I'll be home

Nothing's gonna happen

A manhã irrompeu fria e tardia, um cenário incomum para a rotina matinal de Miranda. No entanto, a cena não era estranha para Andrea, que se encontrava imersa no conforto do pesado edredom. Os primeiros raios de sol filtravam-se pelas cortinas, iluminando o quarto de maneira suave e revelando os contornos delicados do rosto de Miranda. Andrea observava, imóvel, como se o mundo exterior não existisse naquele momento.

O coração de Andrea acelerou, uma mistura tumultuosa de sentimentos a atingiu como um soco. Ela sabia que o tempo entre elas estava se esgotando, que a realidade da Palestina estava à espreita para levá-la de volta, afastando-a de Miranda e de tudo o que haviam compartilhado.

Seus olhos vagaram para suas próprias cicatrizes, marcas visíveis das batalhas que travou. A dor física que elas representavam ecoava a dor emocional que Andrea sentia, a consciência de que sua presença poderia estar causando danos à mulher adormecida ao seu lado.

Finalmente, Andrea desviou o olhar para Miranda. Seu semblante sereno, os traços delicados do rosto, tudo isso intensificou a sensação de perda que se insinuava em sua mente. Um nó se formou em sua garganta, e Andrea sentiu um impulso avassalador de tocá-la, de gravar cada detalhe na memória antes que fosse tarde demais.

Andrea estendeu a mão hesitante, tocando de leve a pele quente de Miranda. Seus dedos se moveram suavemente, desenhando os contornos do rosto com a reverência. Miranda era um quadro perfeito diante de seus olhos, uma visão que enchia seu coração de tristeza e gratidão simultaneamente.

Quando os lábios de Andrea encontraram os dela, um beijo suave e profundo, as emoções fluíam como uma torrente. Era um beijo carregado de paixão e de uma melancolia que nenhum deles ousava expressar em palavras naquele momento.

— Bom dia. — A voz sussurrante de Andrea quebrou o silêncio da manhã, trazendo consigo um misto de alegria e angústia.

— Bom dia. — Miranda respondeu, sua voz ecoando com um toque de surpresa e contentamento.

Elas se perderam naquele momento, em um beijo que falava mais do que as palavras jamais poderiam. O tempo parecia suspenso enquanto seus corações batiam em uníssono, como se estivessem compartilhando um único fôlego.

Quando os lábios se separaram, Andrea olhou nos olhos de Miranda, buscando algum sinal, alguma pista de que ela entendia a profundidade de seus sentimentos conflitantes. As mãos de Andrea traçaram o contorno dos lábios de Miranda, sua expressão um misto de desejo e preocupação.

— Miranda... — Andrea começou, sua voz carregada de tensão.

— Shh... — Miranda interrompeu-a suavemente, pressionando um dedo contra os lábios de Andrea. — Não precisamos falar disso agora.

Elas compartilharam um olhar intenso, uma comunicação silenciosa que transmitia mais do que as palavras jamais poderiam. No fundo, ambas sabiam das dores e dúvidas que carregavam, mas precisavam de alguns minutos naquela estranha paz da manhã tardia.

*

A noite havia passado em um turbilhão de emoções e intimidade entre Andy e Miranda. No silêncio do quarto, a manhã clareava timidamente, lançando uma luz suave sobre o ambiente. Andy estava acordada há algum tempo, observando a cidade pela janela. Ela sentia o peso de tudo o que estava acontecendo, as palavras inacabadas, as perguntas sem respostas, as dúvidas que ainda pairavam no ar.

Andy se moveu com cuidado, tentando não acordar Miranda. Ela caminhou até a janela, olhando para fora, enquanto seus pensamentos se desenrolavam em sua mente. O sol da manhã iluminava a cidade, mas dentro de si, ainda havia uma sombra de incerteza.