Capítulo 2

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Camila apoio sua cabeça nos seus joelhos, por cima de seu vestido de baile, tocando o rosto na renda delicada e branca. Ela tocava as luvas em suas mãos, seus olhos presos na memória de uma cena tentando acompanhar cada detalhe, e ao mesmo tempo tentando entender tudo.

"Mas ele disse que não gostaria de dançar com nenhuma moça" pensou franzindo as sobrancelhas, ela olhou de relance para o leque rosa claro que tinha nas mãos, a delicadeza das flores pintadas enquanto suspirou, logo logo a carruagem pararia, ela chegaria em casa.

Tentou esboçar um sorriso genuíno, e falhou. Pensou nas leis da física, que apesar de serem incrivelmente tediosas, nunca mudavam. A matemática é estável, verdadeira e nunca enganadora, e se por algum acaso fizesse um calculo errado, sempre havia como encontrar uma solução para aquele tipo de problema. 

Mas por algum defeito no sistema, o mercado de casamentos não funcionava assim, apesar de tudo que fazia, o resultado é igual.

"Tente manter um maior contato visual e sorria" dizia Carolina, Mila não pode deixar de bufar, o que diabos ela poderia saber? Conhecia o noivo apaixonado desde a infância.

"Talvez devemos frequentar uma modista nova" Dizia Lu, antes de arrumar os cabelos volumosos de Mila "Os homens ficam fortemente tentados pelo o que vêem". Mila gostava de Lu, até demais, então estava trocando de modista a cada semana.

Ela enfim havia chegado em sua rua, endireitou a cabeça e se concentrou em sair da carruagem sem cair, visualizando cada passo e sentindo os sutis movimentos. Ao entrar pela porta de entrada sentiu o peso de um olhar, a sensação foi passageira no entanto, que parou logo ao adentrar o pequeno cômodo onde deixava suas luvas e seu pequeno xale.

Ao passar pelo sala principal, ela sentiu os olhos de sua mãe acompanhando os movimentos, seus olhos percorriam toda extensão de seu corpo analisando rapidamente qualquer emoção ou traço de sentimento. Ela comprimiu os lábios, enquanto desviou os olhos dela.

- Nada? - Disse numa voz abafada 

Ela segura a saia com os dedos, fazendo que não com a cabeça, segura sua respiração para não emitir um grunhido de frustração. A cada dia era uma luta, e desde que seu irmão mais velho saíra de casa ela havia se tornado o novo alvo dos insuportáveis planos de sua mãe. Mila entendia sua intenções, tampouco, se tivesse filhas, gostaria de vê-las como solteironas. 

Porém, ela se dedicava ao máximo, e não recebia um mísero elogio. Ela havia parado de fazer suas caminhadas diárias com  Tobby, o carinhoso beagle de sua tia, justamente para poder ter mais tempo para se arrumar. Parou de andar a cavalo para não ficar fedida antes dos bailes. E a pior de todas, ela parou de conversar sobre qualquer assunto minimamente inteligente.

Todo dia era obrigada a concordar sobre o tempo e falar sobre laços ou flores. Ela estava ficando entediada de ouvir e falar sempre a mesma coisa.

- Eu deveria saber que não daria certo entre vocês - disse arqueando as sobrancelhas - Vamos ver o próximo alvo - disse com a voz monótona, como se estivesse pensando no que seria servido no jantar

- Acho que não - disse Camila indo em direção ao quarto - Vou dormir

Ao chegar em seu quarto, ela rapidamente retirou o resto do vestido e do penteado, se jogando na cama prontamente, se encolhendo nas cobertas macias e aconchegantes. Ela sentiu uma lágrima escorrer pelo rosto antes de cair num sono profundo e sem sonhos. Até ser acordada por um grito.





Dias de sol e arrebentaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora