02 o grito no silêncio

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Era quase meia-noite, e a sensação de desespero era palpável. Jensen e Antony se encontravam aterrorizados enquanto Agnes caminhava até eles, seu sorriso macabro refletido nas sombras. Um pouco mais afastada, escondida atrás do muro de uma casa, Jane observava tudo, o coração batendo descontroladamente.
— não adianta, Jensen. Não há como me parar! Agora você morre!
   exclamou Agnes, saltando na direção do garoto. O chute acertou Jensen com uma força brutal, lançando-o a quinze metros de distância. O impacto reverberou pelo chão, deixando Jane e Antony paralisados de medo.— agora é a sua vez, Antony! — disse Agnes, avançando com a espada preparada para cortar. A lâmina brilhava ameaçadoramente à luz da lua. Em um movimento desesperado, guiado por um impulso primal de sobrevivência, Antony avançou contra Agnes. Seu punho encontrou o crânio da demônia com uma força inesperada, quebrando-o e lançando-a de volta para a casa de Jensen. A estrutura tremeu e estalou ao redor dela, tijolos caindo e poeira subindo no ar.
"Como?! Até alguns minutos ele era um simples ser humano!"
   pensou Agnes, atordoada, tentando se levantar dos escombros. Seus braços estavam sangrando, feridas abertas por todo o corpo. A dor a consumia, mas a confusão era ainda maior.
   "Droga! O que eles realmente são?!"
   A mente de Agnes girava, buscando respostas enquanto sentia o gosto metálico de seu próprio sangue.
    Enfurecida por ser atingida por Antony, Agnes se levantou lentamente, o sangue escorrendo de suas feridas. Antony abriu um sorriso, sentindo uma clareza sobre seu poder e lembrando-se de quando se tornou um deus. Fragmentos de sua memória começavam a se encaixar, revelando quem ele realmente era.
— eu vou acabar com você! — afirmou Antony, o sorriso ansioso revelando sua empolgação para lutar após tantos séculos.
— se me machucar, também estará ferindo a mãe do seu amigo. — disse Agnes com um tom de voz arrogante e confiante, acreditando que Antony jamais feriria uma mulher inocente.
— se ela tiver que morrer para você pagar pelo que fez, que assim seja! — retrucou Antony, sua voz carregada de determinação e raiva.
— e o que eu fiz, exatamente? — perguntou Agnes, com um sorriso debochado.
— entrou na porra do meu caminho! — disse Antony, correndo na direção da demônia. Ele congelou seu próprio braço, formando uma garra de gelo chamada Claw Ice. Saltando, ele mirou no rosto de Agnes, determinado a finalizar a luta.
   Agnes, no entanto, desviou com um sorriso de orgulho, ciente de que Antony não era rápido o suficiente. Com um movimento ágil, ela usou sua espada para quebrar a armadura de gelo do braço de Antony, causando-lhe uma dor excruciante. O som do gelo se partindo ecoou pela rua enquanto Antony gritava de dor. Usando sua telepatia, Agnes o lançou para o outro lado da rua. De repente, um feixe de luz azul atingiu Agnes, lançando-a ao chão. Amy, com olhos brilhando de determinação, tinha usado seu ataque Aura Lunar.
— sinto muito, mas sua vida se encerra aqui...
— disse Amy, avançando para dar o golpe final em Agnes. No entanto, para a surpresa de Amy e o alívio de Agnes, Jensen surgiu e empurrou Amy, impedindo que Agnes fosse morta. No outro lado da rua, ainda se recuperando enquanto tentava se levantar, Antony observava a ação de Jensen. Uma onda de irritação passou por ele, e ele encarou Jensen dali, os olhos ardendo de frustração e incompreensão.
   "Por que ele a está protegendo?"
Pensou Antony, lutando contra a dor no braço.
   "Depois de tudo o que ela fez, por que Jensen está impedindo que a matemos?"
   Ele cerrou os punhos, sentindo a fúria crescer dentro dele. A lealdade de Jensen a alguém que claramente merecia ser punida o deixava perplexo e enfurecido.
