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Capítulo 4

Londres, 2 de dezembro de 2022.

Paul e eu estávamos arrumando algumas caixas que ainda sobraram da mudança, que já havia completado seis meses, e aproveitamos para resgatar alguns enfeites de Natal do ano anterior para montar a decoração. A Liverpool Records havia me demitido em fevereiro, dois meses depois do casamento, mas em abril consegui um novo emprego numa agência de publicidade em Londres. Obviamente fiquei um tanto preocupada com a ideia de estar desempregada e ainda ter algumas contas do casamento a honrar, mas agradeci secretamente pela demissão. Aquele emprego ainda me trazia muitas lembranças de Namjoon.

E eu precisava esquecê-lo a todo custo.

A ideia inicial era trabalhar a maior parte do tempo em home-office, mas a agência ainda exigia que os funcionários trabalhassem presencialmente pelo menos duas vezes na semana e, coincidentemente, Paul havia recebido uma proposta para integrar a comissão técnica do time sub-15 do Arsenal, então resolvemos nos mudar de Liverpool para Londres definitivamente em junho.

Paul enfia a mão numa caixa aleatória, e dentre outras coisas encontra o que parece ser uma peça de roupa.

Uma camisa jeans, embalada numa sacola de plástico.

Meu coração saltou dois compassos fora do tempo.

- Gyu, veja isto... não me lembro de ter comprado essa camisa... você se lembra? Por acaso é do seu irmão? – estendeu-me a sacola empoeirada.

- Eu... realmente não me lembro, yeobo (4)... provavelmente ele deve ter esquecido aqui – menti, tentando entender por que diabos resolvi trazer aquela camisa pra casa.

Paul deu de ombros e continuou sua busca pelos enfeites.

Saí discretamente em direção à lavanderia. Retirei com cuidado a camisa da sacola, para não espirrar com a poeira, e chacoalhei levemente a roupa no ar.

Ela ainda tinha o cheiro dele.

Depois daquele dia em Ilsan, nunca mais voltamos a nos falar. Ele nunca mais me procurou ou retornou as mensagens que enviei pedindo desculpas. Passei então a evitar qualquer tipo de contato, qualquer notícia que me lembrasse dele, apesar de parecer algo quase impossível em pleno 2022, dado o sucesso mundial do grupo. Me afastei de qualquer indício do som da sua voz. Nunca mais ouvi suas músicas. Sabia apenas que em breve ele lançaria seu tão sonhado álbum solo, que inclusive era segredo também pra mim. Chegamos a trabalhar em algumas ideias iniciais com os rapazes do Honne durante o ano de 2020, inclusive estive no estúdio intermediando uma videoconferência com James, Andy e Namjoon. Mas as ideias ficaram engavetadas, em virtude dos projetos de Dynamite e Be, que passaram a ser a prioridade do grupo no auge da pandemia.

Chorei por incontáveis dias, não exatamente por mim, mas por tê-lo deixado naquele estado. Chorei ao ver seu rosto na TV, no dia do casamento, num programa de fofoca de celebridades, enquanto me arrumava para a cerimônia. As pessoas ao meu redor achavam que eu estava emocionada por estar vestida de noiva, mas na verdade era a dor que causei a ele me corroendo também. Ninguém sequer poderia imaginar.

Apesar de tudo aquilo, eu ainda tinha uma vida para viver com Paul. E acabar com aquele relacionamento era a decisão mais acertada para nós. Não queria que nada respingasse sobre a reputação de Namjoon. Ele tinha uma trajetória, uma carreira extremamente limpa e direita. Eu o amava e o admirava demais, a ele e a todo o grupo. Namjoon merecia todo o amor que houvesse no mundo. Mas eu não podia mais ser a tremenda cafajeste que estava sendo com Paul.

E então, enfim, deixei que o ano de 2022 afastasse todas aquelas lembranças.

Coloquei a camisa na máquina de lavar e, mesmo depois de seca, ainda havia resquícios daquele cheiro tão bom. Minha memória olfativa, então, me levou vividamente a sentir de novo o perfume que nossos corpos exalavam juntos, durante nosso sexo. Era como a fumaça de um incenso raro... Um aroma único, só nosso. A mistura da sua alma com a minha.