Jenny
Um raio preguiçoso de sol penetrou as cortinas semiabertas e reluziu sobre a placa de identificação de vidro à minha frente: Liam Joseph K. Cordeiro - COO.
Como pode né?! Três míseras letras que juntas tinham o poder de fechar meu cú igual um cofre de banco. O cara era simplesmente o diretor de operações daquela gigante na arquitetura.
"Gostou? Quer Comprar?"
"Gostou? Quer Comprar?"
"Gostou? Quer Comprar?"
"Gostou? Quer Comprar?"
"Gostou? Quer Comprar?"
Balanço a cabeça pra dissipar os ecos... Por que? Por que? Por que?
Internamente me dou uns cascudos na cabeça, e por fora pigarreio, tentando disfarçar o fato de que Liam está há uns 10 minutos estático, apenas me olhando sem demonstrar um fiapo de emoção.
Troco minhas pernas de posição novamente, e ele pega meu currículo e começa uma análise minuciosa, mas minuciosa do nível CSI. Achei que por um momento iria surgir alguém de algum laboratório escondido naquela monstruosidade arquitetônica chamada edifício e colocaria o papel em um saco plástico zip etiquetado EVIDENCIA.
- Senhora Jennifer? Senhora ou senhorita?
Sutil.
- Senhorita.
- Senhorita Jennifer, como ficou sabendo de nós?
- LinkedIn, vi o anúncio da vaga e me candidatei. Na verdade, nem imaginei que fossem me chamar, pois, a relação candidato vaga estava bem alta, e fiz a primeira triagem há seis meses atrás...
- Seis meses atrás? Seis meses atrás a senhorita ainda estava trabalhando. Por qual motivo resolveu se candidatar a vaga se já possuía uma posição no mercado?
- Bom... - sussurro pra mim mesma: como vou explicar? - Eu já tinha uma vaga ideia que não iria demorar muito para que eu estivesse disponível no mercado.
- Poderia elaborar melhor?
- Ahm, ok! - Franzo a testa e mordo o canto da boca, é um hábito que tenho quando estou desconfortável ou insegura. - Eu trabalhei no meu emprego anterior por 5 anos, iniciei como assistente e saí de lá como líder de projetos, mas os degraus para atingir essa posição nunca foram regulares, as alturas eram muito divergentes, e os períodos também. Eu sentia que, em essência, eu estava atuando quase como um Severino, precisavam e eu estava lá. Só que há mais ou menos dois anos, o dono da empresa se separou e depois de 3 meses se casou com uma designer recém formada. Quando voltaram da lua-de-mel, ele começou a trazer ela para a empresa, e a "introduzir" ela nos negócios, pouco tempo depois ela passou a ficar mais próxima de mim e aprender as rotinas que fazíamos.
Dei uma pausa e bebi um pouco de água.
- Conforme o tempo passava, eu percebia que os novos projetos começaram a ser divididos, no começo era 90% pra mim e 10% pra ela, depois 70/30, 50/50 até que nos últimos seis meses eu estava com os 10%. Embora fosse nítida a movimentação por parte do dono, eu ainda queria dar a oportunidade de a gente conversar, já que depois que assumi como líder de projeto, ele havia me prometido a gerência em 2 anos, e a sociedade em 5, isso muito antes de toda a reviravolta na vida pessoal dele.
- Certo, e aí?
- Quando ele aceitou me receber, o discurso foi o mesmo, ela assumiria minhas funções, para que eu assumisse a gerência. Então ela teria tempo de campo para absorver maiores responsabilidades, para ganhar mais experiência, do jeito que ela queria. Ele me agradeceu muito, me elogiou e me tratou como se eu fosse um Top Talent da empresa, dizendo que sem mim as coisas não teriam evoluído tanto em 5 anos, e que nunca esqueceria das minhas contribuições. Quando minha % chegou a zero, recebi o aviso da demissão. - Concluí sorrindo para ele. O sorriso escondia (ou tentava) aquela bolota que se formava na minha garganta sempre que eu falava sobre o assunto.
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Gostou? Quer Comprar?
RomanceNunca aquela frase famosa do Divertidamente da Disney fez tanto sentido: "Já olhou para uma pessoa e se perguntou: o que passa na cabeça dela?" Jenny é uma mulher de 27 anos, que atualmente está entre empregos, leia-se desempregada a procura de reco...