Capítulo Um

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Melissa Fleck

O que está acontecendo? 

Além da dor. Dor de cabeça, dor no peito, dor na coluna e na perna uma dor alucinante. Um bipe irritante em algum lugar por perto. E uma claridade forte para além da pálpebra de seus olhos fechados. Melissa soube que estava no hospital antes mesmo de abrir seus olhos. O cheiro de cloro e a claridade eram insuportavelmente reconhecidos de longe.

E mesmo com seus pensamentos despertando, Melissa permaneceu com seus olhos fechados enquanto as memorias do que havia acontecido vinham em choques doloridos e pesados demais para querer encarar. Pelo menos, de olhos fechados, poderia fingir que nada daquilo havia acontecido e viver normalmente em um daqueles raros momentos em que tinha certeza de que era um sonho de tão bom que era. De que a vida não era tão difícil, em que não havia sido praticamente espancada, e onde Trenton não havia levado um tiro.

Não. Ele estava bem. Ele ia jogar em um dos melhores times de futebol. E em seu primeiro jogo, quando fizesse um gol, era ela quem estaria lá na arquibancada comemorando mesmo sem entender nada de futebol porque havia sido para ela que ele havia contado primeiro quando passou. Porque era para ela a quem ele deferia aquela covinha perfeita. Porque era com ela que ele ia comemorar.

Ia.

Se abrir os olhos, daria-se por conta que era tudo um sonho. Que as dores que estava sentindo era real. Que Trenton não ia mais jogar em um dos melhores times de futebol porque ele não havia somente levado um tiro. E Infelizmente, a realidade estava batendo da forma mais dolorosa possível.

Aos poucos, seus olhos foram abrindo-se, enquanto sua mente ainda ia clareando-se com as informações. Enquanto ela teria que encarar que não tinha como fugir de tudo o que havia acontecido. Não tinha como fugir daquela vida.

A vida que ela tanto amava e que havia almejado. E que no momento, só parecia um inferno. Isso. Um inferno. Antes de abrir os olhos, ela estava com medo de suas memorias vivíssimas de tudo o que havia acontecido. Agora, de olhos abertos, ela não estava com medo. Ela estava triste.

Tudo parecia um inferno. Os lenços branquíssimos e macios. A parede branca. Os fios conectados ao seu corpo. Sua perna direita estava levantada e rodeada por alguns travesseiros. E péssima. Com um corte feio, vermelho e fechado, que por menor que fosse, não diminuía a dor que estava sentindo. Ela sabia que aquela parte estava quebrada antes mesmo de ter a informação completa. Ainda que nunca tivesse quebrado nenhuma parte de seu corpo. Nunca.

À medida que seus pensamentos ainda iam-se se alinhando, parecia que sua alma não havia se encaixado no corpo. Melissa nunca se sentiu tão desconfortável em toda sua vida. Seus olhos teimavam em querer se fechar, entretanto, lutou contra.

Realmente não tinha como fugir daquilo.

Foi somente quando moveu o pescoço para o lado, tentando sair mínima coisa daquela posição, que notou que não estava sozinha no quarto.

A camisa preta dava um contraste dentro daquele ambiente todo branco e pálido. E o amassado de toda sua roupa revelavam que não fazia poucas horas que ele estava ali. Seu corpo estava curvado para frente, sentado em uma poltrona a alguns passos de distância, seus braços apoiados nos joelhos. O cabelo era aquela desordem de fios de sempre e os olhos acompanhavam cada movimento seu. A expressão era neutra enquanto a analisava, talvez esperando o momento em que Melissa fosse expressar o que estava sentindo. Se ia surtar ou se derramar em lagrimas. Se ia o odiar ou continuar o amando.

Estar ali era culpa dele. Trenton não estar vivo era culpa dele.

Melissa fechou os olhos, virando o rosto e lutando com as lagrimas que queriam rolar. As memorias que vinham lentamente se esgueirando pela mente e pelo fato de Dereck estar ali. Maravilhosamente intocável que chegava a doer seu coração.

Storme - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora