Eu era uma criança problemática, meu pai constantemente espancava minha mãe, por motivos bestas, todos os dias, ouvia suas brigas, era algo constante. Minha velha nunca teve tempo pra mim por conta do trabalho, chegava em casa e deitava no sofá com os olhos cansados. Meu pai chegava furioso, por não ter comida na mesa, e culpava mamãe por tudo, enquanto eu, ficava na rua, brincando com outras crianças. Com o tempo, a raiva dos dois passou a diante, e eles descontaram tudo em mim; A falta de atenção me fez rebelde na adolescência, eu queria me sentir especial de alguma forma, por sorte, eu era alguém bem extrovertido, gostava de conversar.
Quando vi aquelas garotas, senti que deveria andar com elas, porém as mesmas não tinham um bom caráter, pois gostavam de fazer bullying com as outras crianças. Aquelas que pareciam mais frágeis, ou as que eram denominadas "esquisitas", estas eram o alvo daquelas diabas. Eu não queria sofrer com as garotas, então, decidi me juntar a elas.
Com elas, eu aprendi a roubar lojas de maquiagem barata sem ser vista, eu jogava lixo na cabeça das outras garotas, cortava os cabelos, pegava seus namorados, fazia a vida delas um inferno. Naquela época, já não ligava mais para nada, fazia tudo que me dava na telha, pois meus pais não me deram uma boa educação, então, eu me sentia solta no mundo.
Mas havia uma garota em particular, O nome dela era Samantha. Samantha era uma garota com cabelos marrons bem claros, olhos escuros e uma pele branca até demais. Usava um óculos redondo gigante, e aparelhos azuis neon. A criança era isolada, não conversava com ninguém, e ficava comendo sozinha no intervalo, sempre. Ou seja, Ela era o alvo perfeito.
Eu e as meninas faziamos de tudo com Samantha, Mas o que eu mais me arrependo, é ter incentivado uma das garotas, a contratar seu irmão mais velho para estuprar a menina, o que ele fez com sucesso. Seus nudes foram vazados na internet, e a vida da garota foi simplesmente destruída, apenas por diversão. Lembro que forçava um riso toda vez que eu me lembrava disso, mas no fundo, sabia que aquilo era errado, sabia que aquela garota não merecia tudo aquilo.
Após esse evento, a reputação da menina, que já não era uma das melhores, se tornou pior, quando ela passava, as pessoas olhavam para ela com uma expressão de nojo e julgamento, ninguém fazia amizade com ela, por medo de pegar a mesma fama que ela, de marmita, pois inventavam e aumentavam cada vez mais boatos sobre a pobre alma.
Alguns anos depois, Samantha simplesmente sumiu, não se tinha noticias sobre a menina, ela simplesmente havia sumido, sem deixar rastros. As minhas amigas não comentaram nada sobre por muito tempo, era como se nunca tivéssemos feito nada, era como se ela nunca tivesse existido.
Bom, isso não importou mais. Meus pais iniciaram uma discussão no meio do transito, e ambos morreram após bater em um caminhão. Enquanto a mim? Tive que mudar de cidade, para morar com meus avós distantes. Dei adeus as minhas amigas, pois não passaria o último ano do ensino médio com elas, e fui para uma nova escola, onde passaria o último ano escolar.
Nessa escola, briguei feio com uma garota, foi algo bobo, mas que fez meus avós perceberem a educação horrível que seus próprios filhos me proporcionaram, então, eles me forçaram a fazer terapia durante meses. Na terapia, acabei descobrindo que as coisas que eu fazia, eram graças a minha carência de atenção na infância, eu buscava constante aprovação e bla, bla, bla.
Com isso, comecei a olhar para trás, e observar a quantidade de pessoas que eu feri, a quantidade de pessoas que provavelmente estavam traumatizadas com minhas atitudes, e a cada nova sessão de terapia, uma espécie de nó se formava na minha garganta. Eu me sentia enojada com as coisas que fazia. Mas a coisa mais estranha, é que meu arrependimento não era normal.
