— Izzy? — chamou uma voz masculina. Os músculos da platinada relaxaram assim que ela reconheceu a voz, era Yue, o rapaz que a salvou quando criança — Neera disse que você estava aqui, posso falar com você?
A mais nova fechou o livro, não se importando muito em se perder nas páginas e o escondeu por baixo de seu vestido, ajeitando sua postura e respirando fundo.
— Estou aqui! — a garota respondeu ao chamado, um tanto quanto aliviada pela companhia do amigo de longa data. Ele costumava ser gentil e compreensivo com ela, porém sempre foi grosseiro e agressivo com sua irmã mais nova, ela demonstrava insatisfação todas as vezes que ele era grosseiro com a garota, porém, lá no fundo, isso fazia com que ela se sentisse especial. Talvez ser escolhida também lhe desse essa sensação.
Em meio aos escuros corredores, o rapaz de cabelos ruivos emergiu, ele tinha um jeito estranho de andar, uma de suas pernas parecia menor que a outra, fazendo com que ele andasse mancando. Os olhos dele se iluminaram assim que foram de encontro com os da platinada, ele se aproximou com as mãos no bolso e encostou sua perna na redonda mesa a olhando de cima com um sorriso gentil.
— Achei que me daria um abraço — comentou decepcionada.
— Não vou correr o risco de acordar morto amanhã — gracejou o rapaz entre risadas sinceras, mas elas foram sendo silenciadas assim que ele percebeu a garota em silêncio o observando com aflição — certo, melhor não brincar com isso.
— Obrigada — Izzy agradeceu e logo após suspirou um pouco chateada com a brincadeira — bom, por que veio me procurar? Não diga que sentiu saudades! — brincou a garota na tentativa de amenizar o clima, o rapaz soltou um leve riso.
— Talvez, mas o motivo principal é outro, acredito que você vai gostar de ouvir! — respondeu eufórico o rapaz que deixou de se apoiar na mesa e retirou suas mãos do bolso — Louise sumiu! — revelou imensamente animado.
Izzy o olhou séria, não havia raciocinando direito a revelação, nem entendido qual seria a reação esperada pelo ruivo.
— C-como?...O galopar dos cavalos era quase ensurdecedor, assim que Neera saiu da biblioteca e adentrou o jardim, foi abordada por Ezekiel que agarrou seus dois braços e a chacoalhou em desespero, para depois dizer: — Neera, você viu a Louise?
Após Neera negar com a cabeça, seu pai a soltou levando as duas mãos a cabeça, sua respiração estava extremamente descompassada, ele estava prestes a ter uma crise ali mesmo, quando a morena se aproximou dele e tocou seu rosto.
— Se acalme, não resolverá isso entrando em desespero. Vamos nos atentar a isso após você recobrar o controle, está bem? — sugeriu a garota, seu pai se acalmou rapidamente. Ele nunca havia se desesperado tanto quanto naquele momento, pois mesmo que ele estivesse casado com Louise de modo forçado, o tempo o fez criar um apreço pela mulher, ela era sua família, a base dela e ele precisava protegê-la, respeitá-la e fazê-la feliz, esse era o dever dele e ele sempre fracassou, a mulher sempre deixou isso claro para ele, porém ele sempre a manteve protegida e a respeitou, mas naquele momento, o pouco que ele fazia pareciam ter sido feito em vão.
Após algumas horas, reuniram-se os irmãos, exceto Yue que se recusou a participar das buscas, Ezekiel e alguns homens de famílias pobres que estavam ali somente pela recompensa prometida pelo pai dos Monsli.
Ezekiel montava um cavalo musculoso, completamente preto, não havia crina e seu rabo era curto, porém o que realmente chamava a atenção era o seu estranho cansaço, Klaus e Castiel o acompanhavam em seus cavalos malhados, estes eram mais lentos, porém faziam curvas melhores, Neera preferiu diminuir sua velocidade, observando seu pai e irmãos mais velhos avançando floresta adentro, por último, os irmãos mais novos, gêmeos idênticos, andavam com seus pôneis trotando e riam muito, faziam piadas entre si que somente eles entendiam, suas risadas eram realmente contagiantes e altas, eles acompanhavam a seu tempo os rapazes, pareciam desatentos a morena e se aproveitando disso, ela resolveu explorar os arredores da floresta em vez de se enfiar dentro dela.
Neera está montada em uma égua jovem e tranquila, sua cor é branca e sua crina tão dourada quanto o ouro, as duas rondam com atenção a floresta, não havia sinal algum de Louise, porém durante sua vistoria, foi possível enxergar um vulto branco entre as árvores, era semelhante ao visto por ela na biblioteca, porém este era mais robusto e alto, a égua pareceu não notar.
— O que será isso? — sussurrou para si mesma a mais nova. Havia muitas coisas curiosas diante de seus olhos. Ela se perguntava se elas começaram a surgir a partir do momento em que foi liberada de suas tarefas ou sempre estiveram ali.
Com um suspiro, a garota resolveu se concentrar na imagem de sua mãe na última vez que a havia visto. Ela parecia indecisa sobre algo, focada no defeito e motivo para tantos fracassos, por fim, chegou a conclusão que o motivo de tudo aquilo era seu marido Ezekiel, possivelmente ela havia fugido por conta dele, mas qual seu objetivo?— Não está feliz? — perguntou Yue. O ruivo parecia um pouco confuso com a expressão de Izzy, talvez ele tivesse fantasiado de mais.
— Olha, eu não gosto dela, mas isso não significa que eu ficaria feliz em saber que ela desapareceu! — exclamou a platinada que se levantou rapidamente do banco em que estava sentada. Seu corpo paralisou ao escutar o barulho de algo caindo, quando ela olhou para o chão, viu que o barulho vinha do livro que antes estava escondido.
— O que… Por que isso estava dentro do seu vestido?! — perguntou perplexo o rapaz.
— Não mude de assunto! — acusou Izzy se abaixando e pegando rapidamente o livro, mantendo o mesmo junto ao seu peito.
— Eu não… ! Pelo amor, o que está acontecendo?! Por que está agindo assim?! O que é isso na sua mão?! — Questionou o ruivo, ele não parecia com raiva, apenas chateado com a menor, ele parecia se sentir traído, de certo modo.
— Eu… — sussurrou sentindo um pingo de culpa surgir em seu peito, como aquela conversa inocente havia tomado tal proporção? — Não te interessa! — exclamou comprimindo os lábios e passando por ele rapidamente, correndo desesperada ela saiu da biblioteca.
Yue a observou se retirar correndo, ele cruzou os braços e resmungou palavrões, o que será que ela pensava sobre ele? Ela o via como ameaça para correr assim? Ele nunca a impediria de seguir seu caminho, ele nunca poderia a alcançar com aquela deficiência e mesmo se pudesse, não o faria.Já haviam se passado algumas horas, a lua se fazia presente no céu e velozmente as estrelas começaram a surgir, Neera não conseguiu investigar tudo o que a floresta guardava, pois ela é realmente grande, entretanto agora ela se encontrava ao lado do altar de sacrifício, ele parece tão banal aos seus olhos agora, talvez ele só tenho significando, quando as pessoas lhe dão um.
Neera desceu da égua e soltou o cabresto tendo plena consciência de que a mesma não fugiria, então se aproximou do altar, o sangue havia sido limpo assim como o vômito, a pedra estava como nova.
— O que faz aqui? — uma voz rouca emergiu, os grandes olhos negros desviaram em direção a voz, a nos livros viu o senhor que apresentava os sacrifícios, ele portava uma expressão empolgada em vê-la — não costumo receber visitas, elas aparecem de 3 em 3 anos… Você veio me visitar, certo? — explicou, ao final de frase quando fez a pergunta, o homem pareceu a ameaçar com um sorriso hostil, sabendo que seria o mais racional, Nera concordou com a cabeça — perfeito! — exclamou com empolgação o homem — o que acha de tomar um chá na minha casa? É aqui perto, é só…
— Vou ter que recusar, vim aqui apenas ver como o senhor estava — interrompeu a garota com uma mentira. O homem olhou para ela um pouco frustrado, mas suspirou fundo e sorriu de forma gentil cruzando os braços.
— Certo, isso é melhor que nada — deu de ombros — eu estou perfeitamente bem, garotinha e você? — com paços quase imperceptíveis, o homem se aproximava dela.
— Perfeitamente bem — mentiu a morena. Não havia como o homem notar suas mentiras, afinal ela sempre tinha a mesma expressão e desde que começou a falar, não houve mudanças de tonalidade em sua voz.
— Mentirosa — concluiu o mais velho, que estava do outro lado da pedra a olhando com seriedade — não sabia que os jovens de hoje em dia poderiam mentir tanto — a decepção em sua voz era notável — sei que não veio me ver, mas está em busca de sua mãe, não é?
— Não — negou a suposição do mais velho, ela não se entregaria tão facilmente, aquilo poderia ser apenas um blefe — estou aqui para saber se estava bem, como disse anteriormente — reforçou a Monsli com confiança.
— Criança orgulhosa, sabia que eu converso com a floresta? — perguntou o homem soltando seus braços e os apoiando sobre a pedra — se você ficar calada, por um minuto que seja, pode escutar as árvores e animais falando, eles gostam de te observar porquê você não os observa.
VOCÊ ESTÁ LENDO
criada para o sacrifício, feita para a caça.
FantasiaNeera, a sexta filha da casa Monsli, membro do clã Malat, impotente logo após alcançar aquilo pela qual foi criada, nota que a partir daquele momento, não havia escapatória , todos os segundos de sua vida foram dedicados em prol desse único objetiv...