— eu não vou deixar você matar minha mãe! — disse Jensen, encarando Amy caída no chão. Ele tentava ser corajoso, mas havia um certo medo em seus olhos.
— eu sinto muito, Jensen, mas sua mãe já não existe nesse corpo, — respondeu Amy, levantando-se lentamente. Sua expressão era triste, mas compreensiva e empática. Ela entendia os sentimentos do garoto e a dor que ele estava enfrentando. Jensen respirou fundo, tentando manter a calma, mas suas mãos tremiam.
— você não entende... ela é tudo o que eu tenho, — disse Jensen, a voz embargada pela emoção.
   Amy deu um passo à frente, mantendo a voz calma e firme.
— eu entendo, Jensen, mas se não fizermos algo agora, Agnes vai destruir tudo o que você ama. Sua mãe não gostaria que você se sacrificasse por um monstro como ela.
   Jensen hesitou, o conflito interno evidente em seus olhos. Ele olhou para Agnes, que estava começando a se levantar dos escombros, um sorriso cruel em seu rosto.
— eu... eu não sei se posso, — murmurou Jensen, a dúvida corroendo sua determinação. Amy colocou a mão no ombro de Jensen, transmitindo-lhe força e coragem.
— você não está sozinho, Jensen. Estamos todos aqui com você. Precisamos fazer isso juntos, por sua mãe e por você.
   Nesse momento, Antony se aproximou, ainda segurando o braço ferido. Ele lançou um olhar sério para Jensen.
— se não conseguirmos agora, não teremos outra chance. Todos nós vamos morrer.
   Jensen olhou para os amigos, sentindo a pressão do momento. Ele sabia que, apesar de toda a dor, tinha que fazer a escolha certa. Com um último olhar para o corpo possuído de sua mãe, ele notou o espírito de Thea de pé, encarando-o com um sorriso confiante, indicando para ele prosseguir. Jensen respirou fundo e acenou com a cabeça.
— vamos acabar com isso, — disse Jensen, sua voz carregada de uma nova determinação.
   Amy sorriu, aliviada e orgulhosa. Ela se preparou para atacar Agnes mais uma vez, sabendo que tinha o apoio de Jensen e Antony. Juntos, eles avançaram, prontos para enfrentar Agnes,
— Jensen, meu filho, acabe com esse monstro, eu sei que você consegue! — Thea encarou Jensen com um sorriso doce, porém com lágrimas nos olhos, sabendo que teria que deixar seu filho para trás. Mesmo assustado e impressionado com a alma de sua mãe de pé à sua frente, Jensen não se deixou abalar tanto, ainda se enganando de propósito, negando que sua mãe já não estava viva.
— mas mãe, se eu matá-la, você também vai morrer! — Jensen exclamou, a voz embargada, lutando contra a realidade que ele não queria aceitar.
   Thea percebeu que Jensen estava em negação. Ela se aproximou de seu filho e o abraçou, tentando confortá-lo enquanto dizia:
— eu já estou morta... — sussurrou Thea, sua voz suave, porém firme, tentando infundir coragem em Jensen. Ao ouvir as palavras de sua mãe, Jensen entrou em choque. Seu coração acelerou, e uma sensação de vertigem o dominou. Ele se agarrou à negação como uma tábua de salvação, recusando-se a aceitar a verdade que estava diante de seus olhos.
— como assim? Você está na minha frente, não fala essas coisas para mim, tá? Isso não tem graça, mãe... — Jensen forçou um sorriso tenso, os olhos demonstrando uma mistura de desespero e incredulidade. Thea observou seu filho com tristeza, entendendo a dificuldade dele em enfrentar a realidade. Com um suspiro resignado, ela acariciou o rosto de Jensen, buscando confortá-lo.
— eu sei que é difícil, meu amor, mas precisamos encarar a verdade juntos. Você é forte o suficiente para isso. — As palavras de Thea foram suaves, porém carregadas de uma determinação tranquila. De repente, Agnes, que já tinha se recuperado um pouco, pulou na direção de Jensen para matá-lo, aproveitando seu momento de distração. Amy, com reflexos rápidos, lançou seu Aura Lunar. O feixe de luz azul cortou o ar com um zumbido agudo, forçando Agnes a recuar para evitar o ataque. O impacto do feixe no chão fez a terra tremer e levantou nuvens de poeira, obscurecendo a visão e adicionando um elemento de caos à cena. Amy se virou para Jensen, sua expressão séria refletindo a gravidade da situação.
— precisamos nos concentrar, Jensen. Sua mãe não gostaria de vê-lo assim. — disse Amy, sua voz firme e determinada, cortando através da confusão e do barulho ao redor.
   Jensen apertou os punhos, sentindo a força de sua determinação voltar. Ele olhou para o espírito de Thea mais uma vez, vendo o encorajamento nos olhos dela. Uma onda de determinação e coragem inundou seu ser, fortalecendo sua resolução de enfrentar Agnes. Amy murmurou um breve encantamento, e uma aura brilhante a envolveu, aumentando sua energia. Antony, apesar da dor em seu braço, cerrou os punhos e seus olhos brilharam com uma intensidade renovada. Ele trocou um olhar rápido com Jensen, um entendimento silencioso passando entre eles. Jane, observando de trás do muro, sentiu um misto de medo e impotência. Ela sabia que não poderia fazer muito, mas seu coração estava com os amigos, torcendo para que eles tivessem sucesso. A rua ficou silenciosa por um momento, uma calmaria antes da tempestade. Agnes, observando-os se prepararem, soltou uma risada sinistra.
— vocês realmente acham que podem me derrotar? — ela zombou, sua voz ecoando na escuridão.
— sim, vamos acabar com você! — afirmou Antony, com a voz firme e determinada.
   Com isso, os três avançaram, unidos pela determinação e pela esperança de salva a si mesmos e o futuro que tanto valorizavam. Agnes, percebendo a determinação de seus inimigos, ergueu a mão e murmurou palavras em uma língua antiga e esquecida. Uma energia maligna começou a se formar ao seu redor, obscurecendo a luz da lua.
— provem do meu Rasgo Abissal! — gritou Agnes, lançando um poderoso feixe de magia sombria na direção deles.
   O ataque avançou como uma onda de pura escuridão, ameaçando engolir tudo em seu caminho. Os Revengods se prepararam para enfrentar a força devastadora que se aproximava. Antony, com os olhos brilhando de determinação, ergueu a mão, convocando sua energia gélida.
— impacto Zero! — gritou Antony, liberando uma explosão de gelo puro que avançou contra o ataque sombrio de Agnes, criando uma barreira cintilante e congelante. Jensen e Amy dispararam seus poderes ao mesmo tempo que Antony.
— Deadly Incineration! — gritou Jensen, enquanto Amy exclamava: — Aura Lunar
   Então juntos, eles acabaram com Agnes. Seu corpo foi desintegrado, mas mesmo assim, ela manteve um sorriso perverso e orgulhoso até o fim, pois sabia que mesmo após sua derrota, a guerra ainda estava só começando. O inferno tem muitos outros demônios bem mais fortes que Agnes e seu grupo, e em sua cabeça, Agnes tinha total confiança que os Revengods não iriam sobreviver. Amy olhou para Jensen e Antony e deu um sorriso de orgulho.
— esse ataque combinado me lembrou de quando costumamos chamá-lo de Sincronia Perfeita! — disse Amy, se aproximando de Jensen e Antony. Jane, vendo que a batalha havia chegado ao fim, correu até seus colegas.
— nossa, aquilo foi incrível! Vocês acabaram com ela!
   Jensen encarou sua casa destruída com um olhar triste, vendo que o lugar onde ele viveu a vida toda se foi, assim como sua mãe. Sentindo que perdeu tudo, ele mergulhou em um abismo de tristeza e caminhou até a porta de sua casa em silêncio. Ao vê-lo se afastar, Amy percebeu que não havia motivos para Jensen comemorar essa vitória.
   "Coitado... Gostaria que as coisas não tivessem terminado assim. Eu deveria ter acabado com isso quando tive a chance... A culpa é minha..."
   Pensou Amy, com um olhar triste, se sentindo responsável por indiretamente causar a morte da mãe de Jensen.
