1

68 3 0
                                    

Desde que me mudei para a casa do meu namorado, minha rotina parece ter se estagnado. Os dias se arrastam entre brigas frequentes, idas e vindas do trabalho e os finais de semana turbulentos.

Hoje, especificamente, é 22 de setembro, uma sexta-feira. Estou sentada no sofá, abraçando minhas pernas, fixando meu olhar na porta enquanto o tic-tac incessante do relógio de parede preenche o silêncio. Posso sentir minha respiração calma contrastando com o ruído constante. Tudo está arrumado, cada coisa em seu lugar. Enquanto aguardo sua chegada, tenho alguns preciosos minutos de paz para ponder pensar sobre como devo me comportar quando ele voltar.

Não adianta, percebo que minhas convicções divergem de minhas ações.

Meninas, não permitam que seus sentimentos sejam sufocados como os meus foram. Uma vez é suficiente para se tornar uma série de vezes. Aqui estou, presa em um relacionamento tóxico e asfixiante.

Seria simplesmente partir sem olhar para trás, sem dizer adeus. Mas como? Já tentei sair inúmeras vezes, arrumei minhas malas quatro vezes, tentei sair sete vezes. Falhei miseravelmente duas vezes, iludida pelas promessas de mudança. Nas outras cinco tentativas, ele me encontrou e me trouxe de volta. Um dia, sairei deste inferno e nunca mais olharei para trás. Nunca mais.

Minha mente estava em um transe, sem desviar o olhar, até que a porta se abriu.

— Vamos lá...

Suspirei, sentindo a moleza nos meus músculos. Acomodei-me no sofá e levantei-me, encarando-o sem expressão alguma.

— Boa noite, meu amor – disse, enquanto se aproximava. Tirei meu casaco e o joguei no chão, descalcei os sapatos e as meias, deixando-os sobre o casaco. Ele tocou meu pescoço, puxando-me para perto com um sorriso malicioso.

— Boa noite... Meu dia foi igual. E o seu? – respondi, com meu olhar tranquilo, apenas desejando que tudo aquilo passasse rapidamente.

— Foi tedioso. Você não estava comigo.

Aquilo deveria ser romântico? Já não parecia mais ele. As coisas perderam o sentido desde que seu verdadeiro eu foi revelado.

— Você parece uma bonequinha assim. E essa expressão horrível também. Mude isso. Quero ter uma boa noite.

Ele me soltou e seguiu em direção ao quarto, e eu o acompanhei. Em casa, há certas regras chatas: enquanto ele fala, é melhor eu ouvir com atenção para evitar problemas.

Ele foi até a porta do quarto e, ao entrar, deixou-a aberta, assim como fizera com a porta da frente. Era claramente intencional; eu sabia disso. Sabia que ele bagunçava tudo de propósito.

Enquanto desabafava sobre suas frustrações no trabalho, ele tirava a gravata, as calças e a camisa, deixando-as jogadas no chão. Quando finalmente entrou no banheiro, suspirei aliviada por ele ter parado de falar.

Fui até as roupas que ele jogara e as recolhi, colocando-as no cesto de roupa suja. Eu sei, eu sei... "Por que? Por que você permite que ele te trate desta maneira?"

Um dos motivos, apenas um entre muitos, e não vou mencionar todos. Um deles é que... Quando tínhamos um relacionamento saudável, éramos sexualmente ativos. Tínhamos uma conexão intensa, cheia de amor, ao contrário do que acontece agora.

Costumávamos ter certos fetiches, como tirar fotos durante o ato. Era algo só nosso, íntimo. Porém, quando ele começou a mudar comigo e decidi partir, ele simplesmente publicou um vídeo nosso, onde só eu aparecia claramente. Algo que ele havia gravado.

Perdi meu emprego por causa daquele vídeo, ele me ameaçou com mais exposição. E se eu voltasse, ele apagaria a publicação.

Foi extremamente frustrante. E agora estou aqui, limpando a bagunça que ele faz em casa, enquanto penso que um dia posso explodir e perder o controle de vez. Quero ver quem tentaria me conter. Ah... pensar é tão simples...

