II

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Ramiro trabalhou o dia inteiro desconcentrado, derrubando as coisas e errando os caminhos. Mas ao mesmo tempo andava como um bicho que tenta evitar um predador. Até evitou falar com os colegas, com receio de que percebessem algo diferente.

No fim do dia, entrou na caminhonete e ficou por alguns instantes paralisado, com o pensamento longe. Pegou o celular e abriu na foto do bumbum empinado de Kelvin. Ponderou que devia ter apagado aquela foto, mas não conseguia. Sentiu um arrepio percorrer seu corpo, e guardou o celular depressa. "Não posso, não posso...", murmurou angustiado. Deu partida no carro, com intenção de ir para casa, se trancar no seu quartinho. Mas quando deu por conta, estava na frente do bar. Como se as forças lhe faltassem, ficou ali parado dentro do carro, sem qualquer reação.

Como se captasse a presença do peão, Kelvin veio depressa de dentro do bar:

- Ramis, você veio me ver? - questionou num tom manhoso.

- Eu nem sei porque que tô aqui - o moreno respondeu de um jeito assustado.

- Deve ser saudade - insinuou o loiro, sem tirar os olhos do outro.

O olhar de Ramiro confirmava, mas ele não conseguia dizer em voz alta que concordava com Kelvin. Num rompante desesperado, o peão deu partida no carro e sugeriu ao rapaz:

- Entra, melhor a gente conversar noutro canto. Aqui passa muita gente...

- Não precisa pedir duas vezes - o loiro sorriu, entrando depressa, e antes mesmo que fechasse a porta o outro já estava movimentando o veículo.


Ramiro só parou a caminhonete quando estavam afastados da cidade, perto do rio onde tentara se livrar daquela tentação. Ele ficou parado, olhando para a direção do carro, sem saber como começar. Cuidadosamente, Kelvin fez um carinho nos cabelos e no rosto do moreno, que não esboçou movimento. O loiro sorriu, emocionado com aquele momento, talvez a primeira vez em que o peão não fugia do seu afeto. Mas ao mesmo tempo estava preocupado, porque nunca tinha visto seu amado tão apático.

- Ramis, Ramis... eu imagino que você esteja assustado - Kelvin comentou devagar, escolhendo cada palavra - Mas não tem nada de errado no que você tá sentindo, no que tá acontecendo aqui...

- Pra mim sempre foi errado, mas parece que não tem jeito, quanto mais eu tento fugir, mais eu penso, mais tenho aqueles sonho... - a voz de Ramiro saía embargada - E cada vez fica pior... Qué dizê, não pior de ruim, mas com mais safadeza, entende.

Kelvin não queria parecer estar gostando do sofrimento do moreno, mas não conseguiu evitar totalmente um sorriso no canto dos lábios, diante daquela revelação. Suspirou, buscando um tom sério, mas não encontrava o que dizer. Então cantarolou, suavemente:

"O que não tem mais jeito de dissimular
E que nem é direito ninguém recusar
E que me faz mendigo
Me faz suplicar

O que não tem medida, nem nunca terá
O que não tem remédio, nem nunca terá
O que não tem receita"

O peão finalmente olhou para o rapaz, admirando-o enquanto cantava.

- Ocê fica mais bonito ainda cantando... - Ramiro murmurou quase sem notar que as palavras saíam.

O rosto de Kelvin iluminou-se diante daquela declaração do moreno. Vindo de quem vinha, era uma conquista muito grande.

- Canto mais se você quiser... - respondeu o loiro, num tom apaixonado.

Ramiro ficou desconfortável de novo, mas não desviou o rosto dessa vez. Respirou fundo e perguntou com uma franqueza quase infantil:

- Como que ocê consegue não se importar com o povo fala? As piada, as troça, as maldade...

Kelvin respondeu como um desabafo:

- Ah, eu tive que acostumar, né? Sempre fui assim, espalhafatosa. A criança viada, sabe? Era eu... A bichinha da escola. Bichinha era o mais suave que eu ouvia, hein. Mas esse é meu jeito. Eu podia até me vestir mais discretinha, mais básica. mas não adiantava. Era o Bambi vestido de jeans e camiseta, dava muita pinta. Então, sempre ouvi todo tipo de coisa, o jeito foi se acostumar e tentar fazer a egípcia - ele virou o rosto, imitando os desenhos egípcios.

- Egi...egi...picia? - Ramiro nem sabia dizer aquela palavra direito, quanto menos entender a gíria.

- É, fazer que não tá vendo nem ouvindo - o loiro tampou os olhos e depois os ouvidos com as mãos.

- Ah... não sei se eu sei fazê isso não.... Quero logo descer o braço nesses besta...

- Humm, com um braço desse tamanho você faz panqueca deles. Mas não compensa. Melhor usar pra me dar apertão...- o outro retrucou, com um jeito sedutor.

Os olhos de Ramiro brilharam, enquanto a mão procurava a cintura do outro e pressionava com vontade..

- Cê gosta, né, safado... - murmurou, enquanto chegava cada vez mais perto de Kelvin.

- Adoro - respondeu o loiro, já com a respiração diferente.

Ramiro contemplou os lábios de Kelvin, sentindo-se atraído como se tivessem imã. A mão que estava na cintura subiu para as costas e puxou o loiro para mais junto. Com o coração acelerado, o moreno juntou seus lábios aos de Kelvin, primeiro de um jeito desajeitado, depois ficando cada vez mais voraz, como se fosse engolir o outro. Conforme a intensidade aumentava, Ramiro foi trazendo o loiro para seu colo. E assim que pôde, Kelvin encaixou as pernas em volta do quadril do moreno, de modo que seus membros estavam praticamente se tocando, separados apenas pelas roupas. Sentindo aquele encontro de excitações, o peão soltou um gemido forte. A mão nas costas desceu novamente e foi entrando no short do loiro, sentindo o calor e a textura daquelas nádegas. A pele era macia, mas a musculatura firme. Kelvin tentou fazer o mesmo, mas sua mão não ficou no bumbum forte de Ramiro, logo deslizou para a frente procurando o falo rígido. Ao sentir o toque dos dedos em seu órgão, o moreno empurrou o outro e saiu do carro depressa, como se tivesse retomado a consciência e voltado a se sentir errado.

Kelvin, atordoado com aquele momento de entrega que tinham experimentado, demorou uns instantes para ir atrás do peão, que estava recostado em uma árvore, com a respiração acelerada e o olhar desconcertado. Enquanto o loiro se aproximava, Ramiro pensava em fugir, mas as pernas não o obedeciam..

Não dá pra fugirOnde histórias criam vida. Descubra agora