Capítulo VI

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Finalmente chegou a noite do grande baile. Os diplomatas e suas esposas chegaram em carros e carruagens, sob a fina neve que de alguma forma ofuscava os últimos raios de sol do dia.

O baile acontece na propriedade rural do Barão de Wels, uma casa construída para demonstrar poder e causar admiração e respeito, tendo a construção uma cúpula própria sobre o grande salão, onde teríamos as valsas do baile. O relógio estava perto da meia-noite e a quadrilha francesa estava terminando, os casais saíram do centro do salão e os músicos se preparavam para o próximo baile enquanto jovens solteiros corriam pelo salão em busca de damas para acompanhá-los.

Tudo parecia estar indo muito bem, seria um excelente final feliz de um conto de fadas, mas isso não é um conto de fadas e finais felizes são relativos.

Minutos antes da meia-noite a música parou após o som de um grito abafado e o estilhaçar de um vidro. O silêncio foi sepulcral. Depois de poucos segundos a causa do silêncio estava no meio do salão, cercado pelos poucos guardas da propriedade e pelos convidados que pareciam surpresos e curiosos, e um tanto assustados.

Andries Paulos, o espião comunista que me atacou no teatro e que fugiu da operação de contra-espionagem, mantinha uma senhora como refém sob a mira de uma arma e fazia uma única exigência: "Quero o Barão von Brenner, aqui, agora!"

Não demonstrei resistência, apresentei-me diante do sequestrador comunista. Assim começou a negociação e a revelação da angústia.

"O que você quer de mim?" essa foi minha pergunta enquanto me aproximava lentamente com as mãos levantadas e minha arma em uma delas.

"Sua morte, um acerto de contas por ter tirado de mim tudo que eu tinha" ele respondeu olhando diretamente nos meus olhos, apesar das lágrimas ameaçarem cair.

"Preciso que você se acalme e solte a senhora" eu disse me movendo um pouco.

"Não dê mais nenhum passo, ou vou atirar nela e em você e em qualquer outra pessoa que se atreva a se mover" disse tirando a arma da cabeça da mulher e apontando para mim "Você não tem o direito de fazer exigências depois de ter matado quem mais amei e quem mais me amou nesta vida. Agora não tenho nada além da minha necessidade de vingança e de acabar com tudo".

Sua voz estava alterada, ele fala alto e hesitante, seu olhar estava arregalado e ele parecia o de um animal assustado encurralado por seu predador, mas com energia e motivação para lutar até o fim.

Antes que qualquer coisa pudesse ser feita, os relógios marcaram meia-noite, cucos e sinos tocaram a chegada da meia-noite, assim como as trombetas anunciam a chegada de um rei. Assustado ou não, Andreas disparou, o som abafado pelos relógios, mas foi o suficiente para eu revidar.

O resultado desses dois tiros foi uma janela quebrada e um homem morto. A bala disparada da minha arma atingiu Andreas diretamente no peito, de modo que a lâmina atravessou sua caixa torácica, a senhora refém saiu ilesa, apesar dos momentos de medo que passou sob a mira de uma arma.

Esse foi o inverno mais sangrento que Viena viu nos últimos anos. Uma trama de conspirações e espionagem que se não partisse de um dos próprios personagens ninguém acreditaria.

Inverno vermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora