ᴘᴜʀᴘʟᴇ || ꜱᴛᴇʀᴇᴋ [ᴀ.ᴜ]

0.1 • Dois Hales e um Mascott

— Pai, sério, eu cheguei bem! — o garoto soou impaciente, mas era possível ouvir o riso em sua voz. — Pode parar de se preocupar, Sr. Xerife.

Stiles não queria, nem por um momento, ser rude com o pai. Noah se culpava constantemente por ter se afastado por mais de um ano, depois da morte de Claudia. Stiles não o culpava por ter quase se tornado alcoólatra, uma vez que amou a esposa profundamente e sofreu muito durante todo o tempo que ela esteve doente. Mas, ainda assim, Noah deixou Stiles lutar com tudo aquilo sozinho, e se culpava por que, quando percebeu o que estava fazendo, seu filho também estava escapando pelos seus dedos.

— Desculpe, filho — ele ouviu o pai murmurar, parecendo genuinamente pesaroso. — Era minha obrigação te buscar, pelo menos na rodoviária.

— Pai, não — Stiles segurou o celular na orelha com o ombro, enquanto contava o dinheiro destinado às compras da casa. — A culpa é minha por ter dado a louca de voltar pra casa antes do combinado — suspirou, colocando a quantia na carteira. — De qualquer forma, eu engordei uns dez quilos nos treze dias que fiquei na vovó, meus jeans quase não cabem. Mais alguns dias e eu poderia vir rolando de Los Angeles pra cá.

Os dois riram.
Stiles lhe garantiu que ficaria bem, e que passaria no supermercado para fazer as compras da semana, já que a geladeira e o armário estavam praticamente vazios.

— E vai procurar o Scott? — Noah foi certeiro e sagaz.

— O tapado não me atende, não tenho escolha — ele respirou fundo. — Tia Melissa 'tá maluca, ele nem fala direito com ela. Não posso deixar eles na mão.

— Toma cuidado.

— Pode deixar.

Depois de desligar, o adolescente buscou pela sua última conversa com Scott no aplicativo de mensagem. Elas pareciam ainda mais suspeitas nos últimos dois dias.

||"Eu tô bem, Sti, caramba!"
||"E para de ficar ligando pra minha mãe"

Sim, claro, como se ele fosse realmente deixar de lado o fato de que seu melhor amigo não deu notícias por quatro dias seguidos, quando antes se falavam pelo menos uma vez por dia. Não era natural, e nenhum dos dois tinham muitos outros amigos. Logo, tinha alguma coisa errada, e tia Melissa sabia disso, porque estava prestes a ligar pra ele, quando ele ligou.
Stiles respirou fundo, sabendo que precisava abrir suas barreiras mentais por vontade própria e procurar pelas emoções familiares de Scott.

Sua avó explicara certa vez que cada pessoa tem um espectro emocional singular. Embora cada emoção tivesse uma cor diferente, o tom que ela brilhava em cada um era uma coisa particular, que ninguém poderia ter igual. Funcionava melhor se o empata conhecesse bem a pessoa dona do espectro, e se já estivesse habituada com ele. Não seria muito difícil, principalmente se Stiles fizesse isso num lugar mais sossegado, como a estrada que cortava a reserva.

Sua surpresa foi ter identificado o espectro do amigo mais perto do que imaginava, a poucos quilometros dele. Franziu a testa, percebendo que embora suas emoções parecessem as mesmas, a sensação era estranha. Tinha alguma coisa errada com Scott. Seguiu com seu jeep azul, sem perder seu rastro, e o encontrou na propriedade Hale. Que diabos ele estava fazendo ali?
As ruínas da mansão ainda pareciam macabras, e Stiles quase podia sentir a dor e o desespero impregnados ali; os fantasmas que uma tragédia sempre deixava pra trás. Stiles desceu do jeep, colocando a mão na parede da ruína, os olhos fechados pela a sensação esquisita que estava sentindo ali... quase como se algo estivesse fora do lugar... algo que não é o que parece...

— O que está fazendo aqui?

Ele pulou de susto, a conexão esquisita com a casa se desfazendo mais rápido do que tinha aparecido. Tentou focar a visão, bloqueando o fluxo de emoções. Não tinha tempo pra elas agora.
O homem parecia irritado — isso ele conseguiria ver até mesmo sem os poderes empáticos —, e era estranhamente familiar. Bonito, sim. Olhos verdes, cabelos pretos, barba por fazer e pele bronzeada. Quem usava jaqueta de couro no calor do inferno da Califórnia? Continuou olhando pra ele, parecendo idiota tinha certeza, e sua mente deu um estalo. Levando em consideração ao espectro emocional dele, o lugar onde estavam, e sua aparência familiar, Stiles percebeu quem ele era.