— você está bem, Antony? — perguntou Jane, encarando seu amigo com uma expressão de preocupação.
— relaxa, eu vou ficar bem... — respondeu Antony, tentando aliviar a preocupação de Jane, mas seu sorriso era forçado.
— ei, mano, quer que eu te leve ao hospital? — insistiu Jane, até que Amy pegou o braço de Antony, fazendo uma luz azul brilhante aparecer e curando-o em seguida.
— não precisa, eu posso curá-lo — disse Amy, após ter curado o braço dele. Jane virou o rosto e cruzou os braços, sentindo uma ponta de inveja das habilidades de Amy.
   "Metida!" Pensou Jane, mordendo o lábio para conter a frustração.
— meu braço ainda está doendo... — disse Antony, com uma leve expressão de dor.
— Ah, desculpe, eu ainda não sei curar totalmente... Deixa eu tentar de novo — disse Amy, pegando as mãos de Antony. Ele olhou nos olhos dela, ficando meio tímido enquanto ela o curava novamente.
   "Até que ela é bem bonita..." Pensou Antony, sentindo o calor suave da cura de Amy.
   Jane observava a interação com um olhar sombrio, seu coração apertado de ciúmes.
   "Por que ela tem que ser tão perfeita?" Pensou Jane, desviando o olhar para o chão. Então Jensen apareceu, com uma bolsa nas costas e uma expressão triste.
— ok... Vamos indo... — afirmou Jensen, caminhando até os seus colegas. — Fui pegar minhas coisas...
— Jensen... Olha, sobre a sua mãe... Eu sinto muito — disse Amy, com a voz suave.
— Amy, eu não quero falar sobre isso — interrompeu Jensen, a dor visível em seus olhos.
— tudo bem, mas saiba que você pode contar comigo. Se precisar desabafar, eu estou aqui para ouvir e oferecer apoio — disse Amy, segurando o ombro de Jensen com uma expressão gentil e empática.
— tá... Vamos indo... — Jensen virou o rosto e andou até a calçada.
   Antony se aproximou, ainda segurando o braço ferido.
— primeiro vou pegar minhas coisas em casa. Vão indo na frente — afirmou Antony, com uma expressão séria.
— tá bom — respondeu Amy com um sorriso no rosto.
   Antony caminhou até sua casa, enquanto o trio aguardava em frente ao que sobrou da casa de Jensen. Ao abrir a porta de sua casa, Antony se deparou com seu pai, Kurt, um homem alto e musculoso, com uma tatuagem de dragão no braço direito. Apesar de sua habitual rudeza e agressividade, Kurt parecia calmo, apenas analisando o próprio filho com os braços cruzados, o encarando de cima a baixo como se fosse superior.
— chegou a essa hora por quê? Por acaso esqueceu que tem casa?! — vociferou Kurt.
— Relaxa aí, não quero treta. Olha só, o papo vai ser reto: eu vou passar uns dias na casa de uns amigos. Se eu lembrar, talvez eu volte. — disse Antony, indo em direção ao seu quarto.
— como assim?! Você só vai se eu permitir!
— você nem liga se eu estou aqui ou não. Já sumi por meses e você nem se deu ao trabalho de me ligar! — retrucou Antony, abrindo a porta do quarto e começando a pegar suas roupas, jogando-as na cama e separando as que queria levar.
— ótimo, vai embora. É até melhor para mim, não vou precisar cuidar de moleque mal-educado! — afirmou Kurt, bebendo whisky em seguida.
   De repente, Antony notou um quadro em cima da estante. Era uma foto dele e de sua mãe Rose, uma mulher morena de cabelos escuros, de aparência frágil e gentil. Antony apertou seu cachecol ao se lembrar de sua mãe, então encarou Kurt com ódio no olhar.
— que foi, moleque?! — perguntou Kurt, com um olhar sério.
— nada... — Antony pegou o quadro e o colocou na mochila. Com a mochila nas costas, caminhou até a porta do quarto, encarando seu pai com raiva.
— é culpa sua ela estar morta! E eu nunca vou te perdoar!
