03 no limiar da sanidade

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Jensen estava em sua cama, dormindo, quando flashes de seu passado começaram a invadir seus sonhos. Ele se viu como uma criança no século XV, por volta de nove anos, acordando numa noite fria e escura. O som de gritos e o cheiro de fumaça enchiam o ar.
- Filho, acorda! Estamos sendo atacados por Orcs! Busque ajuda no castelo! - A voz urgente de seu pai ecoou na escuridão. Jensen não pôde ver seu pai, mas reconhecia a voz firme e protetora. Ele saltou da cama, sentindo o coração bater acelerado e o frio cortante da noite penetrar sua pele. Ao sair de casa, viu seu pai enfrentando um Orc, uma criatura humanoide com uma aparência monstruosa, bem maior que um homem comum. As faíscas voavam quando as espadas se chocavam, iluminando brevemente a noite. Apesar disso, seu pai estava batendo de frente com a criatura, usando todas as suas forças. Assustado, Jensen seguiu as ordens de seu pai, correndo em direção ao castelo. Sentia o chão frio e áspero sob seus pés descalços. No caminho, avistou vários cavaleiros correndo na direção do vilarejo, o que trouxe um pouco de alívio ao seu coração acelerado. Mas ao retornar para sua vila, foi recebido por uma visão de desolação, escombros, corpos no chão, e um grupo de Orcs ainda de pé. Quando os Orcs notaram a chegada dos cavaleiros reais, recuaram para a floresta.
- Meus pais! Cadê meus pais?! - Gritou o pequeno Jensen, correndo para onde sua casa ficava, mas não encontrando ninguém. A destruição ao seu redor tornava difícil respirar, e a dor da perda começava a se manifestar. Desesperado, saiu correndo atrás dos Orcs.
- Voltem aqui! Devolvam meus pais!
Um soldado o segurou pela mão, tentando impedi-lo.
- Não vá, é perigoso, eles vão acabar com você!
- Eu não ligo! Eu vou matar eles! - Exclamou Jensen, com os olhos cheios de lágrimas, a raiva e o desespero misturados em sua voz.
- Senhor, vamos segui-los até sua base. Isso não vai ser perdoado! - Afirmou um dos soldados, enquanto o homem assentia e subia em seu cavalo, olhando para Jensen que chorava encarando o chão.
- Quer vir conosco? - Disse o homem.
- Sim! - Respondeu Jensen, determinado. O cavaleiro puxou Jensen pelo braço, colocando-o em cima do cavalo. Sentado atrás do cavaleiro, Jensen sentia o vento frio em seu rosto, misturado com as lágrimas quentes que escorriam. Uma hora depois, já na floresta, os cavaleiros desceram em silêncio e seguiram a pé. Após trinta minutos de caminhada, encontraram a vila dos Orcs. Na estrada, Jensen viu algo que o quebrou por dentro, as cabeças de seus pais em estacas. O mundo ao seu redor pareceu desabar.
- ...Pai... Mãe... - Suas pernas tremeram e ele sentiu uma dor aguda em seu peito. Seus olhos se encheram de lágrimas enquanto a dor e a perda o consumiam. Nesse momento, Jensen acordou, ofegante, as lágrimas ainda escorrendo pelo rosto. Seu coração batia descontrolado e ele sentia o suor frio em sua pele. Tentou se acalmar, mas a dor da lembrança ainda estava fresca, como se tivesse acabado de acontecer.
Três meses antes, Bryan havia acabado de chegar na escola, se encontrando com Jensen e Antony, que estavam discutindo como de costume. Até que eles perceberam que Bryan os observava.
- Tá olhando o quê, Smigol?! Segue seu rumo, tampinha! - Afirmou Antony, encarando Bryan. Ao olhar para Jensen, Bryan notou que ele também o encarava com raiva. Sentindo-se intimidado, Bryan abaixou a cabeça e saiu.
"Logo esses malditos terão o que merecem! Eu vou me vingar pela Ada!" Pensou Bryan, enquanto se afastava, fechando os punhos. Lembrou-se do momento em que encontrou o corpo de Ada, a garota de quem gostava, e da falsa memória que criou para si mesmo, Jensen e Antony a matando.
