ᴘᴜʀᴘʟᴇ || ꜱᴛᴇʀᴇᴋ [ᴀ.ᴜ]

Piloto

Roxo nunca fora a cor favorita de Stiles Stilinski, mas ele não poderia mudar o fato de que sua vida era regida por ela. Não quando sua "habilidade" especial era ver o espectro de cores emocionais das pessoas através do roxo predominante. Poderia ser qualquer cor — qualquer uma mesmo —, mas sua visão sempre se tingia de roxo. Era sempre nesses momentos que as emoções o inundavam, todas de uma vez, e ele se via sentindo dores, angústias, amores, ódios, e vários sentimentos alheios que não lhe pertenciam.

Com muito esforço e dedicação, Stiles aprendera a controlar sua estranha habilidade. Levou tempo para conseguir enxergar o mesmo que qualquer outro adolescente da sua idade, o que era uma benção, até porque a adolescência era a fase em que os sentimentos e emoções estão todos um bagunça, e Stiles definitivamente não queria estar sintonizado com o caos de centenas de alunos, muito obrigado.
E também havia seu grande problema pessoal: ele não queria sentir mais do que o necessário. Pelo menos não depois daquilo.

Pior do que ser um adolescente esquisito que sente e vê emoções alheias, é ser uma criança esquisita que simplesmente não consegue bloquear tudo aquilo da própria mente. Durante sua infância, Stiles via e absorvia mais do que era saúdavel para ele, principalmente quando estava muito consciente do sofrimento da sua mãe, enquanto ela definhava pela doença. Ele se culpava por não poder ajudá-la, se culpava por saber o que sabia e não ser capaz de diminuir seu desespero. E sofria junto com ela, absorvendo sua dor, sua tristeza, sua angústia e confusão.
Quando ela morreu, Stiles passou muito tempo sem ver cor alguma. Tudo era cinza. Embora ainda sentisse vagas sensações das emoções das pessoas ao redor, era tudo muito fraco e distante para se prender nisso — como um rádio mal sintonizado, ou ecos atráves de uma barreira. Assim, tudo o que existia para o garoto era seu próprio luto, sua dor e seu vazio.

E depois houve Scott Mccall.

Os dois se conheceram dois anos antes, quando ele e sua mãe, Melissa, se mudaram para Beacon Hills. Ela acabou sendo enfermeira de Claudia Stilinski na etapa final da doença, o que fez os dois garotos passarem bastante tempo juntos. Em consequência, se tornaram melhores amigos, absolutamente inseparáveis.
Scott percebeu muito rápido que havia algo de "especial" com seu amigo, e Stiles ficou aliviado por poder falar sobre isso com alguém que não fosse exclusivamente seu pai ou sua avó paterna (a única da família, além dele, que tinha o dom).
Sem ter a menor ideia, o pequeno Mccall se tornou uma das únicas pessoas que, anos mais tarde, conseguiriam tirar Stiles do enorme nada em que ele se tornara.

E, apesar de tudo, estar tão sintonizado com as emoções do seu amigo fez as coisas se tornarem mais fáceis para Stiles, quando ele finalmente voltou a sentir. Scott era como um farol, o ajudando a manter o foco e a sanidade, o impedindo de se afogar na imensidão agitada de cores e sentimentos confusos que eram as pessoas em volta. E então, ele aprendeu a bloquear. Conseguia, na maior parte do tempo, é claro, manter a visão limpa e sentir apenas suas próprias emoções. Havia dias bons, onde conseguia se manter focado, mas também haviam os dias ruins, e nesses dias ele se sentia péssimo. Nunca conseguira se libertar totalmente de tudo o que absorveu da mãe, e isso sempre voltava quando era atacado pelas emoções alheias. Era um saco. Principalmente quando, depois disso, vinham os pesadelos e os ataques de pânico.

Stiles aprendeu a mentir sobre eles para o pai e para Scott. Eles não precisavam saber que, apesar de todo o esforço deles, aquele nada ainda estava bem ali, pronto para engolí-lo na primeira oportunidade. O Stilinski mais novo sabia que era apenas questão de tempo. Mas isso não impedia o Xerife de, todo ano, mandar seu filho para a casa da mãe, pelo menos três semanas durante as férias de verão, para que ela pudesse ajudá-lo a entender e controlar sua habilidade.

E foi durante uma dessas visitas que algo mudou drásticamente.