03 | Seria engraçado, se não fosse trágico

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Não sei a que horas as meninas do meu quarto chegaram ontem à noite. Ouvi breves conversas entre elas, mas não fiquei acordada por muito tempo.

Voltei as costas para as vozes e adormeci novamente.

Hoje, acordei primeiro que todas elas com o leve zumbido do alarme do meu telemóvel. São cinco e meia da manha e sinto uma leve dor de cabeça. O jet lag é real, mas gosto de acordar cedo e não sinto sono agora, apenas cansaço.

Gosto de começar os meus dias com um devocional, mas hoje farei ligeiramente diferente.

Tomo um banho fresco, coloco uma roupa prática e após pentear os meus cabelos pretos que me chegam até aos ombros, de lavar os dentes e arrumar todas as roupas que deixei espalhadas pelo quarto, saio do mesmo.

Fiz tudo isso em silêncio e nenhuma menina acordou com os meus movimentos pelo cómodo.

Agora consigo abrir a porta sem qualquer problema, pois as cinco chaves estão sobre a mesa. Que conveniente...

Ando pelo corredor longo e iluminado e aperto o botão para chamar o elevador. Ele rapidamente aparece e entro na caixa metálica. Na grande sala de entrada do hotel só estão as pessoas que aqui trabalham, pois ainda é muito cedo. Digo "bom dia" em francês às que vão passando por mim e recebo sorrisos e comprimentos de todos.

Penso em mandar uma mensagem à Aline, mas se ontem à noite, ninguém deu pela minha ausência, hoje também não o farão. Se ninguém respondeu às minhas mensagens no grupo que temos em conjunto, não me darei ao trabalho de escrever lá alguma coisa agora. Se preferem que eu fique no meu canto, assim farei.

Então, saio do hotel e observo as horas no meu telemóvel. São 6:30 da manhã e já existem várias pessoas e carros a andar de um lado para o outro. É, na verdade, só mais uma cidade que nunca dorme.

Procuro na aplicação de mapas algum café ou padaria que venda pequenos-almoços bons e baratos. Depois de uma pequena e rápida pesquisa, encontrei uma pastelaria que me agrada e que é perto do lugar onde estou.

Percorro as ruas, observando tudo ao meu redor. Os rostos das pessoas, como se vestem, como agem... são pessoas iguais a mim, mas tão diferentes. A cultura europeia é completamente diferente da americana e acho isso tão fascinante.

As roupas, a forma de falar e de andar são coisas tão iguais, mas, ao mesmo tempo, tão diferentes. Parece um mundo construído à parte, mas que é muito belo.

Encontro a fachada da padaria com o letreiro por cima da porta: Marie Blachère em letras finas e bem desenhas. Assim que entro na loja sou recebida pelo cheiro de pão fresco e quente. As cores são neutras e confortáveis, fazendo com que o convite a entrar seja mais forte e apreciado.

A pastelaria já tem algumas pessoas sentadas e como vejo que há serviço de mesas, escolho um lugar para me sentar. Nas mesas existe uma cartela com o menu e, com o pouco conhecimento que tenho de francês, começo a ponderar a minha primeira refeição do dia, mas agradeço a quem teve a ideia de colocar as imagens dos pratos ao lado das palavras que são desconhecidas para mim. É muito mais fácil para quem tem quase zero conhecimentos nesta língua estrangeira.

Quando entrei no café, um sino tocou e esse, para além das conversas, é o som que mais se ouve por aqui. Há também uma leve música a tocar. Artistas franceses com melodias de violinos ecoam através das colunas escondidas e isso torna o ambiente ainda mais aconchegante.

Bonjour, mademoiselle — um empregado de mesa aparece perto de mim e sorri simpático. — Savez-vous déjà e que vou allez commander?

Aquela noite em Paris (romance cristão) - Degustação.Onde histórias criam vida. Descubra agora