"Eu vou matá-los! Não importa o que aconteça, eles vão pagar por isso!" Bryan repetia para si, alimentando seu ódio e suas alucinações. Nos dias que se seguiram, Bryan passou horas em seu laboratório secreto, criando invenções e aperfeiçoando seu plano de vingança. A culpa e a dor pela morte de Ada foram distorcidas em sua mente, transformando-se em um ódio irracional por Jensen e Antony. Enquanto Bryan trabalhava em seu laboratório, flashes de memória o assombravam. Ele se lembrava do rosto de Ada, do sorriso que ela costumava dar. Mas cada vez que a lembrança surgia, ele a distorcia, culpando Jensen e Antony. Em um desses momentos, ele se viu discutindo com Ada na noite em que ela morreu. Ela estava chorando, pedindo para ele parar de ser tão obcecado com suas invenções e sua vingança imaginária.
- Bryan, por favor, você está ficando obcecado. Isso não é saudável! - Ada implorou.
- Você não entende, Ada! Eles precisam pagar pelo que fizeram comigo! - Bryan gritou, seus olhos ardendo de raiva. Mas em um momento de clareza, Bryan viu a cena real, ele empurrando Ada, ela caindo e batendo a cabeça. O choque e o horror nos olhos dela enquanto a vida se esvaía.
- Não... não pode ser... - Bryan murmurou para si mesmo, mas rapidamente afastou a memória verdadeira, substituindo-a pela sua versão distorcida. No presente, enquanto ajustava seu robô, Byte, Bryan jurou vingança mais uma vez, sem perceber que a verdadeira culpa estava dentro de si.
Alguns minutos depois, ao acordar, sentindo seu corpo imóvel, Mark abriu os olhos, percebendo que Bryan estava de pé em sua frente, encarando-o com um sorriso maligno, segurando um braço decepado em sua mão ensanguentada.
- Pronto... Fiz um ótimo trabalho! - Bryan murmurou para si mesmo, mas alto o suficiente para que Mark ouvisse. Percebendo que Mark estava acordado, observando-o com uma expressão de puro pavor, Bryan inclinou a cabeça, como se estivesse avaliando sua obra-prima.
- E-ei... Bryan... E esse braço na sua mão...? - Mark gaguejou, o terror crescendo em sua voz. Ele olhou para seu próprio braço esquerdo e entrou em desespero ao ver uma prótese robótica no lugar do seu braço. Um grito horrorizado escapou de sua garganta enquanto ele tentava se mover em vão.
- Troquei seus braços e suas pernas por partes robóticas. Nem eu sabia que conseguiria fazer isso! - Disse Bryan, com um brilho insano nos olhos, tirando seus óculos verdes e admirando seu trabalho.
- Eu sou mesmo um gênio!
Mark olhou para seu corpo transformado, os olhos arregalados de pânico, sentindo a claustrofobia e o horror tomarem conta de si. Sua respiração ficou ofegante, e ele começou a hiperventilar, as lágrimas escorrendo pelo rosto.
- Por que você fez isso comigo?! - Gritou Mark, sua voz cheia de angústia.
- Porque eu precisava de um teste, e você foi o voluntário perfeito. - Bryan respondeu, seu tom frio e calculista, enquanto colocava os óculos de volta e pegava sua mochila que estava em cima de uma mesa próxima.
- Considere isso um presente. Agora você é mais forte, mais rápido... mais útil.
Bryan caminhou até a porta, e com um último olhar desdenhoso para Mark, desligou a luz, mergulhando o laboratório em completa escuridão.
- Aproveite sua nova vida, Mark. - Disse Bryan antes de sair, deixando Mark sozinho em seu desespero, incapaz de se mover no silêncio opressor da sala escura.
Enquanto isso, cansado de ficar refletindo sobre suas lembranças do passado, Jensen se levantou e foi até o banheiro de seu quarto. Ele se encarou no espelho, tentando se reconhecer. As cicatrizes do tempo e das batalhas passadas pareciam refletir uma vida que ele mal lembrava. Respirou fundo e molhou o rosto, deixando a água fria clarear sua mente. Uns minutos depois, desceu para a cozinha. Ao entrar na cozinha, encontrou uma enorme mesa no centro do cômodo. Jane estava sentada na primeira cadeira, vestida com seu uniforme escolar, os braços apoiados na mesa enquanto sorria para Antony. Antony, por sua vez, estava sentado de frente para ela, ignorando-a deliberadamente, também vestindo seu uniforme escolar. Seus olhares contrastavam - Jane, tentando parecer amigável, e Antony, perdido em seus próprios pensamentos. Amy estava de pé, segurando uma xícara de café, apreciando a vista do quintal e um pouco da cidade ao longe, visível através da porta de vidro. O sol matinal iluminava a cozinha, criando uma atmosfera aconchegante. Jensen entrou com um olhar deprimido, vestindo uma blusa preta com capuz. Jane foi a primeira a notá-lo, um sorriso sarcástico se formando em seu rosto.
