PRÓLOGO

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"A vida não dá coisa alguma sem retribuição e sobre cada coisa concedida pelo destino, há secretamente um preço, que cedo ou tarde deverá ser pago."

    – Stefan Zweig

    Era uma vez um rapazinho amaldiçoado de incontáveis formas. Ele nasceu em uma noite escura, devido a uma queda repentina de energia, em um quarto iluminado à luz de velas, o cômodo era razoavelmente luxuoso. Vinha de uma rica família, contando apenas os bens materiais, pois no quesito dignidade, honestidade e afins — realmente — a família era extremamente desafortunada.

    O céu estava iluminado por uma lua cheia, de cor escarlate, um mau presságio, diziam todos. A noite parecia estranhamente silenciosa, corvos observavam a mesquinha mulher entrar em trabalho de parto exatamente às três da manhã, outro sinal de mau agouro, o dia era uma sexta-feira treze.

       Não havia parto mais amaldiçoado.

    Enquanto a mulher gritava de dor, um padre orava, tentando abençoar a criança que nascia, mas, o servo de Deus mal conseguia ser perdoado pelos seus próprios pecados — que não eram poucos —, a mulher praguejava a criança para sair rápido para fora de seu corpo, e quando finalmente saiu, o primeiro pensamentos que ela teve foram de orgulho e alegria por trazer ao mundo um menino.

No entanto, logo o desgosto tomou conta dos presentes, logo a criança soltou seu  cheiro, a fragrância doce e floral denunciava sua classe: um ômega, e se já não fosse desgosto o bastante, a força de seus feromônios se mostrou não ser de um ômega comum e sim de lúpus.

    Os infortúnios da família não pararam, pois a criança recém-nascida não chorou, não se mexeu ou aparentou estar viva. As enfermeiras, por vários minutos, tentaram fazer com que o bebê desse um sinal de que sobreviveria, porém, nada aconteceu.

Quando não havia mais esperança, uma marca surgiu nas costas do bebê, que inicialmente fora difícil de entender o significado, mas à medida que a marca aumentava, luas formavam-se na pele da criança (ainda sem respirar) causando espanto em todos que ali estavam.

Em um última tentativa de fazer com que o sopro da vida chegasse aos pulmões do bebê, fizeram um pequeno corte com uma faca, esperando que a dor fizesse a criança chorar, mas em vez de sangue, um líquido dourado escorria pela ferida que se curou como mágica, uma aberração, foi o que todos pensaram, o olhar de nojo e repulsa era explícito no rosto de todos naquele quarto. Sem mais esperanças — e com um alívio nítido — pela sobrevivência do bebê, as enfermeiras  o entregaram ao padre e foram confortar a mãe que não parecia abalada pelo aparente natimorto que acabara de parir.

    Assim que o padre pegou a criança, essa abriu os olhos e, logo, todos desejaram que ele jamais tivesse feito, pois, o que se viu eram olhos tão brancos quanto as nuvens do céu, e com esses mesmos olhos o recém nascido mirava diretamente o padre, os olhos brancos e frios o encarando pareciam enxergar a fundo a podridão que era sua alma, fazendo-o ter a impressão de estar sendo julgado e tendo expostos todos os seus mais obscuros segredos, ou pelo menos, era o que pensava.

Mas, na verdade,  o que prendia a atenção da criança era outra coisa, ou melhor, outra pessoa,  essa que estava atrás do padre e ninguém podia ver: uma jovem moça com vestes rasgadas e um sangramento constante em sua cabeça.

E mesmo diante dessa horrenda visão, a criança não chorou.

    O padre, sentindo-se intimidado e julgado, entregou a criança para a mãe e saiu correndo daquele palacete, seguindo rumo a capela e cometendo suicídio na mesma noite. A criança, agora nos braços da mãe, enfrentava sua primeira rejeição direta: sua mãe recusava-se a lhe alimentar com seu próprio leite, ordenando às empregadas que lhe dessem leite de vaca. Seu pai não se deu nem ao trabalho de entrar no quarto para vê-lo. Seu olfato e audição de alfa entregavam que a criança seria o desgosto e a desgraça de sua  família.

    Após o alimentarem, o ômega foi levado para um quarto bastante afastado do cômodo de seus pais, e colocado para dormir em um amontoado de trapos velhos e sujos. A partir daquele dia, sua convivência com seus genitores seria quase inexistente.

    [...]

    Há três dias de viagem dali — na capital —, um enorme castelo era consumido pelo fogo, e com ele, um dos mais cruéis alfas que pisaram na terra era carbonizado em um incêndio "acidental". Jungkook Vlad primeiro, o próximo na linha de sucessão, acabará morrendo e com ele toda a sua crueldade. Ou, foi isso que todos pensaram, até presenciarem a demoníaca criatura sair das chamas, faminta e descontrolada sugando o sangue de todo aquele que estivesse em seu caminho. A labareda cessou e nenhum dano foi causado ao castelo, que agora habitava a mais assustadora e cruel criatura em forma de alfa.

    Ambos foram amaldiçoados: um com a morte e o outro pela morte. Seus caminhos estavam interligados por algo mais forte e antigo que o destino, e ninguém conseguiria controlar ou evitar.

    A única opção era deixar que seus caminhos se encontrem, e que o destino dite  o quê será dessas almas rejeitadas, incompreendidas e amaldiçoadas.







Lembrem-se!

Nem tudo é o que parece. 

Não existe o bem sem o mal, e ninguém é totalmente inocente. Todos temos nossos segredos sombrios   e  obscuros.

E mesmo que não tenhamos consciência,
nossos desejos maléficos e cruéis pelo poder, muitas vezes podem estar  disfarçados de uma sede insaciável por justiça.

Ele está lá, apenas esperando você olhar para o abismo escuro guardado em sua alma.

E quando acontece, quando você olha para sua própria escuridão, ela te olha de volta e então não há mais volta.

Se porventura você tiver alguma dúvida se há ou não o mal escondido dentro de você, apenas ignore e siga em frente. Às vezes, conviver com a dúvida é melhor do que encarar a verdade.

Bem vindos  a  COLINA ESCARLATE.

Bem vindos  a  COLINA ESCARLATE

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