Capítulo 11

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Com a adrenalina a mil, sentia o vento gelado pelo seus cabelos. Não conseguia segurar as grossas lágrimas, a sensação era dolorosa e fria, seu corpo era frio. E apesar de toda a dor que sentia por todo seu corpo, o fazendo tremer, nada se comparava a dor interna que sentia agora. Sua garganta aranhava de tanto gritar e chorar, não suportava colocar tudo para fora mas ainda continuar com o enorme desespero emocional.

Todavia, por que estava chorando? Não conseguia se lembrar, apenas sentia o grande vazio. Abriu os olhos devagar, e se deparou com a figura a uma curta distância de si, belo. Seu semblante se acalmou. Mikey estava ao seu lado, sentado de uma forma tão pacífica. Seu ventre se remexeu, sentia um frio incômodo.

Era um poço tão infinito de saudades, que seus sentidos aguçados tomaram a forma e o perfume do garoto no último contato que tiveram. Tudo parecia se clarear, podia sentir como se estivesse flutuando, mas algo parecia errado.

Mikey estava quieto demais, por que estava tão imóvel e palido? E por que estava coberto de sangue?

Sua visão voltou a se aquecer em finas lágrimas, os sentimentos dolorosos estavam voltando. E em meio ao torturante retorno de memórias envoltos a melodia da chuva fria que caia, percebeu que o amava. Mas foi quando olhou para o garoto a sua frente, que lembrou-se de que nada daquilo era verdadeiramente real, e que a cruel realidade era que ele estava morto.

O céu estava ridiculamente horrível. Estava acinzentado, e ele podia sentir o frio das gotas grossas de chuva sobre sua pele, com o vento que agredia seu rosto com sua forte brisa. Ele se sentia tão horrível, tão triste como se nunca antes houvesse conhecido o calor da felicidade. Fechou os olhos, respirando pesadamente em busca de ar para seus pulmões, cansado de tanto soluçar.

Doía mais ainda quando se lembrava de como foi bom, como foi excepcionalmente maravilhoso amar e ser amado, de forma tão intensa. Ter amado alguém com quem falhou em proteger.

ahh como doía, mais do que mil facas em seu estômago. Tudo parecia tão real, mas ele sabia que não era. "tem que ser um pesadelo, é apenas um daqueles sonhos ruins." Repetia em sua cabeça, diversas vezes sem parar, chegava a o deixar maluco a ponto de querer tirar a própria vida.

Ouviu uma voz, uma voz familiar e abafada que vinha de tão longe. Alguém chamava por seu nome diversas vezes.

[...]

Takemichi abriu os olhos, assustado e ofegante. Suava, mesmo com a baixa temperatura que gelava por completo todo o seu quarto escuro. Olhou ao redor e retirou as diversas camadas de cobertores de cima de si.

'o que foi isso?!' – pensou Takemichi, tentando controlar sua respiração e seus sentidos. – 'foi tão real.' – era forte, a estranha sensação de angústia, é quase palpável.

Se assustou com a voz grossa gritando por seu nome, temendo ainda estar sonhando, mas apenas se lembrou do dono pertencente a ela, suspirando em desgosto. Se sentou na cama coçando os olhos antes de pisar os pés no chão, sentindo um grande arrepio percorrer por seu corpo ao entrar em contato com o piso frio.

Tentou ignorar a sensação desconfortável e se levantou completamente, caminhando para fora do cômodo e gritando do topo das escadas, para que quem estivesse no andar de baixo ouvisse seu aviso de que já estava indo.

Foi até o banheiro decidido a tomar um longo banho para se livrar do suor melequento e quente que escorria por seu corpo.

[...]

Após passar longos minutos atolado na banheira, sem vontade alguma de se levantar, saiu do banho já trocado e desceu as escadas. Encontrou seus pais na cozinha em silêncio, um silêncio constrangedor e desconfortável. O clima naquele ambiente era pesado e obscuro, não agradou nada a Takemichi.

Quando os sentimentos surgem  (Mitake)Onde histórias criam vida. Descubra agora