Apimentando - Degustação

Capítulo 4

 As pessoas acham que a vida de gente famosa é fácil, que é só glamour... Bem, tem muito brilho, sim, mas a parte de a gente não ter privacidade incomoda bastante.

O lado bacana da coisa é aquilo que todo mundo já sabe. Ganhar bastante dinheiro, ser paparicada e participar de festas badaladas. Fora isso, eu também ficava muito feliz quando sabia que o meu programa ajudava pessoas que tinham problemas e era muito gratificante ser reconhecida pelo que eu fazia. Se fosse ruim, não teria tanta gente assim querendo ser famosa.

Mas, como nem tudo são flores, o lado ruim é bastante perverso. Eu era vigiada por fotógrafos o dia inteiro. Aonde quer que eu fosse, tinha um abestalhado me seguindo. Depois que começou aqui no Brasil essa coisa que já existia na Europa, de as revistas pagarem por fotos de famosos, ninguém mais ficava sossegado. Fiquei horrorizada quando soube que tinha uma revista que colocava na capa: "Publique a sua foto com um famoso e ganhe R$50,00". Uma loucura! Principalmente porque todo mundo tinha celular com câmera e tudo quanto era tipo de parafernália tecnológica de captação de imagem. Então, eu era uma máquina de fazer dinheiro para quem estava desempregado ou simplesmente desocupado.

No começo da carreira fiquei assustada. Depois de um tempo, achei divertido. Naquele momento, estava meio de saco cheio. Não era raro estar num supermercado, shopping ou afins, e ver algum doido se escondendo atrás de uma pilastra para tentar uma imagem minha. Ficava brava com isso. Preferia as pessoas que se aproximavam honestamente e falavam: "Oi, você é a Luciana da televisão? Posso tirar uma foto com você?". Nunca neguei, mesmo algumas vezes estando com muita dor de cabeça ou mal-humorada.

Aviões eram os piores lugares, porque a gente não tinha como fugir. Na primeira classe era pior ainda, pois todo mundo que estava ali se achava muito íntimo e amigo só porque tinha dinheiro. Eu gostava de ir dormindo o tempo todo, mas, quando me reconheciam, tentavam puxar papo, forçar a amizade, entregar o livro de uma amiga que acabou de se lançar como escritora ou falar de algum problema sexual, achando que eu resolveria ali mesmo. Por isso que o meu sonho de consumo, que seria realizado em breve, era um jatinho particular. Parecia frescura, mas não era! Não tinha comprado um helicóptero ainda porque morria de medo!

Também existia a dificuldade de fazer amigos de verdade. Eu sempre achava que as pessoas estavam se aproximando de mim por puro interesse. Acreditavam que eu era uma forma fácil de fazer com que se tornassem famosas do dia para a noite. Nada a ver... Por isso, tinha apenas dois amigos: o Gustavo, que era meu assessor de imprensa, e a Camila.

Gustavo sabia de todos os meus passos e fazia com que qualquer coisa que se passasse à minha volta virasse notícia. Por esse motivo nossa amizade era meio esquisita. Morria de medo de contar tudo para ele, porque, com certeza, estaria nas capas de todos os jornais no dia seguinte.

Já a Camila era uma fofa. Sabia que podia contar com ela, porém já fazia uns quatro anos que minha amiga se mudara para Los Angeles e ficamos distantes desde então. Ela virou roteirista em Hollywood, estava cheia da grana e convivendo com artistas internacionais. Falamo-nos quase todo mês, mas mesmo assim não tínhamos mais a mesma intimidade.

Por isso, minha rotina sempre foi fixa e certinha. Foi uma forma que achei de tentar fugir de certos problemas e exposições desnecessárias. Cerquei-me de funcionários bem treinados e bem remunerados, que cuidavam da minha vida com afinco. Eu tinha uma agenda planejada com muita antecedência, para que nada saísse errado. Buscava uma vida sem sobressaltos, uma vez que, qualquer saída minha do trilho, o Brasil todo ficava sabendo.

Tinha muita pena de colegas que um dia resolviam encher a cara e aí, no dia seguinte, estavam estampadas, em todos os sites de fofoca, as besteiras feitas na noite anterior. Ninguém mais se escondia naqueles tempos. Minha fixação por uma vida sem escândalos fazia com que meus passos fossem milimetricamente calculados.