CAPÍTULO 17 - HORA DA VERDADE

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- Com licença, diretor... - digo, correndo até a Zoe.

Ela corre olhando para baixo, com a respiração ofegante. Ela entra no banheiro feminino e a vejo limpar as lágrimas em frente ao espelho. Ela está passando as mãos pelos cabelos loiros, seu rosto vermelho de chorar.

- Calma... respira fundo... - as escuto dizer.

Estou escondida atrás da porta do banheiro, escutando o que ela diz.

- Não seja dramática... - ela diz, tentando segurar o choro - Um rosto bonito vai tornar as coisas melhores? 

O que ela está querendo dizer?

De repente a escuto cantar uma música em meio as lágrimas. Uma que reconheço bem. Ela canta bem baixinho a música Mr. Potato Head da Melanie Martinez.

- Kids forever, kids forever. Baby soft skin turns into leather. Don't be dramatic, it's only some plastic. No one will love you if you're unattractive. - Crianças para sempre, crianças para sempre. Pele macia de bebê se transforma em couro. Não seja dramática, é só uma plástica. Ninguém irá te amar se você não for atraente. 

Eu bato levemente na morta.

- Zoe?

- Sim? - ela disse, tentando esconder o que sente.

- Você está bem?

- Estou... - ela desata à chorar - Não, eu não estou...

- É por causa do grêmio?

- Não, Gabrielly...

- O que houve, então?

- Eu já estou cansada! Estou cansada da minha vida, dessa escola, dessas pessoas... eu estou cansada de tudo! - ela fica de joelhos no chão, chorando cada vez mais.

- Zoe... me conta... - digo, ficando de joelhos como ela.

- Eu não gosto do jeito que me olham... como se... como se eu fosse uma rainha...

- Mas isso não é bom?

- Não quando você finge ser quem não é. Eu tive que mudar tudo em mim.

Sei exatamente como é.

- Eu cresci sendo julgada. Quando eu era pequena, eu... - ela soluça - eu não consigo... - ela chora mais.

- Zoe, está tudo bem. Tudo no seu tempo.

- Quando eu era pequena as pessoas da escola me olhavam e riam... - ela está segurando as lágrimas, a voz rouca - Eu tinha vergonha de sair por causa do que as pessoas diziam. Eu chegava em casa todos os dias e começava a chorar no meu quarto. As meninas me trancavam no banheiro e me espancavam. Os meninos me faziam de boba marcando encontros comigo e faziam pegadinhas fazendo eu passar vergonha... aí que eu decidi mudar... Eu já estava cansada do jeito que as pessoas me tratavam. Mas hoje eu me olho no espelho e nem sei mais quem eu sou. É como se tivesse um vazio dentro de mim. Não sei se eu realmente gosto das roupas que eu uso, se essa é a minha personalidade verdadeira, se as minhas amigas são minhas amigas de verdade. Eu sinto que não posso mais confiar em ninguém... e o Nick é um exemplo. Eu realmente o amava... ou talvez tenha sido apenas coisa da minha cabeça. Mas eu sei que doeu. Ele me fez de boba como todos os outros garotos. Mas sabe qual foi o pior? Eu estive com ele em seus momentos de dificuldades, deixei ele dormir na minha cama quando estava com problemas em casa, respeitei o espaço dele, confiei nele... para depois ele me chamar de vadiazinha e dizer que nunca me amou, mas que foi bom. Você insiste para que eu mude mas como você espera que eu faça isso se nem as outras pessoas têm essa capacidade? Quando você tem alguma coisa do interesse delas todo mundo é seu amigo. Mas quando você fica sem nada, as pessoas somem.

- Zoe, eu  não imaginava que...

- É claro que não. Sempre procurei esconder o que eu sinto para não parecer fraca.

- Zoe, você não é fraca. Muito pelo o contrário. Você aguentou tudo isso sozinha e encarou as pessoas... por mais que não tenha sido do jeito que você queria. Eu te admiro muito por isso Zoe... - coloco uma mecha de seu cabelo atrás de sua orelha - Eu sinto muito que você teve que passar por tudo isso. Mas agora está na hora de você se libertar.

