Capítulo 2

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Narrador.

Os dias se passaram não tão normais como Valentina gostaria... Bem, sua rotina no hospital continuava a mesma, os compromissos, os pacientes. Estava tudo igual para quem observava de fora, nada mudou. No entanto o coração da médica estava cada vez mais bagunçado, cada vez mais barulhento, mesmo que ela tentasse o calar ele vez ou outra falava mais alto e sua mente ia de encontro aquela noite em que viu Luiza novamente depois de muito tempo, respirava fundo com raiva de si mesma por lembrar do quão linda ela estava e de como seu coração bateu tão rápido ao vê-la ali em sua casa acompanhada de Priscila, uma mistura de dor, raiva e (sem poder negar) um pouco de ciúmes. Se pegou em alguns momentos lembrando até mesmo do perfume que a artista usava e se odiou por isso, se odiou por sua fraqueza em não conseguir odia-la como gostaria. Aquela mulher a fez chorar demais para que tivesse ainda espaço em seu coração, com essa certeza retirou o máximo daquela mulher que havia em si para poder seguir sua vida em frente, não comentou nada com a namorada, era melhor não expor essa situação, pelo menos era o que pensava e já estava de bom tamanho ter aguentado aquela noite sem surtar e gritar tudo que havia em seu coração, sem falar das noites em claro, dos choros que pareciam não ter fim, da dificuldade de seguir em frente... De tudo.

Por outro lado Luiza alimentava cada pequena lembrança que tinha da médica, queria e revivia tudo daquela noite, mesmo o mínimo detalhe ela fazia questão de reviver e tornar a imagem de Valentina mais próxima e real em sua mente a cada dia que passava. Continuou indo trabalhar na inauguração de sua galeria, precisava ajustar detalhes sobre o evento e mesmo com tantos afazeres sua mente não esquecia da mulher com quem havia até mesmo sonhado na última semana. Acordou suada demais para acreditar que havia sido apenas um sonho, entretanto era apenas seu cérebro lhe pregando uma peça.
Não procurou Valentina, não ligou, não mandou uma mensagem (tinha seu contato) não forçou qualquer aproximação, não queria ser uma pessoa que fica pressionando, sabia bem o que queria, mas estava disposta a esperar a hora certa para ter seu momento com a médica, tinha medo da rejeição e do rancor que a médica carregava por ela, entretanto precisava de uma chance de pelo menos se desculpar por tudo.

Neste momento parada no meio de sua galeria sorria contente pelo resultado do esforço e do trabalho pra chegar até ali, estava feliz com a conquista. Sentiu o peso da frase de Valentina no jantar em seu apartamento, sentiu que ela falava com rancor e doeu ouvir, mas sabia que não seria recebida com flores e beijos, tinha consciência do que fez e não era inocente sobre absolutamente nada do aconteceu no passado, suas escolhas lhe levaram ao céu e ao inferno e no inferno ela padeceu como nunca imaginou, mas já estava feito, não havia volta... não poderia voltar ao passado, no entanto gostaria da chance de mudar o presente, ao menos queria o perdão. Seguiria firme nesse propósito mesmo que sofresse o inferno novamente para poder pagar por seus erros.
Seu corpo esguio seguiu lentamente até uma tela de um pintor nordestino, as cores se misturavam na tela, retratava as ruas de Olinda no São João... observou a tela por longos minutos e sorriu suavemente suspirando logo em seguida, seus olhos correram por todo o espaço e fixou-se em uma tela em especial... Nela tinha os traços e figuras de vários olhos sobrepondo-se a vários corpos de todas as cores, tanto os corpos quanto os olhos eram de todas as cores e formas e em maior destaque um olhar intenso e verde a encarava de longe! Ele pertencia há ela, não era realista, não tinha a intenção de ser, mas quem conhecia bem poderia descobrir, aquela tela ela não venderia, estava ali apenas para ser contemplada por seus próprios olhos...

Diante de sua contemplação se perdeu nas memórias da dona daqueles olhos, não percebeu a chegada de Priscila que admirava a mulher com um sorriso contido nós lábios, sempre se derretia diante da artista... acreditava ser impossível se conter. Observou os cabelos de Luiza presos em um coque frouxo com alguns mechas caindo ao lado de seu belo rosto, estava usando um macacão leve e uma camisa branca com mangas dobradas até os cotovelos por baixo, os olhos ainda fixos na tela e os olhos da empresária presos nela.

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