Princesa Safira - Volume 1

Capítulo 2| Entre Vestidos e Conflitos: A Escolha de Safira

Acordei numa manhã de outono, com as folhas caindo das árvores por todo o reino. Anne me avisou que hoje seria o dia exato para provar meu vestido para o casamento e a coroação. Eu estava desanimada, já que o compromisso deveria ter ocorrido no dia anterior, mas foi adiado por causa do jantar real. Nunca houve esse tipo de adiamento com os compromissos dos meus pais… Era estranho, mas preferi não questioná-los.

Chegamos ao local onde escolheríamos o vestido de noiva. Meus pais queriam algo mais clássico, elegante e refinado, mas eu queria algo que refletisse meu próprio gosto. A costureira me mostrou vários vestidos volumosos e pomposos. Eram bonitos, confesso, mas não faziam meu estilo… até que dois me chamaram a atenção.

– Moça, gostei desses dois aqui – apontei para dois vestidos pretos sobre o banco.

– Oh, sim, majestade.

– Você não usará essa coisa no seu casamento, Safira – disse a Rainha, com firmeza.

– O casamento é meu, mamãe. Eu quero escolher meu vestido – respondi com determinação, enfrentando o olhar furioso da Rainha.

– Não concordo com isso, Safira. Não escolha um vestido tão chamativo. Use um branco.

– Não. O casamento é meu – virei-me para a costureira. – Vou levar os dois, e no dia escolho conforme o penteado.

– Não acredito no que estou ouvindo. Por que dois? – questionou minha mãe.

– Mãe, posso levar esses dois vestidos?

– Safira, você sabe que não concordo. Vestidos pretos são para bruxas ou feiticeiras.

– Menos preconceito, mamãe. Vou levar os dois – disse, caminhando em direção à saída. – Vamos, mamãe.

– Buscaremos os vestidos dois dias antes do casamento. Espero que estejam impecáveis – disse a Rainha, saindo do local. – Vamos, Safira, você tem passado dos limites ultimamente.

– Perdão, mamãe, mas essa sou eu, desculpe – falei enquanto caminhávamos de volta ao castelo.

– Mude. Você está me dando desgosto – disse a Rainha, desapontada.

– Lamento, mãe. Lamento que você me veja como um desgosto ambulante – uma lágrima escorreu pelo meu rosto.

– Por que você é assim? Por que não pode ser como eu?

– Eu não sou você, e não quero ser. Não vou me tornar uma pessoa fria quando minha filha crescer.

– Não use isso contra mim.

Ao chegarmos ao castelo, minha mãe não olhou mais para mim. Fui direto para o quarto e, ao me sentar na cama, desabei em lágrimas. Essa relação tóxica entre nós estava me sufocando. Chorei por tanto tempo que nem percebi quando alguém entrou no meu quarto.

– Está tudo bem, princesa? – uma voz familiar ecoou em meus ouvidos.

– Ah?... Jack, o que faz aqui? – perguntei, enxugando as lágrimas. – Não deveria estar provando sua roupa para o nosso casamento?

– Fui mais cedo. Depois de sair de lá, vim conversar com seu pai e decidi dar um oi para Vossa Majestade – disse ele, sentando-se ao meu lado.

– Ah, sim. Estou bem, antes que pergunte.

– Princesa, você não precisa esconder o motivo das suas lágrimas – ele colocou a mão no meu ombro.

– Minha mãe, Jack… Ela me acha um desgosto, tem nojo de mim. Disse coisas que não param de me atormentar… – as lágrimas voltaram a cair. – Não quero atrapalhar seus compromissos com o Rei.

– Não vai atrapalhar, princesa. Meus compromissos estão resolvidos. Ei… você não é um desgosto, você é uma princesa – ele me abraçou.

– Obrigada, Jack, mas agora preciso me trocar… Tenho que ver a decoração do nosso casamento.

– Tudo bem, alteza, nos vemos por aí.

– Ah, Jack, obrigada pelo abraço, viu? – sorri levemente e me aproximei para beijar seu rosto. – Tchauzinho – disse, fechando a porta.

Depois de me trocar, fui escolher a decoração do casamento. Cada detalhe era lindo. Escolhi o que achei que tanto eu quanto Jack gostaríamos.

Voltei ao castelo exausta. Não tinha falado com minha mãe e me sentia mal, mas precisava continuar com meus afazeres. Não tinha tempo para nada, mas à noite precisaria ir ao jantar com meus pais e com Jack. Como futuro marido, ele deveria participar dos nossos jantares reais.

Era sempre interessante jantar com Jack, pois ele conseguia melhorar o clima entre mim e meus pais. Cada vez que ele participava, eu conseguia me comunicar sem que meus pais tentassem me moldar a todo momento.

O jantar terminou, Jack e eu nos despedimos, e fui para o meu quarto, acompanhada de Anne. Sempre ríamos juntas; ela me fazia sentir bem. Vesti meu manto preto e decidi sair novamente do castelo. Verifiquei se havia algum guarda por perto, mas não havia ninguém, então saí. Sempre me divertia muito quando deixava o castelo e encontrava as pessoas pelo reino. Mas, quando a noite avançava, eu precisava voltar. E, embora cansada, sempre voltava feliz.