Além de Você: O começo

Prólogo

― Corra. AGORA!

― Não, mãe, por favor, não.― Meu choro intensificou.― Eu não posso ir sem você, não posso deixa-la.

Passos foram ouvidos no corredor ao lado e tanto eu como minha mãe sabíamos de quem se tratava, era ele. Ele nos encontrou. Ela olhou nos meus olhos e eu pude ver o medo estampado neles, ela estava assustada com quem quer que estivesse nos perseguindo. Não sei o que estava acontecendo, mas a grande rainha de Terrass não parecia ela mesma.

― Agora, não temos mais tempo. Vai.― Disse ela com pesar, me empurrando para longe de seu corpo.― Você precisa ir meu amor, lembre-se que não importa o que aconteça, eu amo você. Cuide-se e encontre alguém pra sair daqui e fugir para longe, mamãe te encontra daqui a pouco.

Com bastante esforço, consegui dá as costas e correr. Olhando para trás consegui enxergar que ela estava virando-se de costas para mim. Com um gesto de mãos, uma parade invisível foi erguida. Mas eu sabia que não seria o suficiente, assim que ele chegou próximo o suficiente para por suas mãos na barreira, uma chama infernal começou a passar da sua palma para toda a extensão, queimando toda a parede gradativamente. Não consegui ver mais nada, dobrei os corredores em busca de alguém que pudesse me ajudar. Sei que a Rainha pode se proteger e tem bastante poder para isso, só preciso obedecê-la.

Estava correndo há bastante tempo, já não aguentava as dores que assolava minhas pernas. Estavam doloridas, por isso parei ao lado da parede mais próxima e deslizei até estar sentado ao chão. Precisava descansar, mas também não queria perder tempo e deixar minha mãe sozinha com aquele homem. Sei que ela ficou pra que eu pudesse encontrar alguém e sair daqui, mas eu não a deixarei para trás.

Segundos depois começo a ouvir passos próximos a mim. Tomo impulso no piso empoeirado e me levando rapidamente, me deparando com...

― Levi? ― A voz atrapalha meus pensamentos e me faz virar em sua direção. ― É você? O que está fazendo aqui?

― Raven? O que "Você" está fazendo aqui? ―Gesticulo com as mãos para enfatizar o fato de que ele não deveria estar aqui. ― Você não deveria estar com a caravana a caminho do submundo e ter a audiência com meu tio? O que houve?

Raven me observa em silêncio, parece diferente, acuado demais.

― A gente teve um contratempo no caminho por causa de uma mensagem do reino, sendo assim, tivemos que voltar. ― Disse, aproximando-se de mim.― O que houve com você? estava chorando?

― Reven...― Não aguentei, desmanchei em lágrimas novamente. Caminhei em sua direção e fui recebido por um abraço quentinho que sempre seria meu porto seguro.

― Não chora, Baixinho...― Disse ele, acariciando meus cabelos com seu típico cafuné confortador, eu amava seus cafuné.― Me diz o que está acontecendo, o reino todo lá fora parece silencioso demais, e o castelo nem se fala, tá deserto.

Respirei fundo e me afastei, decidido a explicar o que eu sabia. Raven sempre me ouviria e me ajudaria, mamãe disse que eu precisava sair daqui, sei que ela logo virá ao meu encontro. Só preciso me afastar e esperar, ela é capaz de muita coisa e uma delas eu sei que é acabar com aquele homem.

Depois de quinze minutos inteiros explicando o que estava acontecendo, finalizei com um enxugar de lágrimas e um último soluço.

―Ok...― Disse ele começando a andar em direção a saída, quando ver que não estou o acompanhando, vira e me encara. ― Vamos logo, temos que obedecer sua mãe e te tirar daqui, não deixarei ninguém te machucar.

Com passos contidos, ando em sua direção até estar caminhando ao seu lado. Olho para o seu rosto e observo sua mandíbula trincada. Ele parece tenso, com raiva, não sei bem como definir.
Depois de minutos de caminhada que mais me pareceram horas, chegamos em uma área escura que não reconheço, mas acho que estamos nos aproximando da saída. Uma porta a esquerda é aberta. Reven toma a minha frente e conjura uma chama no seu punho direito que ilumina os arredores, quem passa pela porta me enche de alívio e felicidade. Ela está bem.

Depois de chama-la e tomar o espaço a frente do meu amigo, espero que ela me perceba e após acontecer, vejo seus olhos dobrando de tamanho e ela gritar o meu nome. Mas já era tarde demais.

Raven sempre foi meu melhor amigo, meu primeiro amigo. Desde os meus nove anos de idade que estamos juntos. O conheci embaixo de uma árvore exatamente ao meio dia, ele estava treinando um combate corpo a corpo com um boneco de madeira invocado, quando ele me notou, passamos a ficar inseparáveis. Ele era mais velho três anos, então ele já era bem maduro, e eu? Eu era um simples bebê chorão que precisava dele até para passar em um túnel escuro. Raven sempre cuidou de mim e me protegeu dos perigos iminentes. Sempre esteve comigo em momentos de tristeza e felicidade. Sempre me fez sorrir e fazia de tudo pra ser o motivo do meu sorriso.

Hoje isso se encerra, o Raven que eu conheço não quer mais me fazer feliz ou me proteger. Digo isso justamente por estar com um punhal na minha jugular, preso em minha garganta e me fazendo sangrar até perder as forças das minhas pernas e cair no chão. Minha visão está turva e estou perdendo meus sentindos, mas tudo passa muito rápido: Minha mãe explodindo em luz e destruindo todo o subterreo do castelo. Raven usando a chama para cobrir seu corpo e assim desaparecer. As paredes caindo ao nosso redor.

Acho que estou morrendo, não sinto mais meu corpo. Sinto lágrimas molharem meu rosto, lágrimas de dor e medo. De ódio.
Ao perceber que tudo está chegando ao fim, olho uma última vez para o rosto da pessoa que confiei a minha vida toda e que agora será o causador da minha morte, aquele rosto lindo e... Triste?

Ao me encarar, percebo uma lágrima em seu olho direito, mas acho que pode ser impressão minha por estar com a visão turva. Ele acabou de me apunhalar e estou morrendo por isso, claro que ele não choraria. A nossa vida foi uma mentira, ele sempre desejou isso. Ele está do lado dele, daquele que me quer morto.

Olho para cima mais uma vez e... Nada.

POV Raven:

A última imagem que tive dele antes de partir foi do seu corpo morto, com sangue ao redor encharcando suas lindas vestes cinzas. Ele estava com os olhos abertos olhando para o nada, vazios, sem vida. Porque ele estava morto. E eu fui quem o matei. Eu matei a pessoa mais importante da minha vida. Agora irei viver com a sombra da sua morte e o peso de ser o causador dela.