gritar correndo para o quintal, viram seu pai deitado ali no canteiro, mas não acharam sua mãe nem sua irmã.

Escutaram o barulho dos bombeiros e foram em direção a eles, foram colocados para longe enquanto apagavam o fogo que, agora, estava pela casa inteira.

Os dois foram levados para a delegacia de Rio Branco, pois eles acabaram ficando sem casa e família, descobriram ali que Amanda e Ana acabaram falecendo e seu pai, que havia fama de bêbado na cidade, era o culpado, ele iria acender o cigarro e acabou incendiando a casa, já que ele estava com o álcool do seu lado, ele foi preso, mas não demorou muito, ele faleceu na cadeia.

Os dois ficaram juntos com a promessa de nunca se separarem, pois dali em diante, eram sua única família.

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