- Bom dia, dorminhoco. - Disse Jane com um tom provocador. Jensen evitou o olhar dela, respondendo apenas com um aceno de cabeça. Amy se virou ao ouvir a voz de Jane, seus olhos encontrando os de Jensen.
- Dormiu bem? - Perguntou Amy, com uma preocupação genuína na voz.
- Melhor agora que estou acordado. - Respondeu Jensen, tentando aliviar a tensão com um toque de humor. Ele se aproximou da mesa e serviu-se de café, seus movimentos lentos e meticulosos. O silêncio foi quebrado por Antony, que estava sentado à mesa, mexendo distraidamente em uma caixa de cereais.
- Você não vai à escola, Jensen? - Perguntou Antony, sem levantar o olhar, sua voz vazia e desinteressada. Jensen suspirou, seus ombros caindo um pouco mais. Ele sentiu os olhares de todos sobre ele, uma mistura de curiosidade e julgamento.
- Não, eu não vou... - Disse Jensen, sua voz baixa e resignada. Jane, não perdendo a chance de provocar, sorriu com malícia, suas unhas tamborilando na mesa.
- Não vai falar comigo não, Jenzinho? - Insistiu Jane, sua voz doce como veneno. Jensen cerrou os punhos, seus olhos brilhando de raiva enquanto encarava Jane.
- Não me chama assim, vadia! - Retrucou ele, sua voz cortante como uma lâmina, enquanto segurava Jane pela gola da camisa. Amy olhou de um para o outro, assustada com a escalada rápida da tensão.
- Poxa, Jensen, não precisava ter ofendido Jane assim, foi só um apelido fofinho... - Disse Amy, tentando apaziguar a situação.
- Você não sabe de nada, Amy. Jane me chamava assim para me diminuir... - Disse Jensen, interrompendo Amy e encarando Jane com raiva, seus olhos faiscando. Jane desviou o olhar e, com deboche, respondeu:
- Foi mal aí, eu tinha esquecido que você não gosta de gestos amigáveis.
- Porra nenhuma! Deixa de ser sínica! - Afirmou Jensen, avançando e puxando Jane pela gola da camisa, tirando-a de sua cadeira e ficando cara a cara com ela, que ficou assustada com a atitude de Jensen.
- Antony, ele quer me bater! - Gritou Jane, tentando se soltar, mas Antony continuou tomando café tranquilamente, ignorando-a totalmente.
- Você puxou briga com ele, você que se vire! - Respondeu Antony, sem desviar os olhos do seu café. Jensen empurrou Jane para trás, seus movimentos cheios de raiva contida, fazendo-a bater as costas de leve na mesa logo atrás. Ela o encarou irritada, mas desviou o olhar logo em seguida, tentando disfarçar o medo.
- Por favor, não briguem! - Suplicou Amy, sua voz tremendo enquanto se colocava entre os dois. Irritado com toda a situação, Antony deu um suspiro, então se levantou e pegou sua mochila que estava no chão, próxima à sua cadeira.
- Vamos, Jane, temos que ir à escola... - Disse ele, passando por Jensen sem olhar para ele. Jane pegou sua mochila que estava em cima da mesa, lançando um último olhar irritado para Jensen antes de sair. Ele a ignorou, sentindo o peso da tensão diminuir enquanto eles partiam. Amy respirou aliviada, seus ombros relaxando.
- Obrigada por não deixar isso ir mais longe. - Disse ela suavemente, tentando confortar Jensen. Jensen apenas assentiu, sua expressão sombria enquanto olhava para a porta pela qual Jane e Antony tinham acabado de sair.
- O que foi tudo aquilo? - Perguntou Amy. Jensen desviou o olhar e, com a cabeça baixa, disse:
- Eu sei lá... A Jane costuma me provocar desde a infância, já virou normal esse tipo de situação... Ela é e sempre foi uma escrota, assim como o Antony...