   Então Antony saiu dali, com o sangue fervendo, considerando até encerrar a vida de seu próprio pai, caso ele o impedisse de ir embora, coisa que não aconteceu. Kurt, no fundo, estava até aliviado por não ter que encarar Antony todos os dias, pois, no fundo, ele detestava seu filho. Ao chegar na rua, Antony percebeu que seus colegas ainda estavam esperando.
— eu disse para irem na frente... — murmurou Antony, visivelmente irritado.
— e você por acaso sabe onde fica a casa da Amy? — perguntou Jensen, com uma expressão séria e distante. Antony apenas o encarou, frustrado, mas não disse nada.
— vem! Vamos indo! — disse Amy, tomando a frente e saindo dali com um sorriso, enquanto os outros a acompanhavam. Conforme caminhavam, o silêncio entre eles era pesado, cada um perdido em seus próprios pensamentos. Jane, com os braços cruzados, lançava olhares irritados para Amy de tempos em tempos, claramente desconfortável com a proximidade entre ela e Antony.
— Amy, quanto tempo até chegarmos? — perguntou Jane, tentando disfarçar sua irritação.
— não muito, só precisamos atravessar a floresta Plumaria. Minha casa fica do outro lado — respondeu Amy, ignorando o tom de Jane e mantendo seu foco à frente.
   Antony andava um pouco atrás, ainda sentindo a raiva fervendo por dentro, enquanto Jensen seguia com passos lentos, sua tristeza visível a cada movimento. Amy, percebendo a tensão no grupo, tentou quebrar o silêncio.
— sei que foi uma noite difícil para todos nós, mas precisamos continuar fortes. Temos que estar unidos — disse Amy, olhando para Jensen com preocupação. Jensen não respondeu, apenas manteve o olhar fixo no chão. Jane suspirou, impaciente com a situação.
— podemos ao menos acelerar o passo? Não quero passar a noite toda vagando por aqui.— disse Jane, tentando disfarçar sua frustração.
   Antony deu um leve aceno de cabeça, aumentando o ritmo, mas sem muita vontade. Finalmente, chegaram à entrada da floresta Plumaria. As árvores altas e densas projetavam sombras que tornavam o caminho misterioso e um pouco intimidador. Amy liderou o grupo, confiante, conhecendo bem o trajeto.
— cuidado onde pisam, o chão pode ser traiçoeiro aqui — avisou Amy, olhando para trás para se certificar de que todos estavam acompanhando. Atravessar a floresta foi silencioso, exceto pelo som dos passos nas folhas e o ocasional farfalhar dos galhos. O ar estava frio, e uma névoa leve começava a se formar, aumentando a sensação de isolamento. Finalmente, ao saírem da floresta, começaram a subir uma trilha que levava até a mansão. O caminho era ladeado por flores de todas as cores, e à medida que se aproximavam, a grandiosidade da Mansão Flowers se revelava. Situada no começo da montanha Berrystend, a casa de Amy parecia um verdadeiro conto de fadas. Grandes portões de ferro se abriam para uma alameda ladeada por árvores cuidadosamente podadas. No meio do quintal, uma fonte de mármore branco jorrava água cristalina, cercada por flores rosas que exalavam um perfume suave. Um pouco distante, havia um pequeno poço e flores de lótus flutuando em um pequeno lago. Atrás da mansão, uma ponte levava a um belo coreto, criando uma atmosfera mágica e serena.
— chegamos — disse Amy, empurrando os portões que se abriram com um rangido.
   Jensen olhou para a mansão com indiferença, ainda perdido em sua dor. Antony permaneceu calado, ainda processando suas próprias emoções, enquanto Jane observava tudo com um misto de inveja e desconfiança.
— bem-vindos à Mansão Flowers. Vocês podem se instalar e relaxar um pouco. Vou preparar algo para comermos — disse Amy, tentando trazer um pouco de normalidade à situação.
— rosas? Que brega! Prefiro violetas, são muito mais bonitas! — disse Jane, tentando provocar Amy, que apenas sorriu e respondeu gentilmente:
— se quiser, posso plantar violetas para você.
— Não precisa! — retrucou Jane, cruzando os braços e virando o rosto.
   "Droga! Por que ela é tão gentil comigo?! Será que ainda não percebeu que não gosto dela?!" pensou Jane, irritada.
    Ao entrar na casa, Jensen se jogou em um sofá no grande salão de entrada, claramente exausto tanto física quanto emocionalmente. Antony se encostou na parede, ainda perdido em seus pensamentos, enquanto Jane olhava ao redor, tentando encontrar algo para criticar. Amy foi para a cozinha, começando a preparar algo simples, mas reconfortante. Ela sabia que a batalha mais difícil seria manter o grupo unido. Jane, não perdendo a oportunidade, seguiu Amy até a cozinha.
— por que você sempre tem que bancar a boazinha? — perguntou Jane, sua voz carregada de sarcasmo.
Amy parou de mexer na panela e olhou para Jane, confusa.
— eu só quero ajudar. Todos nós passamos por muita coisa hoje... — respondeu Amy, sua voz suave e genuína.
— ah, claro, sempre a perfeita Amy, sempre tão inocente e preocupada com todos. — retrucou Jane, cruzando os braços.
   Amy ficou em silêncio por um momento, sem saber como responder. Ela realmente não entendia por que Jane estava sendo tão rude.
— Jane, eu sei que você está chateada, mas estamos todos no mesmo barco. Precisamos nos apoiar. — disse Amy, finalmente, voltando sua atenção para a comida.
   Jane bufou e saiu da cozinha, claramente irritada. Ela voltou para a sala onde Antony e Jensen estavam.
— e então, Amy está preparando algum banquete para nos impressionar? — perguntou Jane, sua voz pingando sarcasmo.
   Antony lançou um olhar para Jane, mas preferiu não responder. Jensen, por sua vez, parecia alheio à conversa, ainda perdido em seus pensamentos. Momentos depois, Amy voltou à sala com uma bandeja de sanduíches e bebidas.
— fiz algo simples, mas espero que ajude a recuperar um pouco de energia. — disse Amy, colocando a bandeja na mesa.
   Antony pegou um sanduíche, mas não disse nada. Jensen finalmente levantou o olhar, aceitando uma bebida de Amy com um aceno de cabeça. Jane pegou um sanduíche e deu uma mordida, evitando olhar para Amy.
— obrigado, Amy. — disse Jensen, finalmente, sua voz baixa e cheia de tristeza.
   Amy sorriu gentilmente, sentindo que, pelo menos, estava conseguindo manter o grupo unido por enquanto.
— precisamos descansar. — afirmou Amy, olhando para cada um deles. — Temos um longo caminho pela frente, mas vamos superar isso juntos.
   A noite caiu sobre a Mansão Flowers, trazendo um momento de paz temporária para o grupo. Embora as tensões e os conflitos ainda estivessem presentes, havia uma sensação de esperança renovada. De repente, Stella desceu as escadas. Seus longos cabelos rosa balançavam suavemente a cada passo, e seu vestido verde destacava uma rosa acima de seu peito. As pontas de suas orelhas, ligeiramente pontudas, brilhavam sob a luz, assim como seus olhos azuis cheios de emoção. As asas, semelhantes às de uma libélula, tremulavam delicadamente em suas costas. Ao avistar Jensen e Antony, Stella abriu um largo sorriso, seus olhos se enchendo de lágrimas de felicidade. Sem hesitar, ela correu até os garotos para abraçá-los.
— Antony! Jensen! Que alegria! — exclamou Stella, abraçando Antony com entusiasmo.
   Antony ficou tenso. "Ela tem o mesmo sorriso irritante que a Amy!", pensou ele, sentindo-se desconfortável com a demonstração de afeto a que não estava acostumado. Em seguida, Stella virou-se para Jensen e o abraçou. Ele permaneceu imóvel, indiferente ao abraço dela.
— e quem é essa aí? — perguntou Jane, surpresa ao ver as asas de Stella.
— eu sou Stella, prazer em conhecê-la, humana. — respondeu Stella, sorrindo.
— é, o prazer é totalmente seu! — retrucou Jane, dirigindo-se ao sofá e sentando-se ao lado de Jensen. Sentindo-se incomodado, Jensen levantou-se e foi até Amy.
— me leva ao meu quarto.
— tá bom... me acompanhe — respondeu Amy, subindo as escadas com Jensen a seguindo.
   Enquanto Amy subia as escadas com Jensen, o silêncio entre eles parecia crescer. As escadas de madeira escura rangiam suavemente sob os pés, cada degrau polido pelo tempo. Uma fina camada de poeira dançava à luz suave das luminárias de parede, lançando sombras longas e vacilantes no corredor. O corrimão, liso e frio ao toque, acompanhava a curva elegante da escada, guiando-os para o andar superior. Enquanto Amy subia as escadas com Jensen, o silêncio entre eles parecia crescer, cada passo ecoando pela casa. Jensen finalmente quebrou o silêncio.
— quem é Stella, afinal? — perguntou ele, a curiosidade evidente em sua voz.
   Amy parou por um momento, virando-se para ele com uma expressão pensativa. As luzes suaves do corredor refletiam em seus olhos.
— você já conheceu Stella, Jensen, na sua vida passada. Ela era tipo uma mãe para todos nós.
   Jensen franziu a testa, tentando lembrar algo que parecia estar fora de seu alcance.
— uma mãe? — perguntou ele, confuso.
   Amy suspirou, percebendo a dificuldade dele em lembrar. Colocou uma mão no ombro de Jensen, tentando transmitir conforto.
— sim, Stella cuidava de todos nós. Ela sempre foi muito carinhosa e protetora. É por isso que ela ficou tão emocionada ao ver você e Antony.
   Enquanto isso, no andar de baixo, Antony ainda tentava processar o abraço de Stella. Jane, percebendo seu desconforto, decidiu perguntar, com um leve toque no braço dele.
— você pareceu meio desconfortável com a Stella. Tudo bem?
   Antony desviou o olhar, mexendo nos próprios dedos.
— eu... não estou acostumado com esse tipo de coisa.
   Jane olhou para Stella, que estava ocupada observando o ambiente com curiosidade, seus olhos brilhando de entusiasmo.
— ela me parece legal, mas essas asas... nunca tinha visto algo assim, sem ser em filmes. — comentou Jane, com uma mistura de admiração e surpresa.
— ela é diferente, com certeza. — concordou Antony, tentando relaxar.
   Stella percebeu o olhar curioso de Jane e se aproximou com um sorriso acolhedor, suas asas tremulando levemente.
— não precisa ter medo, garotinha. Minhas asas são apenas uma parte de quem eu sou. E você... você tem um espírito forte. Gosto disso.
   Jane sorriu timidamente, um pouco mais à vontade. Antony, ainda um pouco tenso, começou a relaxar também, sentindo a atmosfera leve que Stella trazia consigo. No andar de cima, Jensen parou na porta do quarto, hesitante.
— Amy, você acha que vou me lembrar de tudo?
   Amy colocou a mão no ombro dele, dando-lhe um sorriso encorajador.
— eu acho que, com o tempo, tudo vai voltar. E Stella está aqui para ajudar.
   Jensen assentiu, sentindo-se um pouco mais esperançoso. Amy entregou-lhe a chave da porta, suas mãos se tocando brevemente. Jensen pegou a chave, entrou no quarto e se trancou, querendo ficar sozinho com seus pensamentos e processar tudo o que aconteceu e o que está acontecendo. Do lado de fora do quarto, Amy respirou fundo, sentindo o peso do dia sobre seus ombros. Ao se virar, ela se deparou com Antony e Jane subindo as escadas e vindo em sua direção.
— Amy, está tudo bem? — perguntou Jane, com um tom de preocupação em sua voz, embora tentasse esconder.
   Amy sorriu levemente, tentando disfarçar o cansaço.
— sim, só um pouco cansada. Mas vou ficar bem.
    Jane olhou para a porta do quarto de Jensen, sua expressão endurecendo.
— ele vai ficar bem? — perguntou, a preocupação evidente apesar de sua relutância em demonstrar muito interesse.
— ele só precisa de um tempo para processar tudo. É muita informação de uma vez — respondeu Amy, tentando tranquilizá-la.
   Antony, que observava em silêncio, deu de ombros.
— deixe-o sozinho, se é o que ele quer. Todos precisamos de um tempo para pensar às vezes.
   Jane assentiu, ainda olhando para a porta do quarto de Jensen.
— é, talvez você tenha razão.
   Amy sentiu a tensão entre eles, mas também percebeu uma sutil compreensão no ar.
— quero ficar em paz no meu quarto — disse Antony, encarando Amy com um olhar sério e direto.
— é, eu também — acrescentou Jane, com um aceno de cabeça.
— claro, aqui estão suas chaves — respondeu Amy, entregando as chaves a ambos.
   Antony pegou a chave e se dirigiu ao seu quarto sem olhar para trás. Jane fez o mesmo, seguindo logo depois. O corredor ficou em silêncio novamente, enquanto cada um procurava um momento de descanso e reflexão. Nisso, Amy caminhou para o andar de baixo, encontrando-se com Stella, que estava do lado de fora com a porta aberta, apreciando o céu estrelado e a lua. Amy se aproximou da fada com um sorriso no rosto.
— noite linda essa, não? — observou Stella, ainda encarando o céu, percebendo Amy parada logo atrás. O vento balançava os cabelos das duas.
— sim, está mesmo muito bonito! — concordou Amy, mantendo seu belo sorriso meigo.
— estou tão feliz que reencontramos Jensen e Antony. Mas nossa procura ainda não acabou, ainda precisamos encontrar os outros Revengods — disse Stella, com um tom determinado.
— nós vamos achá-los. Eu consigo sentir a presença deles, afinal, todos compartilham o meu sangue — respondeu Amy, com confiança.
— então você sabe onde eles estão? — perguntou Stella, esperançosa.
— sim, logo iremos reunir todos os nossos amigos e nossa família estará reunida novamente! — afirmou Amy, com um sorriso confiante.
— bom, eu fico feliz que finalmente as coisas estão melhorando! — Stella se aproximou de Amy e a abraçou. Amy sorriu e devolveu o abraço, sentindo a ternura no gesto da amiga.
— vamos entrar, você precisa descansar, Amy — sugeriu Stella, com carinho.
— tá bom! — Amy riu suavemente, um som leve e alegre. — Hihihi.
   Enquanto isso, na cidade, um garoto estava trancado em seu laboratório secreto, um espaço escuro e abarrotado de invenções e várias bugigangas científicas. As luzes fracas iluminavam as ferramentas espalhadas e os projetos inacabados. Em cima de sua mesa estava sua mais recente criação, um robô batizado de Byte. Bryan o encarou com um sorriso maléfico, satisfeito com seu trabalho. No canto do laboratório, Mark estava amarrado a uma cadeira, com um olhar apavorado. Ele tentava gritar por ajuda, mas a corda em sua boca impedia qualquer som de escapar. Suado e desesperado, seus olhos suplicavam por misericórdia.
— Hahaha! — Bryan riu, a risada ecoando pelas paredes do laboratório.
   Ele pegou um facão da mesa e o encarou, a lâmina refletindo a luz trêmula do ambiente. Bryan se aproximou de Mark, que se debatia inutilmente contra as amarras.
— ...vocês serão os próximos... Antony e Jensen! — murmurou Bryan, com uma voz carregada de rancor. Bryan olhou para uma foto emoldurada em sua mesa, onde ele, Jensen e Antony sorriam, jovens e despreocupados, amigos de infância. A lembrança parecia distante e distorcida pelo ódio que agora dominava Bryan. O silêncio tenso do laboratório foi quebrado pelos gritos abafados de Mark, enquanto Bryan levantava o facão. A escuridão da sala parecia fechar-se ao redor deles, amplificando o terror. E então, o som dos gritos de Mark encheu a sala, deixando uma sensação de desespero e antecipação para o que estava por vir.

The Revengods: Renascimento Dos Deuses Onde histórias criam vida. Descubra agora