Prado

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Voltar a passar pelos nossos caminhos significa relembrar,
relembrar-me do teu quarto,
da colcha com um retrato,
até da quinta gigante que sempre fizeste questão de me mostrar,
desde aos cães, aos portões que nunca te fizeram parar,
a lasanha congelada que,
"acidentalmente", a tua mãe costumava comprar.

Do último dia de férias sempre passado ao teu lado,
constantemente a ambicionar por mais um bocado,
para que o verão não acabasse,
como se nunca tivesse começado.

Ainda me lembro como se fosse presente,
a gaveta onde guardavas o teu dinheiro,
fiquei contente,
por teres confiado,
apesar de que tudo o que lá tinhas ser um trocado.

Caminhar é relembrar do gosto a ferro tipico da água da tua torneira,
dos cães bebés que me forçavas a ver,
e eu dizia "vais me obrigar, ainda que não queira?"
sorrias e seguias,
como sempre fizeste,
mas sinceramente,
nunca te segui contrariada,
aliás, era assim que me fazias sentir amada.

Passar por este prado,
onde caminhavamos como tigres,
entre o trigo,
não éramos tristes,
agora,
resta o conto inacabado,
que apenas existia,
porque foi imaginado.

Relembrar é cuidar,
das memórias criadas,
mesmo agora, que te sinto tão passado,
e preciso de mais um bocado,
contigo aqui ao meu lado,
neste rio gelado,
gostaria que este prado,
não servisse apenas para seres relembrado.

Um dia, as nossas histórias tão passadas,
ainda vamos terminar.

LacunaOnde histórias criam vida. Descubra agora