Após alguns meses de terapia, comecei a me sentir observada, todos os dias, toda hora. Mesmo com várias pessoas ao meu lado, eu sentia que alguém, que não era ninguém dali me observava. Aquele nó na garganta, ele crescia a cada dia mais, todos os dias, eu sentia vontade de vomitar, por conta dessa sensação de nó. Passei a colocar meu dedo na garganta todos os dias, para ver se isso saia, mas não, não saia.
Depois, comecei a ter vários pesadelos, pesadelos esses, que mal consigo descrever, era perturbador demais. Terminei com muito esforço o terceiro ano, e pude me formar, mas eu não tive forças para participar dos eventos escolares relacionados a minha sala durante o ano, eu sentia um enorme vazio dentro de mim, era como se tivesse um grande buraco em meu peito. E a dor? a dor era inesquecível, era insuportável.
Apesar da dor, não conseguia contar para outra pessoa, nem para minha terapeuta. Eu desisti dos meus planos, desisti de trabalhar, me afundei na cama, e comecei a tomar remédios para tentar me esquecer dessa sensação. Algum tempo depois, Já morava sozinha, pois meus avós morreram. Eu me encontrava sempre sozinha, e com fome, pois não tinha coragem de trabalhar, não tinha coragem de ir ao mercado. Me afundei em uma depressão imensa.
Estava no estado mais deplorável da vida, sem amigos, sem ânimo, e sentia a morte cada vez mais próxima. Eu só me perguntava, onde minha vida deu tão errado? E a resposta é que sempre deu. Um dia, estive lembrando do meu passado, consegui me levantar da cama, e sai de casa, de pijama mesmo. Peguei os trocados restantes e comprei uma mini pizza pra mim, foi o que deu. Assei e comi inteira sozinha, pois faziam dias que não comia algo.
Em silencio, permaneci sentada naquela mesa, sem pensar muito, porém, naquele dia, tudo estava mais calmo. A dor estava menos intensa, e o nó na garganta praticamente não existia mais. Eu finalmente, pude sentir paz. Até que vi, uma figurinha se manifestando em minha cozinha. Era de uma mulher, uma mulher branca, usava um vestido branco com flores amarelas, porém coberto de sangue, graças aos dois pulsos cortados. Seus olhos eram completamente negros, e em seu rosto, havia uma expressão do mais puro ódio.
Ela caminhou até mim, eu me assustei, porém, não fiz nada contra ela. Ela se aproximou o suficiente, para que nossos narizes se tocassem, e com aquele bafo úmido, sussurrou em meu rosto:
- " Você destruiu minha vida, e eu morri. Depois, eu destruí sua vida, pois tudo de ruim que aconteceu contigo, eu causei. E agora, quem vai morrer é você."
Eu finalmente entendi, aquele sentimento, era de culpa, e no fundo, eu sabia que merecia isso.
Ela avançou a mão com tudo para meu pescoço, e com suas longas garras, foi rasgando meu corpo, abrindo ele enquanto eu ainda estava viva, ela foi arrastando suas mãos até meu umbigo, deixando meus orgãos expostos pra fora.
Após isso, ela foi embora, simplesmente sumiu.
Eu sabia que se não pedisse ajuda, eu morreria. Então, decidi morrer, pois sabia que eu merecia isso, sabia que eu não valia a pena, minha vida não valia mais a pena.
Observei meus últimos momentos com calma, aquela dor estava sumindo, dando espaço para a dor agonizante que sentia, graças ao meu corpo, que estava todo aberto. Sentia meu coração quase pulando para fora do meu corpo, era como se meus orgãos internos estivessem ficando frios, pois estavam expostos.
Fechei os olhos, e vi as outras garotas, todas mortas, de várias formas brutais. e finalmente, vi minha carta de suicídio que deixei em cima da mesa. Agora, posso me sentir em paz, com aquelas pessoas que feri.
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Histórias curtas de terror para ler com café.
HororAlgumas histórias curtas de terror. A parte do café é opcional, hehe.