As notícias chegaram de modo vertiginoso e abrupto. Embora tivesse consciência das boas intenções dos meus pais, foi inevitável a sensação de desconforto por ter que enfrentar algo novo e longe do meu controle.
Minha melancolia não me impediu de admirar a região conforme nos aproximávamos com a viagem de carro. Uma infinidade de morros preenchidos de plantações, matas silvestres, gados e casas que apareciam ter saído de pinturas. O céu abrangia-se em um tom azulado intenso e, salpicado entre ele, algumas nuvens.
Os dias escorriam entre meus dedos de modo demasiadamente tediosos e repetitivos. Consequentemente, veio a necessidade incessante de mudar meu sentimento de vazio. Foi em uma tardinha de terça que descobri uma janela amplamente grande e extensa em um dos corredores de casa. Além de conseguir sentar em sua borda, a vista levava às portas dos fundos do jardim.
Naquele dia, minutos após sentar-me ali, observei uma caminhonete em um tom azul desbotado estacionar, sua carroceria cheia de frutas e verduras aparentemente muito bem cuidadas e fresquinhas. Dentro dela saiu uma garota com provavelmente minha idade que me deixou sem fôlego. Ela usava uma jardineira surrada e botinas cheias de terra. Sua pele era escura como chocolate e seus cabelos tinham cachos apertados e cheios de volume. Eu observei ela morder nervosamente seus lábios carnudos e correr os olhos em todas as direções, aparentemente confusa e insegura com sua próxima ação.
Levantando-me por impulso, com meu coração palpitando tão forte que minhas mãos tremeram e as pernas ameaçaram fraquejar, corri até onde a garota bonita estava. Eu precisava descobrir e mergulhar por inteiro nessa névoa de curiosidade que borbulhava dentro de mim e fazia-me sentir viva após tantas semanas. Naquele momento, descobri que seu nome era Mary MacDonald e que ela iria mudar minha vida a partir dali.
Todo o restante usufruiu como uma brisa quente de verão. Meus cabelos ruivos se entrelaçam entre si, tornando-se uma bagunça enquanto sentia a sensação do vento deslizando suavemente sobre meu rosto sardento, inalando o cheiro reconfortante de terra molhada.
Recordo-me de abaixar o som da música aleatória que chiava no rádio e ecoava de modo um tanto irregular pela caminhonete e encostar-me preguiçosamente por completo no assento, observando-a ficar com um semblante confuso.
— Amor, há algo de errado?
— Não, eu só estava pensando que nós ainda não temos uma música — respondi em um tom baixo, minha expressão sonolenta combinado com o clima úmido e o balançar do veículo. Com o decorrer do tempo, aprendi que ela desenvolvia um interesse muito grande em todos os pensamentos que ocorriam em minha cabeça e, por isso, sempre podia falá-los sem nenhum requisito de insegurança.
Mary me olhou de soslaio, sempre prestando atenção na estrada. Seus dedos batucavam ritmicamente no volante, um sorriso carinhoso adornando seus lábios antes de me responder.
— Eu acho que nossa música é o barulho da porta batendo, de sair tarde, de bater um sua janela, de quando estamos no telefone e você fala baixo porque sua mãe ainda não sabe - seu sorriso torna-se levemente travesso e continua seu raciocínio, ignorando o ruborizado que eu sentia tingir minhas bochechas — E também o jeito que você ri. Tudo sobre isso, entende?
— Eu amei isso — sussurrei olhando-a intensamente enquanto ela estacionava a caminhonete, fazendo-a olhar para mim também — Mas vou contar à minha mãe. Acha que isso vai estragar nossa música?
Nunca vi um sorriso tão largo expandir-se pelo seu rosto, fazendo-me deliciar da visão adorável das covinhas em suas bochechas. Hoje seu cabelo estava preso em dois rabos baixos, mantendo duas mechinhas soltas em frente, sendo enfeitado desordenadamente por florzinhas que eu mesma coloquei delicadamente mais cedo enquanto estávamos em um piquenique.
— Tem certeza? — perguntou Mary, ansiosamente — Você pode levar todo o tempo que precisar, ok?
Ri levemente, admirando sua preocupação.
— Estou bem — desdenhei, revirando brincalhona os olhos. Inclinando-me do banco, agarrei-a pela nuca e comecei a pressionar uma série de beijinhos em seus lábios macios, às vezes empolgando-nos e aprofundando o beijo, embora eles se mantiam ternos.
Nós apenas continuamos aproveitando a companhia uma da outra, até o vale de estrelas atingir o céu e o clima gélido passar a eriçar os pelinhos de nossos corpos.
🎨 likeafuneral
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𝗼𝘂𝗿 𝘀𝗼𝗻𝗴 || 𝗆𝖺𝗋𝗒𝗅𝗂𝗅𝗒
Fanfiction𝗡𝗢𝗦𝗦𝗔 𝗠𝗨𝗦𝗜𝗖𝗔 || No qual Lily Evans se muda abruptamente para o interior e encontra conforto na caminhonete de Mary McDonald.