- Eu espero que vocês se deem bem. A única coisa que eu não gosto é vê-los brigar, isso parte meu coração. Vocês são a minha família, temos que ser unidos! - Disse Amy, com um olhar triste, mas dando um sorriso esperançoso no fim.
Jensen apenas revirou os olhos, já sabendo que nunca daria certo ter uma amizade saudável com Jane, por conta da personalidade passiva agressiva da garota.
- Mas, mudando de assunto... Você teve algum sonho sobre seu passado recentemente? - perguntou Amy, com um olhar gentil e curioso.
- Você diz aqueles sonhos que mais se parecem pesadelos? - Jensen respondeu, sua voz carregada de amargura. Amy desviou o olhar, incomodada ao lembrar que seus próprios sonhos eram lembranças macabras do passado.
- ...é, esses mesmos... - respondeu Amy, enquanto ajeitava o cabelo para disfarçar seu incômodo.
- Só me recordo de coisas horríveis. Aliás, quem é Safira? Ela é bem recorrente nas minhas lembranças...
- Safira foi uma Revengods que se renegou... Não sabemos nada sobre ela até hoje - afirmou Stella, entrando na cozinha com uma expressão séria.
- Oi, Stella, bom dia! - disse Amy.
- Bom dia, Amy. Já contou para o Jensen a nossa descoberta?
- Não, eu esperava que você fosse contar. Stella se aproximou de Jensen, parecendo cansada, e se sentou na cadeira ao lado dele.- Amy está sentindo a presença de um dos nossos na cidade de Marigold. Estamos planejando ir para lá para recrutá-lo.
- Ah, legal - disse Jensen, sem demonstrar muito interesse, enquanto colocava cereal em sua tigela.
- Você quer vir comigo para buscá-lo? - perguntou Amy, animada.
- Eu tô afim de ficar sozinho por um tempo - afirmou Jensen, dando uma colherada em seu cereal.
- Tudo bem, eu vou esperar o Antony chegar para perguntar se ele quer vir comigo.
- É, faz isso...
Enquanto isso, Antony e Jane estavam descendo a trilha da montanha, o vento balançando seus cabelos. Antony caminhava na frente com um olhar sério, enquanto Jane o acompanhava logo atrás, reclamando do Jensen.
- Ele é um babaca! Eu não fiz por mal, eu só chamei ele de "Jenzinho", qual é o problema disso?! - reclamou Jane. Antony suspirou com raiva e disse:
- Por acaso esqueceu que a gente batia e humilhava ele na infância? É natural ele não gostar de nós.
- E você se importa com ele?
- Eu quero que o Jensen se foda! Agora silêncio...
Então, eles continuaram seguindo seu caminho. De volta à mansão Flowers, Jensen continuava tomando seu café da manhã, enquanto Amy o encarava com as mãos no próprio rosto, dando um sorriso meigo. Notando isso, Jensen se incomodou.
- ...Que foi? - questionou Jensen, enquanto Amy sorria para ele.
- Nada não, só estou feliz de estarmos juntos novamente!
Jensen suspirou, levantando-se da mesa. Sabia que não poderia escapar de seu passado para sempre. Caminhou até o quintal, onde podia sentir o vento fresco contra o rosto. Os pensamentos sobre Safira não saíam de sua mente. Amy o seguiu, parando ao lado dele em silêncio. Após alguns minutos, ela finalmente quebrou o silêncio.
- Eu sei que é difícil. Mas talvez confrontar essas memórias te ajude a entender mais sobre quem você realmente é. Ele olhou para ela, o rosto mostrando uma mistura de dor e determinação.
- Talvez você tenha razão. Eu preciso saber mais sobre o meu passado. Só que... estou com medo.
- Medo? - perguntou Amy, tentando entender o que causaria medo.
- Tenho medo de descobrir que sou um monstro...
- Como assim? Por que está dizendo isso?
- A minha primeira lembrança do passado foi quando Safira e eu matamos todos de um vilarejo de Orcs... Não quero ser aquele cara, cego pela vingança. Amy olhou para ele, surpresa e preocupada.
- Você me acha um monstro? - perguntou, com a voz suave e um olhar cheio de compaixão. Ele a observou por um momento, notando a beleza angelical de Amy.
- O quê? Claro que não, você parece um anjo! - respondeu Jensen, tentando aliviar a tensão. Amy deu um sorriso tímido, mas sua expressão rapidamente se tornou séria novamente.
