1.
3 de novembro de 1981, terça-feira.
A HISTÓRIA começa, até onde é compreensível para si se recordar – se é que se recorda –, com um feixe de luz, seguido por um som atordoante, então um grito estridente. Depois, e antes disso, todas as visões, sons e memórias, deixaram de existir.
Seu cérebro era um breu e seus pensamentos um furacão. Ele gostaria de acordar mas não conseguia se lembrar como, e escutava vozes mas não sabia de quem eram, e entendia palavras mas não captava seus significados.
Ao passar dos minutos, sua mente foi se libertando da dormência que insistia em continuar ali, e seus olhos, mesmo fechados, começavam a arder pela claridade excessiva de seja lá onde ele esteja.
Talvez tenha morrido, o pensamento lhe passou pela mente. Já era hora.
— Senhor Lupin? Senhor Lupin, você consegue me ouvir?
Ele estava enxergando, não sabia como, já que não se lembrava de ter aberto os olhos – nem sabia que sabia como abrir os olhos. Se encontrava deitado numa cama com lençóis tão brancos que sua cabeça latejou momentaneamente quando olhou para eles. Ele levantou sua cabeça para afastar seus olhos dos lençóis e se deparou com uma mulher com o uniforme ainda mais branco que os lençóis da cama.
Então fechou os olhos um pouco desesperado para se livrar de tudo aquilo, mas aquela voz – que ele entendeu vir da mulher à sua frente –, simplesmente não parava de falar, e isso já começava a o deixar incomodado. Sentia sua cabeça dando voltas e mais voltas e seu cérebro atordoado como se tocassem um gongo em sua cabeça sem parar.
“Senhor Lupin, Senhor Lupin, Senhor Lupin, Senhor Lupin”.
Quem é esse tal de Senhor Lupin?
Quando conseguiu abrir seus olhos novamente, teve um leve sobressalto ao encontrar o rosto da mulher bem próximo ao seu, olhando em seus olhos enquanto ainda repetia com uma insistência, no mínimo, irritante:
— Senhor Lupin, o senhor consegue me ouvir?
Ele piscou surpreso. Lupin? Senhor?
Não queria ser dramático ou começar um escândalo, então apenas concordou com a cabeça.
A mulher concordou com a cabeça também e anotou algo em um bloco de papel.
"Desnorteado", ele leu a palavra de cabeça para baixo. Se sentiu, no mínimo, ofendido.
— Você consegue se lembrar de seu nome?
Ele piscou rapidamente, voltando sua atenção para a mulher à sua frente.
— Lupin — respondeu confiante de que esta era a resposta certa.
Ela sorriu gentilmente e sentou-se na beirada de sua cama.
— Seu primeiro nome, querido — ela disse. Ele olhou para as próprias mãos, sem saber muito bem o que fazer. Não sabia o que deveria fazer e não esperava que as perguntas fossem tão complicadas assim. Quando ele não respondeu nada, a mulher se solidarizou e sorriu de forma mais gentil ainda. — O seu nome, querido, é Remus. Remus Lupin. Significa lobo.
Lobo.
Remus concordou com a cabeça, sem saber se isso era o certo a se fazer.
— Consegue lembrar de mais alguma coisa, senhor? — sua pose voltou a ser profissional e ela anotou mais alguma coisa em seu caderninho. A caneta que ela usava, Remus notou, continha um grande pompom rosa na ponta, e ele se perguntou como ela conseguia escrever com aquilo fazendo tanto peso. Quando Remus nada respondeu, mais uma vez, ela perguntou: — Os nomes James Potter, Lily Potter, Harry Potter, Sirius Black e Peter Pettigrew lhe trazem alguma lembrança?
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reminiscere.
FanfictionRemus poderia não se lembrar, mas ele odeia fitas cassete. Ou ao menos odiava. Depois de acordar em um hospital, sem qualquer memória de sua vida até aquele momento, ele se sente mais perdido do que qualquer pessoa já se sentiu. Ao voltar para cas...