Medo

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// Narradora on

A sina daqueles que não pertencem ao próprio lar é muito dura: se o primeiro lugar que você deveria amar, te ensinou a fugir, você internaliza desde muito cedo que antes do amor, vem o medo.

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Juliette andava pensando muito nos prós e nos contras se fosse de fato se entregar de corpo, alma e coração para Sarah. Ela sabia todos os riscos que iria correr e todas as coisas boas que poderia viver.

Com menos de uma semana em que decidiram de fato aceitar a forte atração e conexão que existe entre elas, tudo havia mudado. Se tratavam carinhosamente demais  na frente dos amigos, não se portavam como colegas que se "pegam" no off, se tratavam como namoradas, como verdadeiras almas gêmeas.

A conexão entre elas era inegável.

Mas se era inegável, por que as duas achavam tudo tão complicado? Por que elas tinham tanto receio de se "entregarem" e de fato assumirem o que sentem? A resposta é simples, o medo, o nosso maior mecanismo de defesa.

Como poderia Juliette se entregar se tudo o que passou em sua vida a fez criar mecanismos de defesa sempre que um novo sentimento forte tentava ser exposto? Como poderia confiar se sempre que estava diante de um penhasco não havia ninguém ali para lhe ajudar, apenas para empurrar?

- Meu bem, você tá caladinha já faz mais de dez minutos. - com a voz rouca e calma de Sarah, Juliette pode retornar ao presente momento, suspirando fundo e encarando as íris hazel da mulher que estava confortavelmente deitada com a cabeça em cima de seu peito nu.

- Eu me perdi em alguns pensamentos. - disse sincera, sorrindo e dando um selinho leve nos lábios da loira.

- Eu percebi. - Sarah disse leve. - Algo que está em meu alcance para te ajudar? - como ela poderia explicar que todos os seus questionamentos eram justo por sua causa?

- Eu acho que não. - disse dando de ombros, acareciando os fios loiros, desfazendo os pequenos nós que seus próprios dedos haviam feito a minutos atrás.

- Então o que acha de ficarmos aqui agarradinhas, fazendo um cafune até que consigamos dormir? - perguntou calmamente, fazendo a morena sorrir.

- Eu acho que é uma ótima ideia. - respondeu Juliette, tendo Sarah saindo de cima de si e logo aconchegando o corpo da morena no seu.

Com um beijo no ombro, Sarah a abraçou pela cintura e fez carinhos leves por todo seu corpo, sentindo aos poucos o corpo da morena ir ficando mais leve, assim como o seu, se entregando a paz daquele momento.

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- Abre a boca. - Juliette ordenou em um tom brincalhão.

- Não, Ju. - Sarah disse em um tom manhoso, segurando uma risada.

- Anda gatinha, não me force a fazer aviãozinho com você. - Juliette disse e Sarah cruzou os braços, resistente a não abrir a boca. - Ok então, vamos lá.

Com uma contagem regressiva e uma voz de piloto, Sarah sorriu e enfim abriu a boca, recebendo na boca o pedaço de Waflles com frutas que Juliette havia feito para elas tomarem de café da manhã.

- Como é manhosa essa Sarah. - Juliette disse sorrindo, mordendo enfim do Waffle e encarando a loira a sua frente vestida apenas com um blusão e calcinha enquanto estava sentada em cima do balcão.

- Você está me deixando mal acostumada. - em defesa, Sarah a responde.

- Você, igualmente. Não vou em casa a três dias, daqui a pouco minha mãe está batendo aqui na sua porta para poder me levar embora. - junto as duas riram, logo após comeram o resto do café da manhã.

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