5- Olhos de Mel e Corações Em Chamas

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O rei Justin estava sentado em seu trono como se fosse mais uma manhã comum - calmo, pleno e absolutamente imponente, aquele que o mundo reverenciava como "o grande rei, senhor dos senhores". Ele já conhecia de cor todos os elogios extravagantes e, verdade seja dita, nunca se cansava deles. O poder parecia ter criado nele um gosto insaciável por títulos grandiosos e bajulação.

Foi quando Arildo adentrou o salão com uma expressão tão séria que poderia congelar o próprio inverno. Justin ergueu uma sobrancelha, levemente divertido.

- Arildo, essa sua cara séria me lembra alguém que acabou de ver o fantasma de um credor. - Comentou o rei, com um toque de ironia nos lábios.

Arildo respirou fundo, ajeitando-se antes de falar, como se as próximas palavras precisassem ser escolhidas com extremo cuidado.

- Majestade, é... sobre os eunucos, Henrique e João. Circulam boatos de que eles... andam aceitando moedas dos príncipes do império em troca de certas informações.

O rosto de Justin, que antes exibia um humor leve, endureceu. Sabia muito bem que qualquer traição dentro de seu próprio palácio poderia ser como uma faísca prestes a incendiar um barril de pólvora.

- Ah, então estão ensaiando um golpe de economia doméstica, é? Pensando em abrir uma banca de favores reais? - ironizou o rei, com uma voz que misturava sarcasmo e uma seriedade gélida.

Arildo balançou a cabeça de forma enfática.

- Não, senhor. Não creio que isso coloque o reino em risco, mas imaginei que o grande rei, senhor dos senhores, deveria saber.

Justin soltou uma risada seca, quase desdenhosa.

- "Confiança", você disse? Oh, que adorável palavra para algo que é mais escorregadio do que uma cobra numa poça de óleo. Vá, Arildo. Traga esses dois brilhantes exemplos de lealdade aqui. Ah, e aproveite para vasculhar os aposentos deles. Quero saber se esses "confidentes" têm algo de interesse escondido.

Arildo fez uma reverência e se retirou. Pouco depois, os eunucos Henrique e João adentraram o salão com olhares nervosos e apressaram-se a ajoelhar diante do trono. Justin observava-os com uma expressão de gelada serenidade.

- Levantem-se, vocês dois - ordenou, o tom calmo, mas com um brilho de diversão mal contida nos olhos.

Henrique e João ergueram-se com evidente hesitação. Justin recostou-se no trono, segurando seu cetro de ouro com a mesma tranquilidade de quem segura uma simples caneta, mas o movimento deixava claro quem detinha o poder naquela sala.

- Vocês sabem o que geralmente acontece com aqueles que desafiam o cetro real, não sabem? - perguntou Justin, apontando o cetro em sua direção, como se estivesse prestes a fazer uma escolha decisiva.

Henrique, pálido, balbuciou num sussurro:

- Condenação, grande rei... senhor dos senhores...

Justin assentiu levemente, girando o cetro em direção a João, que engoliu em seco antes de responder:

- Enforcamento... majestade.

O rei esboçou um sorriso sarcástico.

- Que bom. Ao menos sabem o básico. - Sua voz era incrivelmente cordial, mas afiada o suficiente para cortar qualquer tentativa de defesa. - Então, vejamos se conseguem deduzir o que se passa na minha mente quando ouço que dois homens, que têm o raro privilégio de viver sob a minha proteção, estão vendendo informações como se estivessem em uma feira.

Henrique, desesperado, tropeçou nas palavras ao tentar se defender.

- São... são mentiras, majestade! Jamais desobedeceríamos o senhor, o escolhido dos deuses!

COROA ARDENTEOnde histórias criam vida. Descubra agora