Storme - Livro 2

Capítulo Três

Melissa Fleck

— Eu estava enlouquecendo sem conseguir falar com você. — Malu parecia realmente péssima, enquanto olhava-a preocupada do outro lado da tela do celular novo de Melissa. — Eu não preciso perguntar se você está bem, porque você parece péssima.

Melissa sorriu. Pelo menos aquele simples ato não lhe rendia mais dores. Melissa não sabia dizer se havia sido os remédios ou o longo banho que Helena havia ajudado-a a tomar a minutos atrás. O pijama rosa com estampa de coração e seus cabelos molhados melhoravam um pouco a sua aparência. Pela primeira vez desde que havia acordado, a quase dois dias, ela se sentia apresentável. 

Também fazia dois dias que não via Dereck. Desde que ela havia praticamente o enxotado do quarto quando disse que preferia que seu pai dormisse ali com ela. Ele não havia aparecido mais em nenhum momento do dia. Entretanto, Melissa não queria analisar aquela situação. Ela não precisava de outros sentimentos ruins tomando conta de seu peito. Os que já estavam enraizados ali, já eram difíceis o suficiente para lidar.

— Eu me sinto melhor agora, obrigado. — Debochou com um pequeno sorriso.

A saudade de Malu era tão sufocante que sentia seus olhos se encherem de lagrimas e seu coração se apertar tão forte e de maneira dilacerante. Helena havia dito que ela lhe mandava mensagem a todo instante. Não somente isso e de forma simples. Ela já estava beirando a impaciência sempre que se referia a Malu. De uma forma que incomodava pra caramba. E era por aquele motivo que Melissa havia demorado para conseguir falar com ela. E também a tecnologia de um iphone para o outro só servia para atrasar as coisas. E desde que ela continuava deitada com dor, os remédios não ajudavam-na a ter mais tempo acordada durante o dia para solucionar os problemas com seu novo iphone de última geração. E eram coisas simples que nem mesmo um chefe da máfia conseguia resolver.

— Você está linda, Melissa, você sempre está linda. — Ela sorriu amorosamente. — Mas estou morrendo por dentro te vendo por uma tela desta forma. Eu queria tanto estar perto de você agora. Eu juro.

— Eu sei, Malu. E acredite preferia que Dereck tivesse trazido você ao invés dos meus pais.

Na mesma hora que as palavras saíram de sua boca, Melissa se sentiu mal. Era de uma ingratidão sem tamanho o que acabara de falar. Desde o momento em que havia chegado, seu pai havia tentado fazer de tudo para que ela se sentisse amada e acolhida. Com palavras, gestos, abraços. De todas as formas possíveis. As várias barras de chocolates embaixo do seu colchão comprovavam aquilo. Eles sempre comiam no meio da madrugada, quando achavam que ninguém mais ia entrar no quarto até o amanhecer. E também era seu pai que havia dormido na desconfortável poltrona do quarto aquelas duas noites, mesmo que dormido era uma palavra meio forte para alguém que mal pregava os olhos com medo de Melissa precisar de algo. Era seu pai, mesmo com todos os defeitos. E Melissa o amava tanto que seu coração chegava a apertar lembrando que logo ele iria embora.

E ela ficaria em Boston. Sozinha.

Aquela era a sensação mais terrível que teve em toda sua vida. Completamente perdida. Boston sempre havia sido seu lugar. O lugar que sempre sonhara. Que planejara por anos. Que lutara tanto para ir. Entretanto, naquele momento, tudo parecia estranho. Se sentia deslocada. E o pior era que aquele continuava sendo o seu lugar, só não conseguia não se sentir sozinha e perdida.

O acidente havia-a a mudado. Não somente fisicamente. Entretanto, ela já havia se sentido daquela mesma forma antes. E o fato daquele sentimento ter começado a lhe dominar depois de conhecer Dereck era algo que ela deveria levar em consideração.

— Lembra quando meus pais se divorciaram? — Melissa retornou sua atenção para Malu. — E você descobriu por que a fofoqueira da Isabela contou? Fizemos um pacto que não existiria mais segredo entre nós duas. Tínhamos dez anos. E isso nunca foi quebrado, não é?