- Então você não é um monstro. Eu deixei vocês irem, fechei meus olhos e fingi que nada estava acontecendo enquanto você e Safira partiam em busca de vingança. E mesmo que eu não soubesse exatamente o que vocês iriam fazer, no fundo sabia que nada de bom ia vir disso. E pagamos um preço alto por isso...
Jensen a olhou assustado.
- Como assim? - perguntou. O vento fez com que uma pétala de margarida caísse no chão, flor que significa esperança.
- Alguns Orcs sobreviveram e se vingaram atacando nosso vilarejo... - Amy disse, a voz quebrando.
- Muitos inocentes morreram naquele dia...
Ele sentiu um nó na garganta ao ver os olhos de Amy começando a lacrimejar.
- Mas... está tudo bem, Jensen. Cometemos vários erros no passado, e agora temos que aprender com eles e não errar mais! E saiba que estou aqui, não vou deixar nada de ruim te acontecer, prometo!
Respirou fundo, sentindo um misto de alívio e culpa.
- Tá... Obrigado.
"É tanta coisa na minha cabeça... A morte da minha mãe, as memórias das tragédias do passado voltando à tona... Eu realmente não me sinto bem, porém, preciso procurar uma forma de aliviar toda essa dor... Se não conseguir me salvar, não irei superar as expectativas da Amy e dos outros Revengods! Agora tenho uma grande responsabilidade em minhas mãos, preciso proteger as pessoas que amo!" pensou, se enchendo de motivação e forças para continuar. Apesar de não ter superado toda a dor, prometeu para si mesmo que não iria parar de sorrir.
- Amy, vou ficar bem! Tudo o que mais quero é viver uma vida sem arrependimentos! Vou ser forte! - disse, com um largo sorriso e um olhar esperançoso. Ao ouvir as palavras do amigo, Amy se lembrou de sua vida passada, quando ele havia dito essa mesma frase. Essa lembrança a deixou com um brilho nos olhos, cheia de motivação e esperança. Amy se aproximou, oferecendo um sorriso encorajador, e então deu um abraço nele, tentando confortá-lo.
- Tenho certeza que você vai conseguir, você é forte! Enquanto Amy continuava a abraçá-lo com os olhos cheios de lágrimas de felicidade, Jensen abriu um sorriso reconfortante, sentindo que tudo ficará bem enquanto for um dos Revengods.
Horas depois, ao chegarem na escola, Antony e Jane viram um cartaz de desaparecido com a foto de Mark em uma parede.
- Esse é o Mark, não é? O que será que aconteceu com ele? - perguntou Jane, olhando para a foto. Antes de responder, Antony notou Bryan do outro lado do pátio, tirando cartazes de procurado.
- Jane... Você não acha aquilo estranho? - disse Antony, encarando Bryan.
- Eu tenho medo desse garoto. Uma vez, vi uns desenhos macabros no caderno dele... Parecia que ele estava machucando a gente, o Jensen e o Mark - disse Jane, olhando para Bryan, assustada.
- E você só me diz isso agora?! Jensen, Bryan e eu éramos amigos na infância, mas aconteceram umas coisas e nos distanciamos... Tenho certeza que agora ele quer vingança! - afirmou Antony, olhando fixamente para Bryan. Nesse momento, Bryan olhou para trás e viu Antony o encarando com raiva. Ele então virou a cara e saiu andando, jogando os papéis que arrancou das paredes no lixo.
"Será que o Antony desconfiou de mim? Tanto faz, eu vou matá-lo de qualquer forma!" pensou Bryan, virando num corredor com um sorriso perverso.
Ao entardecer, na saída da escola, Bryan estava voltando para casa quando foi surpreendido. Alguém o virou de costas e o socou no rosto. Ao cair no chão, ele notou Antony e Jane o encarando.
- O que acha de falar o que você fez com o Mark? - exigiu Antony, furioso.
- Eu não sei do que você está falando... - Bryan tentou mentir, mas sua expressão traía seu nervosismo.
- Você sabe sim. Eu te conheço muito bem. Sei que você é inteligente o suficiente para saber que eu iria suspeitar de você! - Antony apertou os punhos, a raiva transparecendo em seu olhar. Bryan se levantou em silêncio, então encarou Antony com um sorriso sinistro.
- Parabéns, Antony. Você descobriu que eu risquei o Mark da minha lista de vingança! - Bryan zombou, seu tom carregado de malícia.- O que você fez com ele?! Seu esquisito! - Jane gritou, sua voz cheia de indignação.
- Eu gostaria de ficar e brincar com vocês, mas estou sem meus brinquedos agora, então... fui! - Bryan jogou uma bomba de fumaça no chão, aproveitando a confusão para fugir.
- Vamos, Jane! Vamos atrás dele! - gritou Antony, correndo para o meio da fumaça.
- Certo! - Jane afirmou, seguindo seu amigo de perto. Antony viu Bryan correr para um beco e, sem hesitar, conjurou um espinho de gelo. Com precisão, lançou o espinho na direção de Bryan. O espinho de gelo cortou o ar, mirando Bryan. No último segundo, Bryan desviou, mas o espinho arranhou seu braço, deixando uma marca sangrenta. Ele soltou um grito de dor, mas continuou correndo.
- Antony, ele está ferido! Não podemos deixá-lo escapar! - Jane exclamou, correndo ainda mais rápido. Bryan sentiu o sangue escorrer pelo braço, mas não diminuiu a velocidade. Ele virou em um beco escuro, tentando encontrar um lugar para se esconder. Seus olhos vasculharam freneticamente o ambiente até encontrar uma porta entreaberta. Ele se esgueirou para dentro, ofegante, e fechou a porta silenciosamente atrás de si. Antony e Jane chegaram ao beco segundos depois, seus olhos ajustando-se à escuridão.
- Ele deve estar por aqui em algum lugar - sussurrou Antony, tentando ouvir qualquer movimento. Dentro do prédio, Bryan pressionava a mão contra o ferimento, tentando conter o sangue. Seus pensamentos estavam a mil, planejando seu próximo movimento. Ele sabia que não poderia se esconder para sempre. O som dos passos de Antony e Jane ecoava do lado de fora, aproximando-se perigosamente. Bryan respirou fundo, seus olhos percorrendo o espaço em busca de uma saída ou de algo que pudesse usar para se defender. Ele não podia deixar que o capturassem. Não agora.
"Eu preciso chegar em casa e pegar o Byte! O que foi aquilo que o Antony jogou em mim? Droga... Isso dói!"
Pensou Bryan, tentando se mover em silêncio. Antony notou uma porta fechada e logo deduziu que Bryan havia passado por ali. Ao entrarem, os amigos foram surpreendidos por Bryan, que jogou uma mesa na direção deles antes de correr para a porta.
- Antony, você está bem?! - Jane perguntou, preocupada, com os olhos arregalados e o coração acelerado.
- É claro que estou! Vamos atrás dele! - afirmou Antony, ofegante e com o rosto determinado, correndo para a porta, com Jane seguindo logo atrás. Bryan olhou para trás e percebeu que eles ainda estavam atrás dele.
"Que merda! Eles vão me alcançar! O Antony é atlético e a Jane também! Por que eu tinha que ser sedentário?!"
Pensou Bryan, tentando correr mais rápido, sentindo a dor pulsante em seu braço. Quando Antony estava chegando perto, Bryan jogou outra bomba de fumaça, conseguindo escapar por mais alguns minutos. Finalmente avistou sua casa e correu para dentro, trancando a porta em seguida. Antony chegou e quebrou a porta com um chute, mas Bryan já estava em seu laboratório. Ao entrarem, Jane ficou horrorizada ao ver os pais de Bryan sentados no sofá, ambos mortos. Os corpos estavam pálidos e imóveis, com os olhos abertos em um olhar vazio. O cheiro de morte impregnava o ar, tornando a cena ainda mais macabra. As moscas zumbiam ao redor dos corpos, aumentando a sensação de horror.
- Meu Deus, Antony, olha isso... - disse Jane, sua voz quase um sussurro, o horror estampado em seu rosto. Ela cobriu a boca com a mão, tentando segurar o vômito. Antony cerrou os dentes, sentindo um misto de raiva e tristeza ao ver os corpos. Seus punhos se apertaram involuntariamente.
- Ele é mais doente do que eu imaginava - murmurou Antony, a voz embargada. Antony e Jane subiram as escadas rapidamente e chegaram ao quarto de Bryan, onde o encontraram com os braços cruzados e um sorriso de triunfo no rosto. Atrás dele, estavam seu robô Byte e Mark. O quarto estava bagunçado, com papéis espalhados e equipamentos eletrônicos em desordem, dando ao ambiente uma sensação de caos e desespero. O cheiro de óleo e eletricidade queimada permeava o ar. Antony e Jane encararam Mark, aterrorizados. Mark estava preso a uma cadeira, com marcas de tortura visíveis em seu corpo. Suas roupas estavam rasgadas e sujas de sangue.
- ...O que você fez com ele?! Seu doente! - perguntou Jane, recuando alguns passos, assustada, com as mãos trêmulas.- ...Antony... Me ajuda... Por... favor...! - implorou Mark, incapaz de se mover, com lágrimas escorrendo pelo rosto. Seus olhos estavam vermelhos e inchados de tanto chorar. Antony o encarou, chocado, sentindo um nó na garganta e uma onda de fúria subindo dentro de si.
- Por que você está fazendo tudo isso?! - perguntou Antony, sua voz firme e cheia de indignação, tentando controlar a raiva. Seus olhos faiscavam de ódio.
- Vingança, é claro! - respondeu Bryan, seu sorriso sádico crescendo. Ele deu um passo à frente, seus olhos brilhando de malícia.
- Vingança?! O que o Mark e seus pais fizeram?! - Antony questionou, incrédulo, com os punhos cerrados.
- Meus pais foram mortos devido à maneira como me criaram... Toda aquela negligência... Eles nem sequer vieram atrás de mim quando fui para o internato por sua culpa! Já o Mark, ele e seu amiguinho Jensen me batiam na escola. Aliás, faz tempo que não vejo o Jensen, onde ele está?!
O silêncio prevaleceu na sala, até que Bryan continuou:
- Não importa, eu vou descobrir onde ele está! No fim, todos vocês vão pagar por tudo o que fizeram comigo!
- O que você está falando, Bryan...? Eu nunca te machuquei! - disse Mark, com a voz fraca, o desespero em seus olhos. Seu corpo tremia visivelmente.
- Não querendo defender o Jensen, mas não acho que ele te bateria sem motivos! - afirmou Antony, tentando manter a calma. Ele deu um passo à frente, tentando proteger Jane e Mark.
- Eu não estou entendendo, por que você foi para o internato por causa do Antony? - perguntou Jane, confusa, olhando para Bryan.- Ele e o Jensen me obrigaram a roubar uma loja - disse Bryan, sua voz cheia de rancor, desviando o olhar. Antony cerrou os punhos e deu um passo à frente, encarando Bryan com fúria.
- Isso nunca aconteceu, Bryan. Você foi para o internato porque matou aquela garota, como era mesmo o nome dela? Ada? - revelou Antony, a voz carregada de amargura.- Não... Não pode ser! Isso não aconteceu! - Bryan gritou, sua voz tremendo de raiva e desespero, seus olhos arregalados de medo. Ele recuou um passo, abalado pelas palavras de Antony.
Bryan pôs as mãos sobre a cabeça, sentindo uma dor agoniante e ouvindo uma voz que dizia repetidas vezes:
"Por favor, Bryan, me solta!"
Essas foram as últimas palavras de Ada antes de partir.
- AAAAAH, CALA BOCA! - gritou Bryan, tentando silenciar as memórias. De repente, a voz desapareceu. Bryan estava suando e, então, compreendeu a verdade.
- Você está negando a realidade, Bryan! Foi você que matou a Ada! Passou na televisão! O corpo dela foi encontrado com marcas de enforcamento e um machucado na cabeça em sua antiga casa da árvore. Você a matou! Foi você! Você é o monstro dessa história! - afirmou Mark, com a voz firme. Bryan finalmente entendeu, entrando em estado de choque.
- Eu... eu matei a Ada... - sussurrou Bryan, aceitando que ele era o culpado de tudo. Lembrou-se de que havia criado todo um cenário em sua cabeça para fugir da realidade, culpando Jensen e Antony para se livrar da culpa. Agora que tudo estava claro, Bryan começou a gargalhar de forma maligna e assustadora. Antony, Jane e Mark o encararam, horrorizados.
- Eu matei a Ada! Agora eu vejo a verdade. Foi eu! Eu sou o vilão dessa história! Hahahaha! E agora, que finalmente sei quem realmente sou, eu vou matar todos! - declarou Bryan, afundando na insanidade. Ele apontou uma arma para a cabeça de Mark.
