Argylle, 13 de outubro, 95 EA.Querido, Noivo
Eu estou te usando de diário, não é? Todo dia meu pai me pergunta quando você voltará. Então eu finjo que meu amor existe e coloco uma cara triste. Eu só não pensei que isso iria tão longe. Meus priminhos até começaram a orar por sua segurança todos os dias antes de irem dormir. Me sinto mal por isso, mas não havia outra opção para alcançar meus objetivos.
Bem, falando em objetivos hoje, na biblioteca, eu li um livro chamado "Initiis". Só li para treinar meu ithicano. A língua morta. Esse é o quinto idioma antigo que aprendo. Interessante não?
Enfim, meu lindo imaginário, as vezes eu fico imaginando como seria se eu tivesse escolhido diferente.
***
Quero que se case comigo.
Minha mente demora a compreender o que ele disse.
- Você, simplesmente, ficou maluco? - falo, porque não consigo pensar em uma explicação melhor. - Mackenzie, você não me conhece.
- Você que pensa, amor - diz com uma voz manhosa. Idiota.
Estava prestes a retrucar se um servo não viesse em nossa direção. Topher.
- Senhores, - uma reverência rápida - as suas presenças são requisitadas no salão de jantar logo após o por do Sol. Foi indicado que se aprontem.
- Claro, Topher - ofereço-lhe um aceno - iremos agora mesmo.
O homem devolve um sorriso gentil.
- Posso acompanhá-lo aos seus aposentos, Capitão Mackenzie.
Mackenzie concorda silenciosamente, sem tirar os malditos olhos de mim. O que esse homem quer?
- Até o jantar, Mon Chridhe.
- Mal posso esperar, Mo Leannan.
Meu noivo, na finada língua Nixon. O tom das palavras promete mil amores, mas eu sei que Logan percebe a pontada de deboche ao fundo.***
Abro com afobação a porta de meu quarto. Harriet, no momento finalizando um belo vestido azul noturno, que me lembra uma meia-noite estrelada, se vira para mim.
- Aprecie essa obra de arte, Audrey. Infelizmente esse aqui não é para o seu jantar de hoje... com aquele pedaço de mal caminho - ela me olha de uma forma que só amigas entendem.
- Como?
- Me movo como uma sombra lembra? - ela pisca um olho avelã para mim.
Sim, claro. Harriet sempre ouviu tudo, seu talento para se esconder nas sombras e não ser notada é impecável. Quando éramos crianças ela amava me assustar se aproximando silenciosamente. Um sorriso se forma em meu rosto com a lembrança.
- Lembro, senhorita sabe-tudo - me aproximo e a cutuco de leve. - Já que você ouviu todas as novidades de minha vida miserável, não posso mesmo jantar com essa lindeza? - aponto para o vestido que parece brilhar levemente.
Harriet bufa com exasperação. - Essa lindeza merece uma ocasião muito mais especial que um jantar - ela retira os olhos do vestido e me encara. - Hoje você vestirá aquele.
VOCÊ ESTÁ LENDO
As 301 Cartas
FanfictionMuito mais que só um romance de época. "Tarde demais o conheci, por fim: cedo demais, sem conhecê-lo, amei-o." Audrey Hambrose é uma jovem de 20 anos. Nascida na Época Antiga (EA), como se é datado em seu mundo. Sua cidade, Argylle, é uma das poucas...