6- O Peso da Coroa e a Leveza do Amor

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Enquanto caminhava pelo jardim, os pensamentos de Ester ainda estavam perdidos no encontro com o rei Justin. Ela levava a mão inconscientemente até a bochecha, tocando o local onde ele a beijara com uma ternura quase surreal.

"Será que o homem mais poderoso da Terra estaria mesmo apaixonado por mim, uma simples judia?"

perguntava-se, sentindo as batidas aceleradas do próprio coração. Seus dedos repousavam ainda sobre a pele, aquecida pelo toque breve, mas marcante, de Justin. O cabelo dourado dele, seus olhos cor de mel... cada detalhe voltava à sua mente com uma nitidez desconcertante.

Meu Deus,” murmurava para si mesma, “quais são os Teus planos para mim? Eu não posso... não posso me apaixonar por alguém que sequer Te conhece! Um homem que nem mesmo serve a Ti…”

Suspirou, os olhos brilhando de incerteza e fascinação.

Mas ele foi tão doce comigo… O rei… o próprio rei, aquele a quem todos temem e admiram…” Um sorriso, pequeno e tímido, curvou seus lábios.

E agora, o que vão pensar aquelas moças ao descobrirem? É bem capaz de acabarem comigo de uma vez!”

Enquanto se afundava nesses pensamentos, Ester percebeu, pelo canto dos olhos, uma figura familiar. Era Rubem, seu amigo de infância, observando-a de longe com uma expressão que estava longe de qualquer traço de alegria. Ao vê-la se aproximar, ele forçou um sorriso, mas seu olhar deixava transparecer uma inquietação profunda.

— Rubem, como você está? — perguntou ela, tentando soar leve, mas a voz traía sua apreensão.

Ele a olhou com uma seriedade que fez o coração dela apertar. Em um gesto silencioso, deu um passo para trás.

— Está fugindo de mim, Rubem? — arriscou ela, com uma mistura de leveza e tristeza.

Rubem hesitou, mas logo respondeu, seu tom mais formal e distante do que ela esperava:

— Como vai, Hadassa? — Ele usou o nome de infância dela, como quem revive uma lembrança distante, mas a frieza em seu tom era dolorosa.

Ester engoliu em seco e respirou fundo, antes de perguntar, com a voz vacilando:

— Soube que o rei... que ele te condenou. Eu... sinto muito, meu amigo. Imagino seu sofrimento.

Rubem desviou o olhar, respirando fundo, e murmurou com uma amargura que parecia vir de sua alma:

— Melhor seria se eu tivesse morrido.

Ester, com o coração apertado, tentou reconfortá-lo.

— Não fale assim, Rubem. Graças a Deus você ainda está vivo. Não foi executado.

Ele apenas balançou a cabeça, seus olhos transparecendo uma amargura insuportável.

— Do que adianta? Nunca mais serei um homem completo. Nunca mais.

Ester, sentindo a dor do amigo, falou com sinceridade e ternura:

— Não diga isso, Rubem. Você é um homem de caráter, digno e honrado.

Mas Rubem parecia à beira de explodir. Seu olhar fixou-se nela, cheio de ressentimento e dor.

— Honrado? De que me adianta a honra? — rebateu ele, com uma amargura evidente. — Um homem de caráter, talvez. Mas não um homem que possa te fazer feliz.

As palavras dele atingiram Ester como um golpe. Um rubor sutil surgiu em suas bochechas, e a culpa tomou conta dela. Rubem sempre a apoiara, e agora, com o coração dividido, ela se sentia desleal.

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⏰ Última atualização: Nov 08 ⏰

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