- Eu não preciso mais de você!
- Não, não faça isso! - gritou Jane. Bryan não a ouviu e apertou o gatilho, tirando a vida de Mark. Mark finalmente escapou do pesadelo.
- Agora é sua vez, Antony... - disse Bryan, apontando a arma para Antony e disparando três tiros. Jane gritou, assustada.
- Como você ainda está de pé? - perguntou Bryan, encarando Antony, que levantou a camisa e viu que não havia ferimentos profundos. Apesar da dor, ele podia se mover. Bryan, em choque, atirou novamente, ficando ainda mais apavorado ao ver que Antony continuava caminhando em sua direção.
- O que você é?! Por que você não morre?! - gritou Bryan, percebendo que suas balas haviam acabado.
- Eu sou um Deus! - afirmou Antony, enfiando seu braço no peito de Bryan e congelando seu coração com o Claw Ice. Ao tirar o braço do peito de Bryan, Antony o empurrou, fazendo-o cair pela janela. Antony saiu do quarto de Bryan em silêncio.
- Acabou? - perguntou Jane, olhando Antony descer as escadas.
- Ainda não. Precisamos destruir esse laboratório... - disse ele, pegando o celular e ligando para alguém.
- Está ligando para quem? - perguntou Jane, descendo as escadas atrás dele.
- Para o Jensen. As chamas dele podem dar um fim nesse lugar... - respondeu Antony. Lá fora, Bryan estava caído no chão, quase sem vida, quando percebeu alguém se aproximar. Era uma jovem mulher de cabelos escuros, vestindo roupas da era vitoriana.
- Você tem uma inteligência útil para minha causa, mas por que cometeu o erro de enfrentar os Revengods sozinho? Aliás, pensei que eles estavam mortos há séculos... Bom, a irrelevância é subjetiva... - disse a mulher, se agachando e colocando as mãos sobre o peito do garoto.
- Você tem sorte que eu estava te observando há alguns dias. Você não vai morrer...
Uma luz amarela se manifestou sobre as mãos dela, e, por um milagre, Bryan foi curado, levantando-se totalmente recuperado.
- Você me lembra uma pessoa que eu conhecia séculos atrás - disse ela, sorrindo. Bryan a encarou, meio assustado, mas admirado.
- O que você é? - perguntou ele.
- Eu sou um anjo renegado. Me chamo Victoria. Faço parte de um grupo bem interessante, eu diria. Gostaria que se juntasse à nossa causa...
Bryan se levantou e foi embora ao lado de Victoria. Uma hora depois, Jensen e Amy já haviam chegado na casa de Bryan. Do lado de fora, Amy, Antony e Jane assistiam à casa pegar fogo. Jensen, que havia incendiado a casa com seu poder Deadly Incineration, saiu lentamente para se juntar aos amigos. A luz das chamas iluminava seus rostos, revelando expressões sombrias e reflexivas. O cheiro de madeira queimada e a visão das chamas devorando a casa criavam uma atmosfera pesada e final. Por um momento, ninguém disse nada. O silêncio foi quebrado apenas pelo crepitar do fogo. Finalmente, Jensen quebrou o silêncio:
- Quando chegarmos, me explica o que aconteceu... - disse ele, sua voz baixa e cheia de curiosidade contida. Antony caminhou na direção dele, seu rosto exausto, mas com um tom de ironia em sua voz:
- Você vai adorar... - respondeu Antony, com um meio sorriso cansado. Jane e Amy os seguiram logo atrás, sem palavras, ainda processando os eventos recentes. Os amigos partiram em silêncio, cada um perdido em seus próprios pensamentos, acreditando que Bryan estava morto e que o pesadelo finalmente havia acabado. Enquanto caminhava, Antony se lembrou do sonho que teve na noite anterior. Um sonho que parecia mais uma memória de uma vida passada. Ele estava beijando a mão de uma garota de cabelos escuros que usava uma coroa e um longo vestido rosa, que combinavam com seus olhos da cor rosa.
"Quem é essa garota? Ela parece uma princesa... e por que estou me curvando para ela?"
Pensou Antony, perplexo, enquanto os flashes do sonho continuavam a passar por sua mente. O grupo continuou seu caminho, rumo à mansão Flowers.

The Revengods: Renascimento Dos Deuses Onde histórias criam vida. Descubra agora