"A saudade é de cor lilás. É como dor que não tem remédio, é ter frio sem agasalho." ─ Jane A. Leal
#AquareladeDândi
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O vento gélido da noite adentrava pela janela aberta, fazendo o corpo pálido e descoberto tremer. Seu rosto estava escondido entre suas pernas que eram abraçadas por seus braços. Balançava seu tronco para frente e para trás no ritmo contínuo, enquanto o choro silencioso inundava o quarto.
O frio e o barulho da janela não incomodavam o corpo que estava a balançar, parecia não haver vida se não fosse pelos movimentos. Os olhos dilatados brilhavam entre a escuridão de seus braços, as lágrimas pintavam o rosto bonito com a transparência salgada, carregando a dor dos seus pensamentos conturbados.
Jimin já chorava a minutos, talvez horas, posteriormente seu rosto amanheceria inchado e com olheiras visíveis, coisas que ocorriam com muita frequência. Não passava das duas da madrugada, era comum acordar no meio da noite por seus pesadelos carregados de memórias passadas.
Acordava suando, chorando e assustado, decepcionado por ainda permanecer ali, e não nas memórias que eram tão vivas em seus sonhos. Queria voltar para lá, era tão feliz e caloroso, mas sempre que acordava era um choque de realidade.
Parou de balançar subitamente, ao levantar seu rosto tomou o ar que estava lhe faltando, parecia sufocá-lo. Direcionou seu olhar para a janela aberta, avistando ali a lua grande e brilhante, mas também solitária, apesar dos pontinhos luminosos ao seu redor, ela ainda assim parecia só, como ele.
Tomou apoio do chão para se levantar e caminhou até a janela, onde enxugou suas lágrimas e passou a observar a madrugada fria.
Apoiou seu queixo em sua mão esquerda, enquanto o dedo indicador da outra começou a deslizar pela madeira de seu observatório particular. Seu semblante, apesar do momento anterior ser o contrário, agora transparecia calma, respirava devagar e seu coração batia normalmente.
Sua memória vagava nas lembranças, estava extasiado ao mergulhar em uma em específico, carregando a saudade e o conforto caloroso daquele momento vivido.
─ Mamãe, posso ajudar? ─ só era possível ver do outro lado da mesa os olhinhos pidões brilhando, o nariz pequeno e empinado cheio de sardas claras e a cabeleira loira, que mais parecia um ninho de pássaros.
─ Você é pequeno demais para isso, meu sol. ─ respondeu a mãe, batendo a massa do bolo com o fouet amarelo. Logo ela é surpreendida, forçando- se a parar para observar os movimentos instigantes do filho.
Jimin rapidamente vai parar ao seu lado, puxando uma cadeira de madeira para subir, e mesmo com um pouco de dificuldade, ele consegue. Se segurando para não cair, ele sobe dessa vez para a mesa, se acomodando lá mesmo. Ela estava de guarda caso o filho caísse, mas quando ele soltou um sorriso divertido, ela sorriu de volta, relaxando.
─ Agora não sou mais pequeno. Posso ajudar, mamãe? ─ ela fica surpresa com a fala esperta, mesmo que a inteligência e rapidez do filho já houvessem sido despertadas há um bom tempo. Ela sorriu e permitiu que o filho quebrasse as barras de chocolate que seriam usadas para a cobertura do tão delicioso bolo de cenoura.
─ Vai sobrar chocolate? ─ perguntou esperançoso, com os olhos brilhando novamente, dessa vez as sardas pareciam brilhar também, a combinação perfeita para não receber uma recusa de sua pergunta cheia de segundas intenções.
─ Sempre sobra, sol.
Quando bateu a tardezinha, ambos sentaram no pano estendido sobre a grama verde no quintal dos fundos da casa, onde faziam um piquenique improvisado, com suco, frutas, alguns salgados e o bolo de cenoura com cobertura de chocolate que haviam preparado mais cedo.
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Duas Pontas Ao Inferno | jjk+pjm
Fanfiction[EM ANDAMENTO] Nascimento, destino, pessoas, laços, amores, passado, morte. A vida ainda é uma incógnita para muitos; outros não sabem qual a diferença entre viver e existir, duas coisas totalmente distintas. Em contrapartida, poucos vivem ela de...