1- Prólogo

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Reino Persa, ano de 1803.

A luz suave da manhã filtrava-se pelas janelas do suntuoso quarto de Justin, o príncipe herdeiro do Império persa, que repousava em sua cama ricamente ornamentada. Ao seu redor, servos se moviam em silêncio, abanando-o com leques de plumas de pavão para protegê-lo do calor. Porém, o sono sereno foi abruptamente interrompido quando um dos servos foi designado pelo próprio rei para cumprir a tarefa indesejada de acordar o jovem príncipe.

Arildo, o servo escolhido, sentiu um calafrio percorrer sua espinha ao se aproximar da cama real. Ele conhecia a aversão de Justin a ser acordado e sabia que a reação poderia ser terrível. "Vossa Alteza", ele murmurou com uma reverência trêmula, "o rei está lhe chamando."

Os olhos de Justin se abriram, brilhando com um misto de confusão e raiva. "Quem ousa me acordar?", ele resmungou com a voz embargada pelo sono.

Arildo engoliu em seco antes de responder, "Perdoe-me, alteza. É o rei, ele deseja vê-lo imediatamente." O servo mal ousou olhar nos olhos do príncipe, tão temia a fúria que poderia encontrar ali.

A ira de Justin aumentou rapidamente, como um vulcão prestes a entrar em erupção. Ele ergueu a mão num gesto rápido e violento, esbofeteando Arildo com tanta força que o servo perdeu o equilíbrio e caiu no chão, a bochecha marcada pela marca vermelha da mão real.

"Como você se atreve a me acordar de maneira tão insolente?", rugiu Justin, seus olhos chamejando de raiva. "Você pagará caro por esse erro."

"Perdão, alteza", Arildo suplicou, prostrando-se no chão. "O rei... ele insiste que você vá até ele."

A face de Justin estava contorcida em fúria. "Não me importo", ele declarou com um tom gélido. "Você será exemplo para os outros. Mandarei que o enforquem por sua imprudência, para que todos pensem duas vezes antes de cometer um erro semelhante."

Com um aceno de Justin, os guardas foram chamados, e o destino de Arildo estava selado. O palácio, uma vez repleto de um silêncio quase reverencial, agora ecoava com o som de ordens dadas e ações implacáveis. O reino persa, um lugar de intriga e poder, estava prestes a testemunhar mais um capítulo de sua história tumultuada.

O homem ajoelhado, cujo rosto estava contorcido em desespero, ergueu as mãos trêmulas em um gesto suplicante. "Alteza, eu lhe imploro, por favor, não mande me executar. Eu servi a sua família desde quando o senhor era apenas uma criança indefesa. Minha lealdade é inabalável."

O olhar de Justin percorreu o servo com um misto de diversão e desdém. Ele estava claramente se deleitando com o sofrimento de Arildo, mas parecia disposto a ouvir suas razões. "Bem, Arildo", Justin disse com um sorriso sutil, "você tem minha atenção. Me dê três motivos para eu não mandar enforcá-lo."

O servo engoliu em seco, reunindo suas últimas reservas de coragem para articular suas palavras. "Primeiro, alteza, eu servi lealmente a sua família por gerações. Minha lealdade é inquestionável. Segundo, eu errei, é verdade, mas minha intenção era apenas cumprir as ordens do rei. E terceiro, por favor, considere a minha família. Tenho uma esposa doente e três filhos pequenos. Se eu for executado, eles ficarão desamparados."

Arildo fez uma pausa, seu olhar fixo no chão enquanto esperava pela resposta do príncipe. "Alteza", ele murmurou com sinceridade, "peço-lhe que considere esses motivos e encontre misericórdia em seu coração."

As palavras pairaram no ar, enquanto o palácio parecia segurar a respiração. A decisão de Justin estava pendente, uma demonstração de seu poder e vontade iminente. Enquanto Arildo permanecia ajoelhado, tudo dependia do príncipe, cuja expressão oscilava entre o sarcasmo e a contemplação.

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