A primeira briga

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Por um instante, Suguru ficou calado e sem saber o que fazer. Ele estava preocupado com a própria aparência, pois tinha as roupas muito molhadas, enquanto o professor estava em perfeitas condições.

— O senhor tem certeza? Não quero incomodá-lo, pois moro um pouco longe de onde estamos — respondeu, se aproximando do carro.

Toji sorriu levemente, mostrando a cicatriz grossa em sua boca.

— Não esquenta, eu te levo — afirmou, esperando o moreno se juntar a ele.

Sendo assim, Suguru abriu a porta do carro e se acomodou no banco da frente. Sua mochila estava tão molhada quanto as roupas, ele ficou ainda mais envergonhado por isso. Toji estava impregnado por um cheiro forte de perfume chique e amadeirado, algo que foi perceptível. Era um odor muito gostoso, algo que deixou o moreno inebriado.

— O que deu na sua cabeça para andar na chuva? — perguntou, voltando a dirigir. — Onde está aquele menino que está sempre com você? O nome dele é alguma coisa com G, eu acho... Realmente não sou muito bom com nomes.

— Satoru Gojo — respondeu, sentindo uma sensação estranha no estômago por se lembrar do que aconteceu. — Ele estava ocupado, então decidi voltar para casa sozinho.

Nesse instante, Toji ligou o rádio e uma música qualquer começou a tocar, tornando o clima um pouco mais confortável.

— Ah, sim, ele estava ocupado... — o professor comentou com ironia. — Eu o vi aos beijos com um menino. Ele é sempre assim? Antes, eu pensava que vocês eram namorados, mas não fazia sentido já que todo dia esse cara está dando uns amassos em alguém.

Com essa fala, Suguru apertou as mãos na mochila que estava em seu colo. Satoru nunca seria o seu namorado, ele não o via dessa forma, apenas o procurava para dar fim ao tesão que sentia. Não era como se Suguru não fizesse o mesmo, ele só não conseguia deixar os sentimentos de lado, mesmo naqueles momentos mais íntimos e quentes, ele amava aquele homem. 

Mas talvez estivesse perdendo tempo em pertencer somente a ele. Era óbvio que devia tentar se relacionar com outras pessoas, assim poderia aproveitar essa tal amizade com benefícios, enquanto era livre para beijar outras bocas.

— Nós não somos namorados e não temos nada um com o outro — respondeu, olhando pela janela.

A chuva começou a diminuir e se transformou em uma fina garoa, Suguru deixou os olhos escuros presos nos pingos que se agrupavam no vidro fechado.

— Que bom, pelo menos está livre para aproveitar a juventude e ficar com quem quiser — comentou. — Não seja igual a mim que me casei muito cedo, tive um filho e me divorciei em um curto período de tempo.

Por um momento, Suguru voltou a olhar em direção aquele homem, percebendo as mãos grossas no volante, nada parecido com os dedos longos e delicados de Satoru. Disfarçadamente, Suguru analisou o corpo do homem que dirigia. O seu professor usava uma calça jeans de lavagem clara e uma blusa preta de mangas curtas, no instante em que entrou no carro, percebeu o agasalho de inverno jogado de qualquer jeito no banco de trás. Por isso, agora os seus braços estavam a mostra, e ele era grande, claramente tinha uma rotina na academia, além de ombros largos e fortes. Também tinha o fato de que Suguru era maior de idade, então não se importava com Toji ser um pouco mais velho do que ele.

— Está gostando do que vê? — Toji perguntou, rompendo o silêncio e trazendo o outro de volta para a realidade.

Como consequência, Suguru sentiu as bochechas esquentarem.

— E-Eu acho que sim. Não me interprete mal — respondeu, envergonhado. — Eu só estava percebendo que o senhor tem um corpo forte.

O professor riu daquela fala.

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