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Aqui estou eu, em plena manhã. São exatamente 7:40, e fui acordada pelo barulho de batidas na porta.

— Mas já? Tão cedo...

Começo a me esticar na tentativa de afastar a preguiça... Claro, missão falha. Levanto na força do ódio e vou até a porta para atender. Abro, e lá está o Flávio com meu café da manhã, que aparentemente está em duas sacolas: uma de papel marrom, provavelmente de uma padaria, e a outra é bem peculiar, com o nome de uma loja de roupas. Não sou de comer panos ou tecidos, mas ok.

— Aqui está seu café da manhã.
Ele me entrega a sacola de papel da padaria.
— E aqui está um presente que o chefe mandou.
Me entrega a sacola da loja de roupas. Legal, só falta ser uma lingerie de renda.

— Às 10 horas, venho buscá-la. Você tem que almoçar com o chefe.
— A-a certo. Obrigada.
— De nada.

Ele se vira e vai embora.

Fecho a porta e vou até a cozinha. Começo a tirar as coisas da sacola da padaria: um pedaço de bolo de cenoura e um de leite, meus favoritos, um pastel folhado de queijo, também meu favorito, e suco de laranja, meu preferido. Começo a me servir e a comer, enquanto penso sobre como minha vida chegou a esse ponto. Onde ele me viu pela primeira vez? E por que esperou tanto tempo para falar comigo? Por que se aproximar de mim de uma maneira tão esquisita? O que ele realmente viu em mim?

Por mais que essa situação seja um lixo, eu nunca vivi nada parecido. Minha rotina sempre foi o mesmo cocô de sempre. Nada era fácil, e só complicava. Era triste e chato. Eu me perdia nos livros todas as noites, para poder viver algo diferente, mesmo que fosse só ficção. Mas isso... Por mais que pareça muito ruim — e é muito ruim —, é minha chance de sair da minha própria cova e começar a viver de novo, mesmo que de um jeito maluco. Eu gosto de ser maluca. É bem melhor do que ser a Solfy recepcionista de uma clínica idiota.

Eu realmente tô gostando disso.

Olho para a outra sacola. Não seria tão ruim se fosse uma lingerie de renda. Se ele é louco, eu também posso ser.

Abro a sacola e pego a roupa de dentro dela. É um vestido lindo, muito mais bonito do que qualquer lingerie de renda.

Dentro da sacola há uma carta. Pego-a e leio:
"O verde combina com seus tons alaranjados."

Eu realmente gosto de verde. Amei esse vestido.

Vou até o quarto, visto o vestido e fico horas dançando na frente do espelho. Eu amei esse vestido!
Depois de tirar várias fotos e me arrumar, percebo que já são 9:20. Me apresso para tirar o vestido, tomar um banho rápido e me trocar.

Após o banho e arrumar meu cabelo, estou pronta para esperar o Flávio. Vou até a porta da frente e, minutos depois, ele chega. Fecho a casa e entro no carro. A viagem foi tranquila, mas demorada. Chegamos uma hora depois, já são 11 horas. A casa é linda, não muito grande, mas muito elegante. Os portões se abrem e o carro entra. Flávio sai do carro, abre a porta para mim, e eu o sigo até a entrada.

Uma mulher, aparentando ter cerca de 50 anos, abre a porta, nos cumprimenta, olha curiosa para mim e pergunta:
— Você seria a Solfy, certo?
— S-sim.
— Que bela moça você é. Vamos entrar, o chefe está no quarto, mas logo virá.

Seguimos até a sala principal, que era impecável. Linda de linda, bonita de bonita. Eu sei, sou muito pobre, então tudo isso é encantador demais para mim.

A mulher conversa com o Flávio, e eu me levanto do sofá para explorar as decorações, os quadros e retratos. As pinturas eram expressivas e lindas. Começo a me afastar deles e, quando percebo, estou perdida.
— Droga, é melhor eu voltar.

De repente, vejo um cachorro muito fofo correndo na minha direção. Como uma pessoa comum, comecei a correr também. O cachorro era fofo, mas grande, e eu não sabia quais eram suas intenções.

Corri até avistar uma escada e subi. Tudo que eu queria era fugir do cachorro, que não corria bem em pisos lisos. Encontrei uma porta entreaberta e entrei rapidamente, fechando-a antes que ele conseguisse entrar. Ele começou a arranhar a porta do outro lado. Finalmente, consigo respirar aliviada.

Ainda segurando a maçaneta, suspiro:
— Que bom, consegui fugir. Achei que ele ia me estraçalhar com os dentes.

Dou um sorrisinho, mas ainda estou ofegante e com o coração acelerado.

— Vejo que você conheceu o Mike.

Gelei instantaneamente. Essa voz... Ele estava bem atrás de mim. Não movo um dedo.

Ele riu baixinho, e eu me arrepiei até a sobrancelha.
— Está tudo bem aí, Solfy?

Não respondo.

— Por que não olha para mim? Vamos, vire.

Solto a maçaneta devagar e, sem olhar para trás, respondo, ainda gaguejando:
— T-tá t-tudo b-bem... Seu cachorro me assustou e eu... pensei em me esconder.

— Entendo. Então vire para mim.
— Não, eu vou sair.
— O Mike vai adorar vê-la de novo.

Paro, sem coragem de abrir a porta.
— E eu adoro essa vista. Você de costas deveria ser um quadro.

Instintivamente, viro bruscamente e o encaro furiosa, mas a vergonha e a timidez logo me dominam. Ele não era nada do que eu tinha imaginado. Ele é... lindo.

Congelo, incapaz de dizer nada, apenas olhando para seu rosto, que ri da minha expressão

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Congelo, incapaz de dizer nada, apenas olhando para seu rosto, que ri da minha expressão. Meu rosto está da cor do meu cabelo. Confesso, é a melhor coisa que já vi.

Mas ele continua sendo um bocó tarado... um bocó tarado lindo... Pensa, Solfy, descongele!

— Solfy.
Congelo de novo — merda.

— Venha aqui.
Não me movo.
— Ok, então eu vou.

Ele começou a caminhar na minha direção. Seus cabelos castanhos médios e olhos claros me travaram.
— Estar de frente com você é bem mais gratificante.

Viro o rosto, mas ele segura meu queixo com os dedos, me obrigando a encará-lo de novo. Ele se aproxima do meu pescoço. Ele é mais alto, mas eu também sou alta, então ele não teve muito trabalho. Ele se aproxima ainda mais e começa a sentir meu cheiro.

— Amo seu cheiro.

Então, ele começou a dar beijos lentos no meu pescoço. Estou corada demais. Nunca nem beijei um garoto, então isso é muita coisa para mim. Empurro-o, abro a porta e entro correndo no quarto em frente, fechando a porta antes que o Mike apareça.

Suspiro, tentando me acalmar e normalizar a respiração...

O que foi isso que acabou de acontecer?

Meu Stalker [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora