Capítulo 5

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Minha rotina foi alterada no dia em que minha personal engravidou e não foi mais me dar aula, porque decidiu não trabalhar até o filho completar quatro anos. Achei linda a decisão para o bem-estar da família dela; mas, para a minha vida, a moça não poderia ter feito algo pior!

Eu tinha uma dificuldade enorme em me adaptar a novos funcionários. Na verdade, era uma preguiça sem fim. Naquele dia viria outra pessoa, com outros métodos, que faria uma nova avaliação, falaria mal da série anterior e passaria novos exercícios. Só em pensar nisso tudo eu já ficava cansada. Gostava das coisas sempre do mesmo jeito, não era nem um pouco fã de mudanças.

Trocar de funcionário era terrível! Demorava certo tempo para que uma pessoa nova se integrasse no esquema que já havia montado. A minha zona de conforto era alterada. Vai que essa pessoa nova vivesse se atrasando ou não gostasse dos meus aparelhos?

Fiquei tão estressada que acabei tendo uma briga horrorosa com o José Ronaldo. Ele vivia falando que estava me aproximando da menopausa, pois, como minha mãe entrou precocemente, ele achava que eu ia entrar também. Pô, já não bastava ter de lidar com rugas e cabelos brancos se instalando, tinha mais aquela: a suspeita de que em breve pararia de menstruar para sempre.

Tem um agravante nesse papo de menopausa. Não tive filhos por opção. Sempre achei que não era o momento certo, que tinha alguma coisa importante para fazer, por isso fui adiando. Para ser muito sincera, durante toda a minha vida adulta alimentei um pavor danado do que uma gravidez poderia fazer ao meu corpo. Estava cansada de saber que, por mais que as mulheres tivessem muito cuidado, sempre mudava alguma coisa. Eu era partidária do "não se mexe em time que está ganhando".

Uma coisa é você não ter filhos quando sabe que vai poder tê-los a qualquer momento. Outra coisa é quando não dá mais tempo. Tudo bem que existiam todos os tipos de tratamento possíveis e inimagináveis, mas, se uma gestação normal já deixava a mulher com um bucho, imagina uma cheia de hormônios artificiais?

Na maioria dos casos desses tratamentos, a gravidez é múltipla e aí é que a mulher vira um bagaço mesmo! Toda aquela coisa de repouso, não poder malhar, tomar um monte de injeções, três ou quatro fetos crescendo juntos dentro de um pobre útero, que só suportaria um... Não me agradava nem um pouquinho.

Aí a professora, além de me lembrar de que mulheres jovens ficam grávidas, ainda me faz ter de me acostumar com um professor novo. Mas a dita cuja da personal tentou remediar o estrago que estava fazendo à minha vida. Indicou-me um colega que achou que se enquadraria no meu perfil e estava com aquele horário vago.

Algumas estrelas da Global eram clientes do novo professor, o que me deixou ressabiada a princípio. Não era muito fã de dividir profissionais com quem era famoso, porque gerava uma fofoquinha sem fim. Mas resolvi dar uma chance ao rapaz, afinal de contas, estava sendo muito bem recomendado.

Pude perceber que ela gostava muito dele — talvez até exagerando nos limites do profissionalismo, pois os elogios eram bastante calorosos —, mas, como a moça estava grávida, resolvi não entrar em detalhes. Todavia, na primeira vez que o meu nome estivesse em uma conversa torta, ele seria mandado embora.

Já tive experiências assim. Frequentava um salão de beleza aonde todas as celebridades brasilienses iam. Volta e meia via nas revistas o cabeleireiro tirando a maior onda por eu ser sua cliente e ensinando como é que fazia o meu corte de cabelo. Pior ainda era a manicure espalhando aos quatro cantos a cor do meu esmalte da semana. Resultado: troquei de profissionais. Eles passaram a ir à minha casa e tinham que assinar um contrato de sigilo.

Mas não era por conta de experiências passadas que vetaria quem a minha ex-professora tinha indicado. Pedi para Andréia ligar e marcar tudo. Ela ainda perguntou se eu queria conversar com ele, perguntar alguma coisa, fazer uma entrevista, mas achei que não tinha a menor necessidade e que esse povo da educação física era tudo igual. Pelo menos era a minha maior esperança.

Apimentando - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora