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Seokjin foi ligeiro em ligar a maquina de café, ele nunca imaginou que precisaria de uma até ter uma, Yoongi era um anjo por ter comprado aquela que era só preciso por a cápsula e esperar. Enquanto esperava o café, Jungkook tirou a jaqueta e a colocou no cabideiro logo na entrada, revelando seu braço tatuado do ombro até o pulso, algo que Seokjin nunca teria o privilégio de ver em uma sessão porque Jungkook só usava blusa de manga comprida.

- Engraçado, da última vez que bebi um americano gelado ele manchou minha camisa favorita. - Jungkook se referia a primeira consulta deles.

- Isso sempre me pegou, como aconteceu? - perguntou enquanto esperava a máquina trabalhar.

- Sabe como é, era hora do almoço, pessoas apressadas, cafeteria lotada, pedido vindo errado, estresse e pow! - bateu as mãos como se tivesse se chocado com algo. - Café gelado derramado no peito, eu já estava atrasado e não poderia pedir por outro. Foi uma péssima primeira impressão, não foi?

- Sinceramente, eu estava tão chocado com sua idade que nem me incomodei com aquela mancha. - ouviu o barulho do café estando pronto e foi rápido em agir. - Sabe, Jungkook. - Seokjin iniciou servindo o copo com americano gelado para o outro que estava sentado na cadeira da bancada. - Você sabe muito sobre mim, mas eu quase não sei sobre você.

- É o meu trabalho saber da sua vida. - deu um gole no café.

- E eu não posso saber um pouco sobre você? - seu intuito não era soar sedutor, mas acabou soando pela forma como ele se encostou na bancada, encarando Jungkook nos olhos e fazendo-o ficar tímido por alguns segundos. - Nem sobre o porque quis se tornar um terapeuta?

- Por que quis ser compositor? - Jungkook rebateu a pergunta, uma forma de desviar assunto.

- Porque compor músicas é o que me faz bem.

- Pois então posso dizer que meu trabalho me faz bem. - os sorrisos no rosto dos dois não saíam, eles eram involuntários e só perceberiam quando suas bochechas começassem a ficar dormentes.

- Você fica bem ouvindo o problema dos outros? - indagou recebendo uma resposta positiva. - Que baita fofoqueiro.

- Fico lisonjeado. - mal percebeu que o café já acabara. - Não é só sobre ouvir os problemas, gosto de ajudar, fazer a pessoa se sentir melhor; aquele pequeno tempo na semana da pessoa que faz toda a diferença para a vida dela, é algo que não consigo definir em palavras. - os olhos dele brilhavam conforme falava.

- É lindo... - não sabia se estava falando para a beleza do rapaz ou suas palavras. - Suas palavras... elas são lindas - se corrigiu ao perceber que Jungkook ficou levemente corado.

Eles estavam claramente flertando sem perceber e isso era arriscado e antiético, Seokjin não notou de imediato, mas Jungkooo notara e foi rápido em limpar a garganta, levantar e anunciar que estaria indo embora, não poderia deixar aquela situação se extender porque sabia que não teria autocontrole.

A consulta que veio na próxima semana foi um tanto quanto estranha. Ao mesmo tempo que estavam desconfortáveis, também estavam confortáveis e isso era torturante. Para piorar, Seokjin recebera a notícia no dia anterior a consulta que teria que fazer uma cirurgia para tentar tirar o tumor visto que a quimioterapia não estava fazendo efeito.

Ele estava conformado de que entraria naquela sala de cirurgia e sairia tão dopado que mal lembraria o próprio nome e, por um instante, isso foi reconfortador. Todavia, a realidade bateu na porta quando percebeu que coincidentemente o aniversário de morte do seu pai era no dia da cirurgia.

Ele não era paranoico, bem, era.

Para piorar, não conseguia desabafar direito com Jungkook visto que talvez, só talvez, ele estivesse gostando do rapaz. Talvez por isso ele não ficara tão triste que Soohyun o abandonou, não sabia dizer, Jungkook era bonito, estava na melhor fase da vida - isso porque tinham cinco anos de diferença -, personalidade cativante e um corpo forte para alguém que formara cedo na faculdade, como ele conciliava o tempo de estudos, trabalho e academia? Seokjin mal conseguia lidar com seu trabalho e a quimioterapia ao mesmo tempo, não sabia se o que sentia era inveja, admiração ou pseudo-paixão.

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