𝟏𝟎 𝐘𝐄𝐀𝐑𝐒 𝐋𝐀𝐓𝐄, miguel o'hara

𝐂𝐀𝐏𝐈́𝐓𝐔𝐋𝐎 𝐈, unexpected visit

NARRADOR OBSERVADOR

       O clima estava ameno naquela manhã de setembro, onde o quarto amplo do hotel luxuoso era iluminado pela luz furtiva do sol através da fresta aberta da janela, permitindo que o vento gélido daquele dia preenchesse o quarto, fazendo com que algo em baixo do edredom branco de linho fino se revirasse sobre o colchão a fim de escapar da brisa, uma mulher.

       Ainda sonolenta, a mulher debaixo das cobertas abriu vagarosamente seus olhos (cor), erguendo o torso e se apoiando sobre os cotovelos enquanto seu olhar percorreu por todo o quarto como se tentasse se recordar dos acontecimentos da noite passada a procura do motivo, meio e como foi parar ali. Seu corpo estava um pouco dolorido embora sentisse uma forte sensação de satisfação e realização, era estranho mas era bom.

       Esfregando os olhos com a ponta dos dedos, ela se sentou completamente sobre a cama queen-size e olhou para o espaço vazio ao seu lado naquele colchão macio e de lençóis finos, notando que havia os vestígios de um outro alguém deixado sobre o tecido amassado. Sob a cabeceira da cama havia uma garrafa de vinho tinto pela metade e duas taças de cristal com o resíduo escasso ainda no fundo, tal como algumas peças de roupa desengrenhadas que claramente foram jogadas aleatoriamente sobre a madeira escura do criado mudo. Foi então que tudo veio a tona em sua mente, as lembranças da noite a dois que tivera em um flash de imagens em seu subconsciente ainda absorto e grogue de sono, fazendo sua cabeça doer em confusão.

       Logo, já desperta e acordada, a mulher levantou-se da cama e, notando sua nudez, se dispôs a apanhar o punhado de suas roupas espalhadas pelo quarto e seguiu, ainda confusa, para o banheiro onde se banhou com a água morna do chuveiro elétrico do quarto. Tudo parecia tão confuso. Seus músculos relaxaram aos poucos enquanto a água escorria por sua pele e suas mãos percorriam o seu corpo ensaboado a fim de se limpar dos resíduos da noite passada.

       Com uma expressão atordoada, a mulher enfim desligou o chuveiro, se vestiu com o roupão de lã posto sobre o cabideiro atrás da porta e saiu do banheiro, com uma toalha em seus cabelos e sua mente a mil. Quando tornou a se aproximar da cama, tentando processar tudo que aconteceu, ela pôde notar um pequeno pedaço de papel em baixo de uma das taças de vinho e, intrigada, ela o pegou e leu. Foi então que sua expressão mudou instantaneamente enquanto lia palavra por palavra da mensagem escrita a mão que dizia:

    ❝Foi bom enquanto durou, cariño.       
¡Hasta luego!                                         
          P.S: já paguei o check-in do hotel,         
     não se preocupe e, por favor,             
não me ligue.❞                                      
                                                                     – Miguel

        Ainda perplexa, seus lábios se curvaram para um sorriso irônico enquanto se sentava na cama, amassava o papel em mãos e o jogava em um canto qualquer do quarto.

     ━━ Você é realmente um idiota. – ela sussurrou para si enquanto deitava na cama de novo, olhando para o teto totalmente arrependida de ter caído nos encantos de Miguel O'Hara.

QUEBRA DE TEMPO

       Era tarde da noite quando Miguel O'Hara, um homem de cachê notório e muito bem conhecido por sua boa lábia com mulheres, estava em mais um encontro naquela semana em um restaurante luxuoso na região central de Nueva York. Trajado de um belo terno de linho fino e sapatos caros, o homem estava assentado a mesa iluminada por velas aromáticas em um canto afastado do recinto privativo junto à uma bela mulher que, obviamente, caíra nos encantos do cortejador nato. Seu olhar femeeiro fitava a dama com sedução enquanto bebericava do champagne gelado em sua taça de vidro, jogando conversa fora com a paquera, claramente apenas com intenções de algo rotineiro e não fixo. Ele era livre. Então para quê gastar seu tempo com um relacionamento sério quando se pode ter tudo o que quer a qualquer momento sem preocupações? Só a diversão basta.