- Eu não posso...

- Claro que pode. E quanto a você não se reconhecer mais... eu te ajudo. Eu te ajudo a se descobrir. Descobrir os seus gostos, sua personalidade... Pode contar comigo para o quiser.

Ela me olha por um tempo, seus olhos azuis tristes como um mar em tempos de tempestade. Ela dá um leve sorriso, ainda querendo chorar.

- Amigas de novo? - ela pergunta.

- Amigas de novo. - finalizo sorrindo.

Voltamos à quadra de basquete. Eu limpei o rosto da Zoe, a deixando sem maquiagem. 

A Zoe vai até o microfone, dizendo:

- Oi... - todos estavam olhando para ela. Mas não como antes. Estavam a olhando surpresos - eu sinto muito pelo jeito que eu saí - ela dá uma risadinha nervosa - Olha... eu peço desculpas. Peço desculpas à todos que sofreram em minhas mãos. Menos para o Nick, ele mereceu - ela o olha com veneno nos olhos, um leve sorriso, fazendo uma pequena pausa - Olha... eu vou direto ao assunto - ela pega uma mecha de seu cabelo loiro - Isto é falso. Eu gostava do meu cabelo curto - ela toca em seu rosto - Isto também é falso. Eu escondo as minhas sardas com maquiagem porque as pessoas ficavam perguntando se era sujeira - ela toca na sua roupa - E isto também é falso. Eu sempre preferi usar coisas mais confortáveis. Agora a questão é: Então por que eu estou fazendo coisas que eu não gosto de fazer?  Vocês sabem me dizer o por quê? - as pessoas começam a conversar, tentando encontrar uma resposta - Porque ninguém gosta de pessoas sendo felizes sendo elas mesmas. As pessoas militam sobre aceitação. "Se aceite. Aceite quem é diferente". Mas a verdade é, que se virem alguém "incomum" as pessoas a alfinetam de qualquer coisa. Bruxa, cobra, vadia, seja o que for. Sabem por quê? Porque nem essas pessoas se amam. Elas tem inseguranças, e acabam descontando em quem não tem. Agora é o seguinte: Se você é tão idiota ao ponto de falar as suas idiotices para quem não merece ouvir, seja idiota sozinho. Ninguém merece ouvir as coisas insignificantes que saem da sua boca tão insignificante quanto a sua existência.- ela sai com sorriso sínico, andando como uma modelo.

Confesso que fiquei um pouco preocupada quando deixei a Zoe falar no microfone. Achei que ela diria algo pior, mas até que foi tranquilo. Fui até o microfone, dizendo:

- Oi, de novo! - eu estava nervosa - Eu só queria agradecer por todos os votos. Mas eu agradeço principalmente, aos meus aos meus melhores amigos. A Raquel, que me ajudou a conseguir este prêmio a qualquer custo. A pessoa que me apoiou, me incentivou e ficou comigo até o fim. Ao Brandon, que me colocou no meu lugar quando eu estava fazendo besteira, que ficou comigo uma noite inteira porque eu estava triste até eu pegar no sono e que me levou para sair porque queria me ver feliz. - olho para o Jason - E ao Jason... que ficou comigo quando eu tive a minha primeira crise de pânico, me elogia quando estou e quando não estou triste e que sempre faz eu me sentir amada de algum jeito... - e eu acabei de perceber que me declarei para ele na frente de toda a escola - Eu não sei o que você viu em mim, mas por favor não deixe de ver... -

Onde tem um buraco para eu me enterrar? 

Eu pigarreio.

- Diretor... eu agradeço pela sua oferta, mas eu não posso aceitar.

- O que você está querendo dizer com isso, Gabrielly?

- Eu não vou para a Study Time.

- Mas...

- Eu não posso. Não é certo.

- Então, sendo assim, a bolsa vai para a Zoe.

- Eu também não aceito.

- Como é que é?!

- Eu não posso aceitar. As notas da Gabrielly são maiores que as minhas e essa competição foi muito injusta. Nenhuma de nós iria ganhar pela capacidade intelectual e sim por uma ideia que os outros têm sobre a gente.

- Mas então, o que vocês querem fazer?

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