Frustrada, coloquei as mãos na cabeça e desci para arrumar a mesa de jantar. Uma das regras era que eu precisava jantar junto com ele, e essa regra era sempre cumprida, embora nem sempre ele gostasse da minha comida.

Ele comia em silêncio, sem fazer nenhum comentário, o que sempre me intrigava. Mas então, ele quebra o silêncio.

— Você fez o jantar que horas? – ele me olha, interrompendo a mastigação.

— Às 21 horas. Como sempre – respondo. É o horário aceitável, já que a partir das 21 horas, ele está a caminho de casa.

Ele gentilmente coloca os hashis na mesa, pega o prato e o arremessa com força em minha direção. O barulho do prato caindo no chão ecoa na sala.

— Está horrível, salgado e frio. Nem uma macarronada decente você consegue fazer!?

Sentia o macarrão quente escorrendo pelo meu rosto até os braços, mas não questionava. Sabia que ele fazia isso de propósito.

É assim todas as vezes, dia após dia, noite após noite. Nada muda. Já deletei os vídeos que ele tinha de mim, mas infelizmente ele os tem no notebook do trabalho, que fica na empresa.

Amanhã será mais do mesmo. Sei que sou uma vergonha para mulheres independentes e decididas. Uma vez que eu o desafie, quem levará a pior será ele.

Ele se levanta e fala enquanto sobe as escadas.

— Limpe tudo.

Não aguento mais isso...

(...)

Abri os olhos ao som do despertador, mais um dia se inicia. Desliguei-o antes que ele acordasse. Arrumei meu espaço na cama e segui para o banheiro. Após fechar a porta, dirigi-me ao box e liguei o chuveiro, começando meu banho matinal.

Essa é a rotina de sábado: limpar o banheiro logo ao acordar. Mesmo mantendo a casa limpa, é preciso limpar tudo novamente e rearranjar os móveis.

Após limpar o banheiro, lavei os cabelos, fiz minha higiene pessoal e apliquei pomada nos meus machucados. Quando saí do banheiro, ele já estava acordado e passou por mim, indo direto para o banheiro, sem dizer uma palavra.

Durante a tarde de sábado ou domingo, costumamos sair juntos para tomar um café, sorvete ou apenas comer em algum restaurante. "Ah, mas vocês saem como um casal normal." Sim, saímos juntos, porque aos olhos dos vizinhos, ele quer aparentar ser um bom homem.

Saímos para tomar sorvete e já estávamos voltando, pois o anoitecer se aproximava.

Em cada lugar, eu buscava desesperadamente por ajuda com meu olhar e transmitia desconforto através da linguagem corporal.

Às vezes, fechava meu punho com raiva, pensando que teria que retornar para casa mais uma vez.

Em alguns momentos, passava um filme na minha cabeça: eu confrontando-o e partindo.

"Eu não vou voltar para lá."

Mas, infelizmente, acabou acontecendo.

Soltei sua mão e parei de andar, encarando-o.

— Chega.

— O que?

Vejo-o parar, confuso.

— Eu disse que já chega! Eu não quero mais isso.

— Como assim? Vamos logo, a gente conversa em casa, aqui não.

Ele se aproxima, segurando minha mão e me puxando novamente.

— Já falei! Pare de me puxar! - Puxo meu pulso para junto do meu corpo e, assim que ele se vira, desferi um tapa em seu rosto.
Eu pensei que, por estarmos na rua, ele não seria louco o suficiente para me machucar, mas estava enganada. Ele ignorou completamente a presença das pessoas ao redor e levantou a mão para me bater.

Encolhi-me, erguendo os braços para proteger meu rosto.

"Inacreditável..."

Após esperar cinco segundos, abri os olhos, ainda atordoada.

— q-que?

Um homem alto, tão alto quanto Lee Kwan, meu namorado falso, estava diante de nós. Era completamente desconhecido para mim. Eles estavam se encarando há cerca de dez segundos.

— O que você está fazendo? Estava conversando com minha namorada, por que você se meteu? Você a conhece?

Perguntou Lee Kwan.

interest of a mobster (Jk)Onde histórias criam vida. Descubra agora